Caos na Petrobrás

Troca-troca na Petrobrás é um dos motivos para oscilações na B3, segundo especialistas

Desde a última semana, as ações da Petrobrás na Bolsa de Valores oscilaram com a possível saída do presidente da companhia e chegaram a ser interrompidas após o anúncio de renúncia

[Por Petróleo dos Brasileiros ]

Na manhã da última segunda-feira (20), a Petrobrás anunciou a renúncia do presidente da companhia, José Mauro Coelho, que ficou no cargo por apenas 68 dias. Coelho foi o terceiro CEO da empresa a deixar a presidência em menos de quatro anos. Durante a mudança, as ações da estatal na Bolsa de Valores (B3) foram suspensas.

Após o ocorrido, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) abriu dois processos para investigar a empresa, o primeiro para apurar as notícias que antecederam a renúncia de Coelho, o segundo para averiguar a “movimentação suspeita” registrada na B3 na última sexta-feira (17).

Assessor jurídico da Federação Única dos Petroleiros (FUP), Angelo Remedio diz que o anúncio oficial de renúncia de Mauro Coelho durante o início das operações na B3 não configura nenhum tipo de infração da Petrobrás. “É uma questão que causa estranha insegurança, mas não é crime porque foi ele quem pediu para sair durante o pregão, não a empresa que demitiu”, explica.

Presidente da Associação Nacional dos Petroleiros Acionistas Minoritários (Anapetro), o petroleiro Mario Dal Zot afirma que a entidade busca entender os motivos que levaram Coelho a renunciar. “Precisamos saber se ele [Mauro Coelho] sofreu algum tipo de pressão para renunciar, porque a mudança é normal, agora a renúncia precisa ser analisada”.

O petroleiro explicou também que a Anapetro aguarda o primeiro parecer da CVM para análise do novo nome indicado a ocupar a presidência da empresa, o secretário de desburocratização do Ministério da Economia, Caio Paes de Andrade. “Ele não tem qualificação, nem experiência o suficiente, então precisamos aguardar”, diz Dal Zot afirmando que, caso percebam que exista algo errado, acionaram os órgão competentes.

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Dal Zot comenta que a troca na presidência da Petrobrás foi só uma das mudanças que impactaram o valor das ações da empresa. Para ele, o ataque desproporcional que a companhia vem sofrendo pelo presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), junto ao presidente da República, Jair Bolsonaro (PL) também influenciam nas oscilações de valores no mercado.

Professor de economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e pesquisador do Instituto de Estudos de Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep), Eduardo Costa Pinto explica que os dois movimentos atingem diretamente as ações da empresa. “O discurso de Jair Bolsonaro em querer privatizar desacelera a corrida para a compra de ações e esse movimento de troca de presidente e as reclamações da política de preços geram desconfiança nos acionistas minoritários que compram ações”.

Política de preços da companhia 

A mudança na presidência da Petrobrás, junto aos ataques de parlamentares à empresa, surge em meio a mais um anúncio de aumento do preço da gasolina em 5,18% após 99 dias sem reajuste, e do diesel em 14,26%, feito na última sexta-feira (17) e que resultou em uma queda de mais de 7% das ações da companhia.

Para o economista, a perspectiva do governo mudando a presidência da companhia não é reduzir, mas frear o repasse da política de preços para o consumidor. Entretanto, se não for reeleito, o chefe do Executivo tende, na visão de Costa Pinto, a jogar para o próximo presidente da República os aumentos dos combustíveis.

“Não acho que deva acontecer [mudança na política de preços], mas acho que o novo presidente vai tentar congelar os preços por um período até as eleições, e acho que se o Bolsonaro perder, ele solta toda essa repressão [dos preços], jogando uma bomba para frente”

EDUARDO COSTA PINTO, PROFESSOR DA UFRJ E PESQUISADOR DO INEEP

Além de José Mauro Coelho, a expectativa é que nas próximas semanas a Petrobrás anuncie mudanças na composição do Conselho  de Administração.