Plenária da POCAE discute cenário de crise no setor energético brasileiro

Plataforma Operária e Camponesa da Água e Energia (POCAE) convidou diferentes entidades e movimentos populares para analisar as causas e os impactos dos aumento dos preços da energia e dos combustíveis na vida dos brasileiros 

[Da Comunicação do Movimento dos Atingidos por Barragens, com edição da FUP]

Durante a tarde dessa sexta (03), integrantes da Plataforma Operária e Camponesa de Água e Energia (POCAE) realizaram uma plenária para discutir a política energética nacional do Governo Bolsonaro para o setor energético, que levaram à explosão das tarifas de energia e dos preços de combustíveis e do gás, com aumentos muito acima dos índices de inflação. O encontro reuniu lideranças de entidades do setor, de órgãos de proteção ao consumidor, pesquisadores e representantes de movimentos sociais e estudantis.

Além de denunciar a má gestão do setor energético, os impactos da privatização e do sucateamento dos serviços públicos, os presentes também debateram propostas de enfrentamento à crise no âmbito político através da mobilização popular.

Em sua fala, Fabíola Antezana, representante do Coletivo Nacional dos Eletricitários, denunciou que a crise energética que hoje o Brasil vive é fabricada pelo próprio governo para justificar aumentos abusivos na conta de luz da população.

“Esse governo quer explorar ao máximo a sua mais valia no setor elétrico em detrimento de oferecer bons serviços para a sociedade, para a classe trabalhadora e para a proteção do meio ambiente. Eles colocam todos os custos da sua operação no bolso do consumidor para maximizar o lucro”, afirmou.

De acordo com a dirigente, a situação vai piorar com a privatização da Eletrobras, maior companhia de energia da América Latina e uma das maiores do mundo.

“O discurso do governo era de que a venda da companhia iria diminuir a tarifa de luz. Agora, eles já estão projetando um aumento de cerca de 17% na tarifa atrelado à privatização, que é exatamente o dado que já tinha sido divulgado pela Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) em um estudo realizado durante a primeira tentativa de privatização da companhia em 2017”, analisou a especialista.

Segundo ela, apesar da aprovação da venda da Eletrobras pelo Congresso Nacional, o Coletivo dos Eletricitários segue mobilizado para tentar encontrar mecanismos de impedir a concretização da privatização.

Mário Dal Zot, da Federação Única dos Petroleiros (FUP), afirmou:

“A Petrobrás está na contramão do mundo quando se trata de soberania”

Denunciando o processo de desmonte da empresa, expressou:

“Cada uma das vendas das refinerias que aconteceram na Petrobrás foi feita apenas para favorecer o capital e os acionistas, em detrimento do povo brasileiro”. Esse processo, afirmou, é “uma entrega do patrimônio público que prejudica o povo brasileiro em todos os assuntos que o afetam, como o preço dos combustíveis, os serviços esenciais e a comida”. Para Dal Zot, “o papel atual da Petrobrás está muito longe do papel histórico da empresa e do que ela representa para o povo brasileiro”.

Já o estatístico Vicente Andreu, ex-presidente da Agência Nacional das Águas (ANA), fez uma análise sobre o discurso da “crise hídrica” no país.

“Estamos enfrentando há alguns anos o esvaziamento recorrente dos reservatórios das hidrelétricas no Brasil e a consequente explosão das tarifas com o objetivo de aumentar a renda dos agentes do setor. A crise do setor energético não tem a ver com um evento meramente climático, não é culpa de São Pedro, não é algo totalmente imprevisto”, declarou.

Em sua fala, ele também elogiou a postura do MAB, que tem denunciado o discurso que atribui o aumento das tarifas exclusivamente à escassez de chuvas.

“Gostaria de parabenizar ao MAB e as outras entidades que estão expondo esse discurso falso em detrimento da grande mídia, que segue repetindo os argumentos do setor elétrico”, destacou.

Gilberto Cervinski, da coordenação nacional do MAB, complementou as falas, afirmando que a crise é muito mais grave do que apenas o esvaziamento proposital dos reservatórios das hidrelétricas.

“Se analisarmos dados do setor dos últimos 10 anos, vamos perceber que a capacidade de potência instalada de geração de energia é superior à demanda no Brasil porque, depois do golpe, tivemos uma retração da economia. Então, a preocupação dos agentes do setor elétrico é não permitir a desvalorização das ações das empresas de energia nas bolsas de valores. E para isso, estamos vendo esses aumentos abusivos nas tarifas de energia do povo”, avaliou.

Ao final da atividade, as organizações presentes na plenária tiraram uma agenda de ações em comum para dialogar com a sociedade sobre essas questões e fortalecer a resistência aos ataques à soberania perpetrados pelo atual governo.