Primeirização é urgente

Estudo do Dieese revela que custo com plataformas afretadas é igual ou até maior do que o da Petrobrás

Foto: Geraldo Falcao/Agência Petrobras

Ao comparar os gastos que a estatal teve no primeiro semestre de 2023 com plataformas contratadas e próprias que operam na Bacia de Campos, o estudo demonstrou que, nem mesmo sob o ponto de vista meramente econômico, o afretamento se justificaria. A situação se agrava ainda mais, no que diz respeito à qualidade dos empregos, à política de conteúdo nacional e à soberania energética

[Do boletim Nascente, do Sindipetro NF]

A pedido da Imprensa do NF, a subseção Dieese/NF fez um levantamento de custos da produção de petróleo e gás em unidades operadas pela Petrobrás e em unidades afretadas, quando a companhia terceiriza a operação. A comparação revelou que, no primeiro semestre de 2023, o custo foi maior nas afretadas em dois de três níveis de profundidade das áreas de exploração — e em um terceiro, apenas foi igual.

Neste período, os custos de extração médios de cada barril de óleo equivalente (boe) em terras ou águas rasas foram iguais para plataformas próprias e afretadas pela Petrobrás, de US$ 15,21. No entanto, este mesmo custo no pós-sal profundo e ultra profundo nas plataformas afretadas foi 14,46% mais caro do que em nas plataformas operadas pela Petrobrás, de US$ 12,93 contra US$ 14,8 por barril de óleo equivalente.

Na maior fronteira de exploração, o pré-sal, a distância entre o custo da Petrobrás e o custo da operação afretada é ainda maior. Também no primeiro semestre de 2023, o custo de extração médio de cada barril de óleo equivalente (boe) nas plataformas afretadas foi 52,15% mais caro do que em suas plataformas próprias, de US$ 3,72 contra US$ 5,66.

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Soberania

Na avaliação do Sindipetro-NF, os dados mostram que nem mesmo sob o ponto de vista meramente econômico o afretamento se justificaria. Para a entidade, no entanto, o problema é muito maior, e diz respeito à qualidade dos empregos, ao estímulo ao desenvolvimento brasileiro e à soberania nacional.

“Há aspectos que são difíceis de quantificar. A Petrobrás tinha suas plataformas próprias, até mandava fazer aqui no Brasil, isso agregava conteúdo local , desenvolvia a indústria e chamava para si a responsabilidade, da empresa operar, contratar, ter um quadro grande e qualificado de trabalhadores. Quando ela toma a decisão de afretar, acaba enxugando no seu quadro, precisando de cada vez menos trabalhadores próprios, buscando ter cada vez menos responsabilidade sobre tarefas específicas da operação, transferindo isso para uma terceira que passa a fazer tudo, inclusive uma terceira que é multinacional, que é de fora. Na prática, a estatal brasileira perde espaço”, avalia o economista Carlos Takashi, técnico do Dieese que fez o levantamento.

O Sindipetro-NF, assim como a FUP, escolheu como prioridade a luta contra os afretamentos. Como noticiado na edição passada do Nascente, em paralelo à Campanha Reivindicatória, a luta pela reversão desta política estará no centro da atuação sindical. Para entidade, este caminho contraria o projeto de reconstrução da Petrobrás eleito pelas urnas em 2022. Para o Norte Fluminense, por exemplo, a Petrobrás lançou edital de licitação para o afretamento de plataforma FPSO para o programa de revitalização dos campos de Barracuda e Caratinga. O NF e a Federação querem o cancelamento deste edital — que, inclusive, praticamente dispensa a necessidade de conteúdo local, por meio da isenção de multa em caso de descumprimento de uma previsão de 10%.