Vazamento de óleo em lagoa de Linhares, no Espírito Santo, e sobretudo a pobre resposta da empresa, alertam novamente para os perigos das privatizações no setor de óleo e gás. O Polo Lagoa Parda, local do qual partiu o óleo, foi vendido pela Petrobrás em setembro de 2020.
[Da Comunicação da FUP, com informações do Sindipetro-ES]
Na manhã desta terça-feira (15/02), um vazamento de óleo atingiu a Lagoa Parda, no norte do Espírito Santo. O oleoduto pertencente à empresa Imetame Energia vazou em estrada que liga as regiões de Areal e Regência, em Linhares, próximo à Reserva de Comboios e à foz do Rio Doce. A estimativa é de que entre 5 a 7 mil litros de óleo foram derramados na lagoa e moradores das comunidades temem que esse material se espalhe, até chegar ao mar. Essa região já foi duramente atingida pelo crime da Vale na Bacia do Rio Doce, em novembro de 2015. Inclusive, a lama de rejeitos que saiu da barragem de Fundão chegou ao mar de Regência. Ainda é difícil mensurar o tamanho da agressão provocada pelo vazamento da Imetame, mas o padrão que se repete escancara a precarização gerada pela privatização.
Precarização e amadorismo
Uma delegação do Sindipetro-ES visitou a região na manhã desta quarta-feira (16) e o panorama que visualizou não foi alentador. O diretor do sindicato, Valnisio Hoffmann, afirmou: “Acidentes podem acontecer, mas o amadorismo que a gente viu hoje é assustador. Os funcionários estavam tentando tirar óleo com galho de árvore, não teve contenção. Contrataram uma empresa privada que não tem experiência em contenção de óleo. Esse é o retrato dos efeitos das privatizações: precariedade e ineficiência”.
O sindicato alerta para os impactos deste desmonte: “É um perigo não apenas por desconsiderar direitos sociais e ambientais, como tem sido feito durante todo o processo de desmonte e privatização da Petrobrás, mas porque essa privataria atende a uma onda de empresas que não possuem qualquer experiência com a operação petrolífera. São empresas que não estão preparadas, muito menos equipadas para resolver problemas como esse”.
Hoffmann destaca outro ponto muito grave: a iminente privatização do Terminal Norte Capixaba, cujo processo de venda está nas fases finais. O Terminal recebe petróleo dos campos terrestres do norte do ES e escoa a produção através de navios atracados em monobóias e, à vista dos novos fatos, o sindicato alerta para riscos ainda maiores aos já acontecidos caso a venda se concretize.
Não foi por falta de aviso
Os campos terrestres de Lagoa Parda foram vendidos pela Petrobrás em 2020, no marco da estratégia de desinvestimento e venda de ativos aplicada pela gestão da estatal após o golpe de 2016. Segundo divulgação da empresa na época, essa venda estava alinhada com a estratégia de concentrar cada vez mais os recursos em “ativos de classe mundial em águas profundas e ultraprofundas”. Na época, o Sindipetro-ES alertou em diversas oportunidades ao governador Renato Casagrande (PSB) sobre os possíveis efeitos ambientais e econômicos da venda. Porém, os alertas foram ignorados, e os bancos públicos do Estado financiaram a compra de Lagoa Parda pela empresa Imetame Energia: o Banco de Desenvolvimento do Espírito Santo (Bandes) e Banco do Estado do Espírito Santo (Banestes).
Naquele momento, Casagrande declarou ao jornal A Gazeta: “Essa operação conjunta entre Bandes e Banestes está em sintonia ao que nós queremos para o desenvolvimento do Espírito Santo. O plano de desinvestimento da Petrobrás nos deixou felizes, pois abriu um leque de oportunidades para empresas, como a Imetame, que tem capacidade de fazer investimentos em locais onde a petrolífera já tinha desistido. É a garantia de geração de emprego, de receita e de desenvolvimento no Estado e na região”.
Biodiversidade em risco
A preocupação sobre os danos ambientais é muito grande no local, que sofre intensas chuvas nos últimos dias e está sendo atingido por alagamentos. Lá existem várias lagoas, e as chuvas constantes fazem com que o óleo migre de forma mais rápida. Além de ficar na foz do Rio Doce, o Polo Lagoa Parda é próximo a uma base do Projeto Tamar, reconhecido internacionalmente pelo trabalho de proteção e conservação de tartarugas marinhas no Brasil. A base de Regência é uma das pioneiras do projeto, e foi instalada em 1982.
No rastro do desmonte do Sistema Petrobrás, a gestão da empresa anunciou em setembro de 2021 o fim da parceria de mais 40 anos com a Fundação Pró-Tamar, que cuida do projeto.
“Esse desastre pode ter efeitos sinistros numa região com tamanha biodiversidade”, afirmou Hoffmann. O Sindipetro-ES acompanha de perto a situação, e afirmou em nota que trabalhará para conhecer os reais motivos do vazamento. Nesse sentido, prometeu cobrar da empresa uma postura mais preventiva nas operações realizadas na região, que respeite os direitos ambientais, os direitos dos trabalhadores e trabalhadoras e das comunidades.