Negligência

Covid se alastra na Petrobras e FUP cobra ações efetivas dos gestores para garantir a saúde e segurança dos trabalhadores

Dirigentes sindicais denunciam falta de cuidados médicos aos contaminados e sofrimento dos trabalhadores que estão sendo submetidos a dobras de até 24 horas

[Por Rosely Rocha, da redação da CUT]

A Federação Única dos Trabalhadores (FUP) denuncia novo pico de Covid-19 que já atinge milhares de petroleiros e cobra ações da gestão da Petrobras. O número de trabalhadores e trabalhadoras da estatal contaminados alcançou a marca de 1.484. A informação foi divulgada nesta quinta (27), em reunião entre dirigentes da FUP e representantes da Estrutura Organizacional de Resposta (EOR), da Petrobras, criada para gerenciar o combate à pandemia.

Os quatro estados mais atingidos são, pela ordem: Rio de Janeiro (1008); São Paulo (111); Espírito Santo (98) e Bahia (71). São três petroleiros diretos da Petrobras hospitalizados e um de empresa terceirizada. Segundo a FUP, a Petrobras só informa, no caso de trabalhador terceirizado, o número de hospitalizados, sem os dados de contaminação dessa categoria.

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Os petroleiros ressaltam que a empresa não está também considerando os 257 casos de covid na Transpetro, que para eles faz parte do sistema, o que eleva este número para 1741 trabalhadores com covid em todo o Brasil.

Este número alarmante de casos poderia ser evitado se a empresa tivesse feito mudanças em seus protocolos de segurança e diminuísse o número de petroleiros que estão nas plataformas marítimas (offshore), como fez em relação às unidades administrativas e terrestres (refinarias).

A denúncia é do secretário de Saúde, Meio Ambiente, Tecnologia e Segurança da FUP, Antônio Raimundo Teles Santos, que vem acompanhando de perto as informações que chegam aos sindicatos de petroleiros e à entidade.

Segundo ele, as unidades terrestres e administrativas da Petrobras reduziram para 40% a presença da força de trabalho, desde dezembro do ano passado. No entanto, as unidades operacionais modificaram a jornada de oito para doze horas de trabalho. Só que agora com o grande número de afastados o número de horas trabalhadas subiu para 12, depois 16 e chegou a até 24 horas.

“Por conta da distribuição do efetivo onde trabalhavam três pessoas, passaram a trabalhar duas, mas como a contaminação avançou, muitos foram afastados e quem ficou chega a trabalhar em dobras de até 24 horas. A situação está complicada nas refinarias e terminais”, conta Antônio Raimundo.

Covid nas plataformas 

O número de trabalhadores em offshore é de aproximadamente 10 mil (25%) do total de 40 mil da Petrobras, segundo a FUP. Além disso, existem os terceirizados da empresa e os petroleiros da iniciativa privada, subindo o número trabalhadores em alto mar para algo em torno de 70 mil no país.

Para entender o que vem ocorrendo com os trabalhadores da Petrobras, Antônio Raimundo fez um panorama dessa situação, desde que a pandemia se intensificou com a chegada da variante ômicron, que segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) é mais contagiosa que as anteriores. Cada pessoa contaminada pela ômicron é capaz de contagiar outras três pessoas, enquanto na Delta, o número era de um para um.

O secretário de saúde da FUP argumenta que no ambiente do offshore, até por conta da velocidade de contaminação, estão se apresentando evidências que fogem ao controle da Petrobras.

Ele explica que esses trabalhadores em plataformas estão submetidos a um intenso sofrimento, pois os contaminados e os que tiveram contato com eles, estão sendo obrigados a ficar ao relento com seus pertences e a Petrobras não oferece condições para que eles sejam retirados ou recebam atendimento médico adequado.

“A Petrobras desrespeitou os petroleiros, sem tratamento digno. Eles não poderiam ser colocados daquela forma. Era preciso que a área de saúde e médica conduzisse aquela atividade, sem a exposição dos trabalhadores”, diz Antônio Raimundo.

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O dirigente da FUP elenca ainda três situações que agravam o problema:

–  Primeiro que os pilotos de aeronaves que buscam esses trabalhadores em alto mar também foram contaminados e não estão trabalhando, o que dificulta a operação logística de retirada das plataformas. A Petrobras prometeu a contratação de mais aeronaves e pilotos, mas diz que está com dificuldade de encontrar no mercado.

“Existe a resolução nº 584/21 da Anvisa que estabelece que em caso positivo de covid é preciso testar todos no local de trabalho. Só que a Petrobras alega que sem pilotos e aeronaves, não se consegue deslocar uma equipe de profissionais de saúde que faça a testagem”, diz Antônio Raimundo.

– O segundo ponto é que os retirados do local de trabalho, normalmente são hospedados em hotéis nas cidades mais próximas às plataformas, mas a Petrobras diz que não está conseguindo profissionais de saúde para atendê-los, já que estão em quarentena.

– E terceiro que, quem ficou nas plataformas está sobrecarregado, trabalhando muitos mais dias em alto mar, sem conseguir voltar para casa.

