Preço do combustíveis dispara e faz inflação ultrapassar os 10% em 12 meses. Entenda por que a culpa é de Bolsonaro

Só no governo Bolsonaro, o gás de cozinha subiu 73% nas refinarias da Petrobrás, a gasolina aumentou 57% e o diesel, 45%. Preços foram reajustados com valores muito acima da inflação e até mesmo da variação do petróleo no mercado internacional, apesar da produção nacional de petróleo ter crescido e os custos de extração e refino, caído

[Da imprensa da FUP | Foto: Sindipetro/BA] 

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15), uma prévia da inflação oficial, subiu 1,14% em setembro, a maior variação desde fevereiro de 2016 (quando atingiu 1,42%), alcançando 7,02%, somente em 2021, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgados nesta sexta-feira (24). O IPCA-15 deste mês é também o maior já registrado em setembro, desde 1994, e, no acumulado dos últimos 12 meses, registra alta de 10,05%, empurrando o Brasil para a inflação de dois dígitos.

Novamente, o aumento dos combustíveis foi o que mais pressionou a alta da inflação do mês, seguido do preço dos alimentos. Segundo o IBGE, o gasto geral com transportes em setembro aumentou 2,22%, e os custos com alimentação, 1,27%, ambos influenciados pela alta dos combustíveis.

A gasolina foi o combustível que mais subiu entre agosto e setembro (2,85%) e acumula alta de 33,37% no ano e de 39,05% nos últimos 12 meses. Levantamento feito pela subseção FUP do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese/FUP) mostra que o gás de cozinha, ítem essencial da cesta básica das famílias brasileiras, subiu 2,32% em setembro, acumulando em 2021 alta de 26,83% e um aumento de 32,93% nos últimos 12 meses. Já o óleo diesel subiu 30,03% desde janeiro, o que equivale a uma alta de 34,55% desde setembro de 2020. 

 

A disparada dos preços dos combustíveis impacta diretamente no custo de vida da população, fazendo aumentar, em efeito cascata, o preço dos alimentos e dos transportes, como vem apontando o IBGE, ao divulgar os índices de inflação.

“A inflação voltou com força total no país, atingindo a todos, sobretudo os mais pobres. É mais uma prova do fracasso deste governo e do equívoco da política de preço de paridade de importação, adotada pela gestão da Petrobrás, para reajuste dos combustíveis, Enquanto essa política não mudar, a inflação continuará a disparar, deteriorando ainda mais o poder de compra dos trabalhadores”, alerta o coordenador-geral da Federação Única dos Petroleiros (FUP), Deyvid Bacelar.

Tá caro? A culpa é de Bolsonaro

Só no governo de Jair Bolsonaro, o gás de cozinha subiu 73% nas refinarias da Petrobrás, a gasolina aumentou 57% e o diesel, 45%. Desde que ele assumiu a presidência do Brasil, em janeiro de 2019, a inflação acumula 15% (IPCA) e o preço do barril de petróleo subiu 31%. Ou seja, os combustíveis foram reajustados com valores muito acima da inflação e até mesmo da variação do petróleo no mercado internacional.

Esse disparate, que impacta diretamente no custo de vida das famílias brasileiras, é resultado do Preço de Paridade de Importação (PPI) que foi implementado pela direção da Petrobrás, em outubro de 2016, logo após o impeachment da ex-presidenta Dilma Rousseff. Desde então, os derivados produzidos nas refinarias brasileiras, com petróleo nacional, aumentam toda vez que o preço do barril sobe no exterior e também sofrem a influência da cotação do dólar e dos custos de importação, mesmo o Brasil sendo autossuficiente na produção de petróleo.

No dia 17 de abril de 2016, quando os deputados federais aprovaram o pedido de impeachment, o preço médio da gasolina nos postos de combustíveis era de R$ 3,716, o litro. O diesel custava R$ 3,023 e o preço médio do botijão de gás de 13 kg era de R$ 53,637, segundo a Agência Nacional de Petróleo (ANP). Se esses valores forem corrigidos pela inflação acumulada ao longo destes cinco anos e cinco meses (27,44% até setembro de 2021, segundo o IPCA), os preços hoje deveriam ser: R$ 4,73, litro da gasolina; R$3,85, o litro do óleo diesel e R$ 68,35, o gás de cozinha.

Produção nacional de petróleo aumentou e custos de extração e refino, caíram

Segundo o Dieese/FUP, entre abril de 2016 e setembro de 2021, a produção nacional de petróleo cresceu 33% e o custo de extração pela Petrobrás caiu 39,3%, devido, principalmente, às tecnologias desenvolvidas pela empresa e à produtividade do pré-sal. Também neste período, houve queda de 28,2% dos custos de refino. A gestão da Petrobrás, no entanto, reduziu, deliberadamente, a utilização das refinarias, que hoje operam com uma capacidade de produção abaixo de 75%, aumentou as exportações de petróleo bruto e colocou à venda metade do parque de refino da estatal, privatizando também a BR Distribuidora, a Liquigás e praticamente todo o setor de logística, responsável pelo escoamento e distribuição de petróleo, gás e derivados.

“Tínhamos e ainda temos, todas as condições de garantir o abastecimento nacional, com preços de combustíveis justos para a população, que levem em conta os custos nacionais de produção e de refino. Temer e Bolsonaro, no entanto, dilapidaram a maior empresa nacional e impuseram uma política de reajustes dos combustíveis que beneficia única e exclusivamente os acionistas privados, que detêm 63,25% do capital total da empresa, dos quais 42,18% são estrangeiros. O lucro recorde de R$ 42,8 bilhões no segundo trimestre de 2021 foi essencialmente construído às custas das privatizações e dos preços abusivos dos combustíveis”, explica o coordenador da FUP, ressaltando que R$ 31,6 bilhões de dividendos pagos aos acionistas, somente R$ 11,6 bilhões (36,8%) ficarão com o Estado brasileiro. Os acionistas privados embolsaram mais de R$ 20 bilhões do lucro da Petrobrás, sendo que cerca de R$ 13 bilhões foram enviados para fora do país, aos investidores estrangeiros.

Ele lembra que nos dois governos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o preço do barril do petróleo sofreu uma variação de 223%, mas a gasolina aumentou apenas 18%, o diesel, 30% e o gás de cozinha teve o preço congelado entre 2003 e 2014, através de uma política de subsídio. “É preciso que a Petrobrás volte a ser gerida como uma empresa estatal, a serviço do povo brasileiro, cumprindo o seu papel de abastecer o país, garantir a soberania e o desenvolvimento nacional, como aconteceu entre 2003 e 2014. Mudar os rumos da Petrobrás é uma decisão de Estado, que compete ao governo federal”, afirma Deyvid, lembrando que o poder de decisão é do governo federal, pois o Estado brasileiro ainda é o acionista majoritário da Petrobrás, com 50,5% das ações com direito a voto no Conselho de Administração da empresa.