Plataformas da Petrobrás na Bacia de Campos têm novos surtos de Covid-19, em meio ao avanço da variante Delta no RJ

Novas ondas de contaminação foram registradas pelo Sindipetro-NF na P-43 e na P-40. Sindicato denuncia que a gestão da Petrobrás continua omitindo informações e não cumpre recomendações do MPT para evitar o contágio em plataformas e como agir em caso de infecção nas unidades marítimas

[Da assessoria de comunicação da FUP | Foto: Geraldo Falcão/Agência Petrobras]

Novos surtos de Covid-19 em plataformas da Petrobrás na Bacia de Campos vêm sendo registrados nos últimos dias, segundo denúncias recebidas pelo Sindicato dos Petroleiros do Norte Fluminense (Sindipetro-NF), filiado à Federação Única dos Petroleiros (FUP). A preocupação com uma nova onda de contaminação nas instalações marítimas da petroleira é ainda maior, já que o estado do Rio de Janeiro é o epicentro nacional de infecção pela variante Delta do coronavírus, mais transmissível que as demais variantes, e sobre a qual ainda pouco se sabe a respeito do poder de imunização das vacinas oferecidas no país.

Mais de 60 trabalhadores desembarcaram da P-43 (Barracuda-Caratinga) na última semana. Dentre eles, 22 foram confirmados com a doença, e os demais, trabalhadores que tiveram contato com contaminados.

Nesta semana, a denúncia ao Sindipetro-NF veio da P-40 (Marlim Sul), onde mais de dez trabalhadores estão em isolamento na própria unidade, aguardando o desembarque. Além do risco de ampliar a contaminação, é um descumprimento, por parte da gestão da Petrobrás, de determinação do Ministério Público do Trabalho (MPT), que recomenda que não sejam mantidos trabalhadores em isolamento a bordo (veja mais detalhes a seguir).

E pelo menos três trabalhadores da P-40 já teriam desembarcado com sintomas de Covid-19. O primeiro registro se deu na noite do último sábado (14/8), quando um trabalhador desembarcou de maca em um vôo aeromédico. O trabalhador está internado no Rio de Janeiro, e até o momento a Petrobrás não emitiu nenhuma informação oficial sobre o caso. Além da falta de transparência, a Petrobrás segue lotando a P-40, embarcando pessoas para dar continuidade à produção.

Ontem (19/8), outros três trabalhadores desembarcaram da P-56 (Marlim Sul), sendo um suspeito de estar contaminado por Covid-19 e dois contactantes.

PETROBRÁS DESCUMPRE RECOMENDAÇÕES DO MPT

O coordenador do Departamento de Saúde do Sindipetro-NF, Alexandre Vieira, reitera que a gestão da Petrobrás continua omitindo informações sobre os casos de Covid-19 em suas plataformas. Além disso, lembra ele, a empresa não está cumprindo a Recomendação MPT COVID-19 Nº 2344/2021, de 31 de março (acesse o documento aqui), que indica 21 pontos a serem observados pelas operadoras de óleo e gás e prestadoras de serviço para evitar a disseminação da doença e agir em caso de contaminação a bordo.

Segundo Vieira, entre os principais pontos que não estão sendo cumpridos pela gestão da Petrobrás estão os de números 8 – que recomenda que não sejam mantidos trabalhadores em isolamento a bordo; 9 – suspensão imediata de novos embarques em caso de surto a bordo (registro de ocorrência de dois casos suspeitos ou confirmados de Covid-19 em uma mesma plataforma/embarcação); e 14 – testagem periódica de trabalhadoras e trabalhadores a bordo das unidades.

O Sindipetro-NF tem recebido relatos de petroleiros e petroleiras que não conseguem desembarcar, em descumprimento à recomendação no 8, vivendo em grande risco e apreensão em um local onde acontece um surto de Covid-19. Muitas destas pessoas que estão a bordo já cumpriram, inclusive, período de embarque superior a 14 dias – o que contraria decisão judicial recente, obtida em ação civil pública, em caráter de tutela de urgência, que determinou que a Petrobrás retorne com as escalas de trabalho acordadas em Acordo Coletivo de Trabalho (ACT).

Na recomendação no 9, o MPT indica que, em caso de surto a bordo, os novos embarques devem ser suspensos, sendo mantidos apenas as funções críticas e essenciais – que, na avaliação do sindicato a partir da Resolução 836/2020 da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), dizem respeito à habitabilidade, à segurança e à produção para o abastecimento do país, que de maneira alguma seria afetada com a parada de algumas unidades por alguns dias. A suspensão dos embarques deve ser mantida até o desembarque de todos os casos suspeitos ou confirmados, completa desinfecção da unidade e controle de surto na unidade. Na confirmação dos casos suspeitos, todo o pessoal deve ser testado.

A gestão da Petrobrás também descumpre a recomendação no 14, que determina a testagem periódica dos trabalhadores a bordo das plataformas.

“Há muito tempo insistimos que somente com a aplicação de testes durante o embarque, ou seja, na plataforma, será possível identificar e conter os casos mais rapidamente, evitando surtos. Mas a empresa continua viabilizando testes apenas antes dos embarques, o que não permite ter segurança de que realmente o vírus foi identificado, em razão dos dias em que pode estar presente sem ser detectado”, detalha Vieira.

NÚMEROS

De acordo com o mais recente Boletim de Monitoramento Covid-19 (no 70, de 17 de agosto) do Ministério de Minas e Energia (MME), a doença já atingiu 8.013 dos 46.416 trabalhadores próprios da empresa – um índice de contaminação de 17,2%. No momento, há 144 casos confirmados e em quarentena, 40 hospitalizados e 7.778 casos recuperados, com 51 mortos.

Já o Painel Dinâmico de Dados de Covid-19 em Unidades de E&P, da ANP, atualizado em 18 de agosto, mostra 6.318 casos confirmados acumulados, dos quais 4.561 recuperados e 4.461 casos de trabalhadores que acessaram as instalações de E&P – o que indica que 70% da contaminação ocorre a bordo. A agência contabiliza 12 mortos entre os que acessaram essas instalações.