“Recebemos muitos pedidos de ajuda de petroleiros que deveriam ter voltado para suas casas há mais de duas semanas, mas pela falta de pessoal continuam nas plataformas, trabalhando o dobro do tempo que deveriam. É uma situação desumana que coloca a pessoa em sofrimento”, denuncia Antônio Raimundo.

A evolução dos casos de covid na Petrobras

No final do ano passado na reunião com a EOR foram apresentados 18 casos confirmados, e mais nove na triagem, que é feita quando os trabalhadores embarcam.

Já no dia 15 de janeiro um levantamento prévio do sindicato apontou de 222 casos positivos no Brasil. Mas o que assombrou os dirigentes foi que a própria Petrobras admitiu 724 casos. Em seguida, no dia 21 deste mês (sexta), o gerente executivo da Petrobras sinalizou com mais de mil casos confirmados.

Na última segunda-feira (24), na reunião do Sindicato dos Petroleiros de Niterói (Sindipetro NF), com o Ministério Público do Trabalho (MPT), a Superintendência da Petrobras admitiu 1370 casos.

Segundo o dirigente, a categoria já havia alertado a Petrobras de que fatores externos como as festas de fim de ano poderiam aumentar o número de casos.

A Petrobras já fez 50 vezes a testagem em todos os seus trabalhadores. Cada vez que alguém é diagnosticado com a doença, a empresa testa todos que trabalham no mesmo ambiente. Antônio Raimundo diz que a Petrobras admitiu em reunião com os sindicalistas 43 testagens gerais, mas com outras informações recebidas ele acredita que o número correto é 50.

A preocupação em todo Brasil é que não atingimos ainda o pico e, por isso cobramos da Petrobras uma atuação junto aos não vacinados, para que eles não acessem as unidades de trabalho. É um egoísmo negacionista que coloca em risco os demais trabalhadores

– Antônio Raimundo Teles Santos

Em termos de imunização, de acordo com a Petrobras 97,4% do seu efetivo próprio estão vacinados. A empresa não informou a vacinação dos trabalhadores terceirizados. O dirigente alerta, no entanto, que apesar do alto índice de imunização apenas 2% dos não vacinados representam 800 pessoas num universo de 40 mil trabalhadores.

Ceará anuncia casos de covid em sua plataforma

Na plataforma PXA 1, de Xaréu, em Fortaleza (CE) também forma diagnosticados com Covid-19 quatro petroleiros. A testagem em todos também identificou um número considerável (mas sem informação oficial) de outros trabalhadores infectados.

“O pessoal do Ceará informou que os petroleiros que desceram da plataforma não encontraram hospedagem em Fortaleza, o que mostra a gravidade de como a Petrobras trata seus trabalhadores “, critica Antônio Raimundo.

Esta não é a primeira vez que os petroleiros embarcados denunciam o contágio pela Covid-19. Em maio de 2020, o Sindicato dos Trabalhadores na Indústria do Petróleo no Ceará/Piauí (Sindipetro CE/PI) informou que 42 dos 45 trabalhadores do campo de exploração marítima de Xaréu, no litoral cearense, estavam contaminados.

Ações da FUP

As instituições sindicais acionaram o Ministério Público do Trabalho (MP) da região norte fluminense, pedindo o imediato desembarque dos contaminados, seus contactantes e os que já fizeram sua escala regular, que tenham cumprido sua jornada de trabalho.

Em uma das ações, a Justiça cedeu medida liminar favorável a Ação Civil Pública movida pelo jurídico do Sindipetro/ES contra os abusos cometidos pela gerência das plataformas P-57 e P-58.

A decisão determina que a Petrobras “promova, no prazo de 24 horas, o desembarque dos trabalhadores contaminados pela Covid-19 confinados nas plataformas P-57 e P-58, bem como realize testes diários para a Covid-19, impedindo-se o confinamento desnecessário de eventuais contactantes”.

A empresa tem 24 horas para cumprir com a liminar, “sob pena de multa diária de R$ 5.000,00, até o limite de R$ 50.000,00”.

“As pessoas estão sendo sacrificadas por uma conjuntura que elas não são responsáveis, como as metas da Petrobras para atingir lucro”, afirma Antônio Raimundo.

Além da falta da escala, os sindicalistas pedem transparência nas informações e que possam se reunir com a Estrutura Operacional de Resposta, já que a Petrobras tem dificultado o diálogo.

“Nós somos procurados pelos meios de comunicação, instituições acadêmicas e parlamentares que precisam de informações seguras e corretas para que o debate seja levado ao Parlamento e à sociedade. Nós precisamos de informações mais transparentes”, cobra Antônio Raimundo.

Mais injustiças com os trabalhadores

A maior injustiça deste processo é  a não emissão da Comunicação de Acidente do Trabalho (CAT), considerando a covid como doença do trabalho, de acordo com Antônio Raimundo.

“É uma injustiça muito grande por que retira a proteção previdenciária do trabalhador e deixa a sua família, caso venha a óbito, com prejuízos financeiros com a perda de rendimento na hora de receber o benefício do INSS”, ressalta