Brasileiros pagam a conta do desmonte das empresas estatais, o que fez os preços dos combustíveis e da energia elétrica disparar. Tese defendida pelo governo Bolsonaro, de que ‘tudo que é privado é bom’, é uma farsa
[Por Rosely Rocha, da imprensa da CUT | Edição de Marize Muniz]
A maioria dos brasileiros e brasileiras tem respondido positivamente às campanhas que a Central Única dos Trabalhadores (CUT), seus sindicatos, federações e confederações vêm fazendo sobre os prejuízos que a privatização das estatais representa para o povo e para o País.
Fica claro que a maioria dos brasileiros entendeu o recado e é contrária a proposta do governo de Jair Bolsonaro (PL) de privatizar tudo que puder, afirmam o secretário de Comunicação da CUT Nacional, Roni Barbosa, e o diretor da Associação dos Engenheiros e Técnicos do Sistema Eletrobras (Aesel), Ikaro Chaves, se referindo à pesquisa feita pelo PoderData deste mês.
Os dados mostram que 54% dos brasileiros são contra a privatização da Petrobras e outros 56% contra a venda da Eletrobras.
Os percentuais de reprovação à venda das estatais, sempre acima de 50%, indicam que as campanhas em defesa das estatais, que incluem as rádios, emissoras de TV e internet, surtiram efeito, afirma Roni, que também é petroleiro.
A opinião pública está se conscientizando de que a privatização implica aumento de preços e má prestação dos serviços, acrescenta Ikaro.
Essas campanhas ajudam inclusive a mostrar para a população que os preços dos combustíveis podem ficar ainda mais caros com a privatização e quem sofre é o povo que tem quedas brutais no poder de compra, complementa Roni.
“O motor da inflação é o aumento dos combustíveis, e a população já entende isso graças ao processo de resistência feito pelos sindicatos mobilizados que mantêm seus trabalhadores unidos e informados por meio de campanhas como a de preço justo de combustível e gás de cozinha”, afirma o dirigente.
Segundo Ikaro Chaves, que é engenheiro elétrico da Eletrobras, outro ponto que deve ser levado em consideração no resultado da pesquisa é que a população já sente os efeitos no bolso e no atendimento – as altas tarifas e o serviço ruim começaram a partir do desmonte da Eletrobras -, diz.
“O resultado da pesquisa está intrinsicamente ligado à experiência das próprias pessoas. Tanto que nas regiões Norte e Nordeste onde as empresas de distribuiçao são privatizadas, o resultado é muito ruim, com apagões como no Amapá e contas altas. Ao sentir na pele os efeitos da privatização as pessoas passam a entender que o conceito de que tudo que é privado é bom, é uma farsa”, ressalta Ikaro.
Ele esclarece ainda que parte da Eletrobras já é privatizada desde a década de 1990, por isso a população do Norte e Nordeste e mais especificamente o estado de Goiás, no Centro-Oeste, se ressente mais do que a população da Região Sul, onde há mais estatais de energia elétrica como no Paraná e Santa Catarina.
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“A Eletrobras, apesar de continuar sendo estatal, tem uma parcela muito importante, que é a distribuição de energia privatizada. Mais de 60% dos consumidores já são atendidos por essas empresas e eles vêm sofrendo as consequências da privatização”, ressalta Ikaro Chaves.
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A pequena margem de diferença entre os que são contra a privatização da Eletrobras e a Petrobras, de 56% a 54%, reforça o entendimento do dirigente da Aesel, de que embora o brasileiro tenha uma relação mais emocional com a Petrobras, por tudo que ela representa ao país, é sentindo no próprio bolso que a rejeição aumenta e, por enquanto, o povo entende que a Petrobras como estatal é a responsável pelo aumento dos combustíveis.
É esta percepção de parte da população que a CUT e a Federação Única dos Petroleiros (FUP) vem combatendo em suas campanhas, ressaltando que os ataques que Bolsonaro vem fazendo à Petrobras deixará o Brasil num caos, e que a responsabilidade por tudo isso é da Política de Preços Internacionais (PPI) criada por Michel Temer (MDB-SP) e mantida pelo atual governo.
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“Bolsonaro poderia com uma canetada mudar toda a direção e o presidente da Petrobras. O governo tem a maioria das ações e poderia muito bem mudar a política de preços, mas não, sua gestão é baseada em fake News de sua militância virtual de extrema direita que quer entregar de vez o petróleo brasileiro a empresas internacionais”, afirma Roni Barbosa
“Se dependesse do governo, todas as refinarias da Petrobras teriam sido vendidas. De concreto só conseguiu a vender a Rlan da Bahia, e com isso os baianos já pagam muito mais caro pelos combustíveis. Para as restantes não consegue compradores, mesmo com benefícios aos investidores internacionais”, complementa.
A Petrobras teve lucro de R$ 106 bilhões e distribuiu dividendos de R$ 101,4 bilhões em 2021, o que significa a maior transferência de renda da história já vista no Brasil promovida pela gestão.
Manter a mobilização dos trabalhadores e esclarecer a população são fundamentais para enfrentarmos esse processo de entrega das estatais do país
A pesquisa do PoderData
O apoio a manter a Petrobras estatizada é maior entre todas as faixas de renda pesquisadas. Entre quem tem renda familiar de 5 ou mais salários mínimos, chega a 49%. Entre os que ganham de 2 a 5 salários e os que ganham até dois mínimos, o índice empata em 55%.
Por regiões, o Centro-oeste e o Nordeste têm os maiores índices de rejeição à venda, empatados com 59%. O índice cai para 55% e 53% nas regiões Norte e Sudeste, respectivamente e no Sul é a menor aprovação a manter a Petrobras como estatal, com 43%.
Sobre a Eletrobras ser mantida como estatal, a pesquisa mostra que entre quem tem renda familiar de 5 ou mais salários mínimos, chega a 49%. Entre os que ganham de 2 a 5 salários aumenta para 58% e os que ganham até dois mínimos, o índice cai para 57%.
Por regiões, o Norte e Nordeste têm os maiores índices de rejeição à venda, com 61% e 60% respectivamente. O índice cai para 57% no Sudeste, 55% no Centro-oeste e 43% Sul.
A pesquisa foi realizada pelo PoderData, empresa do grupo Poder360 Jornalismo, de 27 a 29 de março de 2022, por meio de ligações para celulares e telefones fixos. Foram 3.000 entrevistas em 275 municípios nas 27 unidades da Federação. A margem de erro é de 2 pontos percentuais. O intervalo de confiança de 95%. Registro no TSE: BR-06661/2022.