Segundo o site de notícias britânico, Independent, o governo do primeiro ministro, Boris Johnson, está cogitando nacionalizar temporariamente as empresas de energia para proteger os consumidores da disparada do preço do gás, que já aumentou 250% desde janeiro deste ano, sendo que 70% somente em agosto.
A agência de notícias Reuters explica que “os preços recordes têm pressionado o setor de energia britânico, destruindo o modelo de negócios de comerciantes menores de energia e causando choques nos mercados de produtos químicos e fertilizantes, levando à escassez de dióxido de carbono”. Com isso, as maiores empresas de energia do Reino Unido pediram apoio do governo para ajudar a cobrir o custo de aquisição de clientes de empresas que faliram.
Este é mais um exemplo de como a privatização de setores estratégicos, como o de energia, impacta a população. Apesar dos alertas das entidades sindicais e de especialistas, o governo Bolsonaro segue na contramão, privatizando empresas como a Eletrobras e desmontando o Sistema Petrobrás, com a venda da empresa aos pedaços e a insistência em manter uma política de preços de paridade de importação (PPI), que tantos prejuízos causa ao povo brasileiro, pressionando a inflação e aumentando a miséria.
O resultado, além dos preços proibitivos dos combustíveis, é o botijão de 13 quilos do gás que chega a custar em algumas cidades do país R$ 130 – quase 12% do valor do salário mínimo (R$ 1.100). De janeiro a agosto, a Petrobrás reajustou a gasolina em suas refinarias em 51%. O diesel e o GLP (gás de cozinha) já subiram 40%.
Desde outubro de 2016, quando o governo Michel Temer implantou na Petrobrás o Preço de Paridade de Importação (PPI), a FUP vem alertando para os riscos que essa política traria aos consumidores. Na época, a Federação chamou atenção para o que estaria por vir: “Nos anos 90, vimos as consequências dessa política, quando a gasolina brasileira chegou a ser cotada entre as 20 mais caras do mundo. Para se ter uma ideia, entre 1995 e 2002, o preço do combustível sofreu reajustes de 350%, uma média de 44% ao ano. De 2003 a 2015, o reajuste foi de 45%, uma média de 3.75% ao ano. A nova política de reajuste não garante estabilidade e, portanto, voltará a penalizar a sociedade com a variação dos preços no mercado externo”. Leia a íntegra aqui.
Como explica o coordenador da FUP, Deyvid Bacelar, “o Brasil é produtor, não tem necessidade de importar derivados de petróleo, mas com a subutilização proposital das refinarias do país, que estão produzindo com cerca de 70% de suas capacidades, o país importa derivados, beneficiando as importadoras por causa do preço dolarizado”. Em entrevista esta semana ao jornal A Tarde, ele voltou a chamar a atenção para os riscos dessa política:
“Hoje, o barril do petróleo no mercado internacional está variando entre 73, 75 dólares. Lembrando que em 2013 nós tivemos o barril de petróleo a mais de 100 dólares. Então olha só, se o preço do barril do petróleo subir para essa margem de mais de 100 dólares, ele vai impactar na formação do preço dos combustíveis, nessa política atual que a gestão da Petrobras utiliza. Outro vetor, o dólar: a taxa de câmbio no Brasil está descontrolada. A política econômica do Paulo Guedes é devastadora, beneficia somente quem exporta. Custos de importação logísticos não deveriam estar na política de preços. Não deveriam, porque a Petrobras, como dissemos, é autossuficiente em petróleo, tem refinarias, que por sinal estão sendo vendidas, estão sendo utilizadas com sua capacidade bem abaixo, em torno de 70-74% da capacidade que elas têm, beneficiando importadoras e refinarias de outros países”, afirmou Bacelar.
A técnica do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese) da Subseção da CUT, Adriana Marcolino, chama atenção para os impactos desta política também no setor de gás natural. Ela explica que esse tipo de combustível é mais utilizado pela indústria (43%) e para a geração de energia elétrica (38%). “Interessa aos acionistas, ao mercado financeiro, e não é nada bom para a população. Os reajustes têm disso constantes e relevantes. Por se tratar de gênero de primeira necessidade, deveria haver uma política de preços diferenciada tanto para o gás natural como a gás de botijão”, afirma.
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“Além do gás, outros exemplos de reestatização de empresas, mostrando que empresas privadas não são exemplos de boa administração e de um melhor atendimento à população ocorre no setor do saneamento básico. O serviço ruim e caro praticado por empresas de saneamento fez pelo menos 158 cidades do mundo de países como a França, Estados Unidos e Espanha, entre outros, a estatizar novamente os serviços de saneamento, anteriormente privatizados”, ressalta a CUT.
[FUP, com informações do Independent, da Reuters e da CUT | Foto: Agência Petrobras]