Frustração

Quatro anos após o fechamento da Fafen PR, trabalhadores ainda lutam pela sua retomada

Foto: Sindipetro PR/SC

A FUP e o Sindiquímica PR participam no dia 05 de fevereiro de uma audiência de conciliação no TST com representantes da Petrobrás. Esta semana, Lula mandou o recado para o presidente da empresa: nenhum companheiro demitido ficará para trás

[Por Alessandra Murteira, da imprensa da FUP]

O dia 14 de janeiro de 2020 é um trauma ainda presente na vida de cada um dos trabalhadores que atuaram por mais de 20 anos na Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados do Paraná (Fafen-PR). Era o início do segundo ano do governo Bolsonaro, um pouco antes da pandemia da Covid-19 se alastrar pelo mundo, quando a gestão da Araucária Nitrogenados, a Ansa, subsidiária 100% da Petrobrás, comunicou que a unidade seria fechada e os trabalhadores, demitidos.

O anúncio desestruturou cerca de mil famílias de petroquímicos e metalúrgicos, que até hoje sofrem as consequências de uma decisão arbitrária, que empurrou o Brasil para uma dependência ainda maior das importações de fertilizantes.

A categoria petroleira resistiu como pode. Trabalhadoras e trabalhadores de todo o Brasil se mobilizaram em assembleias convocadas pela FUP, aprovando o indicativo de greve e cobrando a reversão do fechamento da Fafen-PR e a manutenção dos postos de trabalho.

Por mais de 30 dias, os petroquímicos permaneceram acampados em frente à fábrica de Araucária, se revezando em uma vigília permanente para impedir o fechamento da unidade. Na sede da Petrobrás, no Rio de Janeiro, quatro dirigentes da FUP e um diretor do Sindiquímica PR ocuparam por 21 dias uma sala do andar da Gerência de Recursos Humanos, cobrando negociação para buscar alternativas para preservar os empregos. De Norte a Sul, petroleiros e petroleiras realizaram uma greve emblemática, a segunda maior da história da categoria.

Relembre aqui como foi a greve de fevereiro de 2020 e sua importância na luta contra as privatizações

Desde então, a FUP e seus sindicatos vêm se mobilizando para reabrir a Fafen e garantir a recontratação dos trabalhadores demitidos. Em 2022, em reunião com o então candidato Lula e sua equipe de campanha, as lideranças sindicais petroleiras tiveram o compromisso de que a unidade seria reaberta e a Petrobrás voltaria a ter protagonismo no setor de fertilizantes.

CA da Petrobrás aprovou a reabertura da Fábrica

No primeiro ano do governo Lula, a esperança foi renovada e a expectativa dos trabalhadores era de voltar a pisar o chão da fábrica, reconquistando a dignidade e seus empregos para que voltassem a contribuir com o desenvolvimento do país.

No entanto, passado um ano de governo, a Fafen PR segue hibernada, apesar dos diversos compromissos assumidos pela atual gestão da Petrobrás de que a fábrica será reativada.

Em novembro, quando o Conselho de Administração aprovou o novo planejamento estratégico da empresa, prevendo a reabertura da Fafen de Araucária, a FUP e o Sindiquímica PR apresentaram à Diretoria Executiva de Processos Industriais e Produtos um parecer jurídico orientando que a retomada da fábrica seja realizada pelos trabalhadores que têm larga experiência e conhecimento da planta, recomendando, por motivos de segurança, a recontratação dos empregados que foram demitidos em 2020.

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Há quinze dias, em novo documento encaminhado à mesma diretoria da Petrobrás, a FUP tornou a enfatizar a necessidade de envolvimento das representações sindicais no planejamento e acompanhamento da reativação da Fafen PR.

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“Colocaram a raposa para tomar conta do galinheiro”

“Apesar de todas as interlocuções realizadas, não temos ainda nada de concreto até agora. Só promessas e, o que é mais preocupante, colocaram a raposa para cuidar do galinheiro”, afirma Ademir Silva, diretor da FUP e do Sindiquímica PR.

Ele refere-se a antigos gestores da Araucária Nitrogenados, que, apesar de terem executado todo o processo de fechamento da fábrica e de demissão dos trabalhadores, estão ocupando posições de relevância na Diretoria Executiva de Processos Industriais e Produtos. “O mesmo gerente que perseguiu e demitiu os trabalhadores e serviu de correia de transmissão da gestão bolsonarista continua nos prejudicando, boicotando a reabertura da fábrica”, revela.

Lula avisou: nenhum companheiro demitido ficará para trás

Na quinta-feira, 18, durante a cerimônia de retomada das obras de ampliação da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, o presidente Lula mandou um recado direto para Jean Paul Prates, presidente da Petrobrás: “uma coisa que você tem que fazer, tente descobrir cada funcionário que foi mandado embora daqui e traga ele de volta”.

Lula afirmou que sabe “o que os sindicatos de petroleiros e a FUP passaram” e reiterou que “o nosso lema é ninguém solta a mão de ninguém e ninguém deixa um companheiro para trás”.

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Audiência de conciliação no TST

Em meio ao impasse, a FUP e o Sindiquímica PR participam no dia 05 de fevereiro de uma audiência de conciliação com representantes da Petrobrás no Tribunal Superior do Trabalho (TST). A reunião foi convocada pelo ministro do TST, Maurício Godinho Delgado, em resposta à Ação Civil Pública em que os trabalhadores denunciam a Araucária Nitrogenados por danos morais e ambientais. A denúncia foi acolhida pelo Ministério Público do Trabalho do Paraná, que também participará da audiência de conciliação.

“Esperamos poder discutir com a Petrobrás a importância da recontratação dos trabalhadores demitidos para que a retomada da Fafen seja feita o quanto antes e com toda a segurança. Os detalhes apresentados no parecer jurídico que apresentamos à Petrobrás respaldam que a expertise única desses empregados é essencial para viabilizar a retomada da unidade e a partida operacional”, declara Ademir, reforçando o que o presidente Lula afirmou: “ninguém solta a mão de ninguém”.