O ex-coordenador geral da FUP e atual diretor do Sindipetro Unificado, João Antônio de Moraes, aponta nesta entrevista os desafios do fundo de pensão da categoria petroleira
[Por Guilherme Weimann e Marcelo Aguilar, da comunicação do Sindipetro Unificado]
Entre os dias 25 de setembro e 9 de outubro, ocorrerá a eleição para o Conselho da Petros, que prevê duas vagas para o Conselho Deliberativo – órgão responsável pela aprovação da política geral de administração – e duas para o Conselho Fiscal – responsável por supervisionar os atos administrativos e operacionais.
Para ambos os conselhos, houve um esforço para agregar os candidatos que estão alinhados com os interesses dos trabalhadores na chapa “Unidade para o Futuro da Petros”, apoiada pela Federação Única dos Petroleiros (FUP), Federação Nacional dos Petroleiros (FNP), Confederação dos Marítimos (Conttmaf), Federação das Associações de Aposentados (Fenaspe), Federação Nacional dos Trabalhadores no Comércio de Minérios e Derivados de Petróleo (Fetramico) e Sindicato dos Trabalhadores no Comércio de Minérios e Derivados de Petróleo do Estado do Rio de Janeiro (Sitramico-RJ). Conheça os candidatos apoiados pela FUP e FNP.
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Essa ampla articulação tem como objetivo evitar com que candidatos alinhados aos interesses da Petrobrás (a principal patrocinadora da Petros) sejam eleitos, como ocorreu na última eleição. Foi essa uma das principais motivações para que o ex-coordenador da FUP e atual diretor do Sindipetro Unificado, João Antônio de Moraes, aceitasse concorrer a vaga de titular no Conselho Fiscal.
Confira abaixo a entrevista na íntegra:
Qual a importância de ter conseguido articular uma chapa unitária para representar os trabalhadores e trabalhadoras na Petros?
Penso que a possibilidade de construir uma chapa ampla com a FUP a FNP e várias organizações foi possível porque na última eleição a gente teve o dissabor de, por não ter conseguido construir a unidade, eleger representantes da gestão bolsonarista da Petrobrás. Foi uma gestão marcada pelo corte de direitos e pela redução da importância da Petros. Isso fez com que essas organizações entendessem que era o momento de não ter vacilo, nem arriscar. É um momento muito importante.
As questões da Petros e da AMS são levantadas como prioritárias pelos petroleiros e petroleiras. Quais as principais pautas que a chapa está colocando?
Realmente os temas do plano de saúde e do fundo de pensão são os temários que mais a categoria tem levantado. Não há dúvidas de que são pautas de interesse de todos e todas em geral. No caso da Petros, o maior problema são os equacionamentos. São vários os que estão em curso, que levam muitos aposentados a receberem o contracheque da Petros zerado. No caso da AMS, o mais grave são os descontos abusivos que a Petrobrás implementou durante a gestão bolsonarista, descontos cada vez mais vultosos que tem penalizado os trabalhadores e trabalhadoras. Outro problema é que a Petrobrás tirou o plano de Saúde que era gerido pelo RH, e o colocou para fora a mando de uma associação que não tem nosso apoio e nossa concordância.
A questão dos equacionamentos é um problema que atinge os participantes e assistidos e a categoria petroleira como um todo. É possível acabar com eles?
Nós vamos lutar pelo fim dos equacionamentos. Fizemos recentemente um grande ato com duas mil pessoas no Rio de Janeiro, que garantiu a abertura de um grupo de trabalho sobre o tema. Esse é apenas o primeiro passo, mas o objetivo é acabar de vez com os equacionamentos. Tem um grupo de trabalho que está se debruçando sobre a questão e vai apresentar propostas. O alcance vai depender da nossa capacidade de organização e luta. Uma questão bem grave são as ações, têm muitas contra a Petros, então no âmbito dessas ações é possível discutir, como nós já fizemos em 2017, quando sacramentamos um acordo que levou à repactuação, e naquela ocasião aportou cerca de seis bilhões de reais à Petros por parte da Petrobrás. Vamos querer trilhar esses caminhos, não sabemos até onde vamos chegar, mas sabemos o que queremos, o que já é um grande passo.
Recentemente, Henrique Jäger assumiu a presidência da Petros, um companheiro com vasta trajetória sindical, apoiado pela FUP. Como você, que sempre pautou a independência quando foi coordenador da FUP, enxerga essa relação?
O movimento sindical tem como um dos seus pilares a liberdade e a autonomia sindical, então, na autonomia do sindicato não se mexe, é algo sagrado sempre. Principalmente na relação com o capital. A relação com o fundo de pensão é um pouco diferente, porque o fundo é nosso. Não estamos discutindo com o patrão, o dinheiro está lá e é dos trabalhadores e das trabalhadoras. Foi uma grande batalha para a gente conseguir que o companheiro Henrique Jäger assumisse a presidência da Petros, porque a gestão bolsonarista inseriu, não só na Petrobrás, mas também na Petros, blindagens para que só fique à frente do fundo o chamado mercado. E quem é o mercado? O mercado são os ricos. Então, a gente sabe que, se Bolsonaro fosse reeleito, eles passariam o patrimônio da Petros para os bancos. Era esse o destino que estava colocado. Por isso, a eleição do presidente Lula possibilitou que a gente tenha agora esse espaço. Autonomia sempre, mas é importante ter a clareza de que a Petros não é a Petrobrás. O dinheiro é dos trabalhadores, portanto a direção da Petros tem que saber que o que está ali é nosso e eles tem que escutar os trabalhadores.
Sua trajetória no movimento sindical petroleiro é vasta. O quanto essa experiência pode contribuir para desempenhar a importante tarefa em defesa dos trabalhadores no Conselho da Petros?
A experiência no movimento sindical nos traz um compromisso muito grande de olhar o desejo do conjunto da categoria e estar sempre comprometido com ele. Eu não consigo me enxergar fora do movimento sindical, está na minha gênesis. Esse é o ponto central quando um sindicalista com longa trajetória assume um papel como esse. Caso seja eleito, eu levarei o olhar do mundo do trabalho para a gestão do nosso fundo de pensão. É preciso saber ouvir, respeitar as decisões e lutar sempre pelo melhor para a categoria petroleira e para a classe trabalhadora como a gente sempre fez no sindicalismo. O papel do Conselho Fiscal é acompanhar, observar, fiscalizar a parte contábil do fundo de pensão, mas eu não quero me restringir a isso. Porque temos desafios coletivos. Nem eu, nem o Silvio Sinedino estamos nos candidatando por vontade própria, não é um projeto pessoal, é um projeto coletivo e como tal tem os seus compromissos e tem os seus instrumentos. É muito difícil uma pessoa isoladamente, por mais bem intencionada que ela seja, conseguir fazer as batalhas que precisamos fazer. Então, ter junto conosco as organizações é fundamental para que a gente consiga fazer um bom trabalho. O que vivemos nos últimos anos foi um absurdo, a Petrobrás e a Petros viraram as costas para quem construiu essa empresa tão importante para o Brasil.