Sem investimentos em energia limpa e sem aumentar a capacidade de produção das refinarias, o Brasil continuará dependente das importações de combustíveis e a Petrobrás caminha cada vez mais para se consolidar como uma empresa exportadora de óleo cru, com foco na geração de renda para os acionistas e não para a sociedade
[Da comunicação da FUP, com informações do INEEP]
A atual gestão da Petrobrás anunciou com estardalhaço o Plano Estratégico de Negócios e Gestão (PNG) para 2022-2026, onde prevê investimentos de US$ 68 bilhões, montante 24% acima do atual, mas que representa menos de 30% dos valores investidos pela empresa no quinquênio 2010–2014. Neste período, os investimentos da Petrobrás somaram US$ 214,6 bilhões, ou seja, mais do que o triplo do montante anunciado pela atual gestão.
Em nota à imprensa, o coordenador geral da FUP, Deyvid Bacelar, questionou a alta concentração dos investimentos previstos para os próximos cinco anos na área de exploração e produção (E&P), grande parte dele no pré-sal. Mesmo com os investimentos anunciados para o refino, a capacidade de produção das refinarias da Petrobrás deve encolher dos atuais 2,2 milhões de barris/dia para 1,2 milhão em 2022. “Os projetos estão concentrados na integração das Bacias do Sudeste (Reduc e GasLub). No caso da Refinaria Abreu e Lima (RNEST/PE), temos dúvidas se os investimentos previstos são de fato para a empresa permanecer com o ativo ou se servirão para agregar valor e tentar vender novamente a unidade”, alerta o petroleiro.
“Parece que há iniciativas inovadoras para a produção de BioQAV, BioBunker, mas nada para os combustíveis mais utilizados no mercado interno. Onde estão os investimentos para o processo de transição energética, para os renováveis, dos quais a direção da Petrobrás vem se desfazendo, indo na contramão da tendência mundial? Onde estão os investimentos em novas tecnologias, que gerem energias mais limpas?”, questiona o coordenador da FUP.
A assessoria econômica da FUP questiona o foco do PNG 2022-2026 ser na geração de valor para acionistas e não para a sociedade:
“Após a redução da dívida (em dólar) para menos de US$ 60 bilhões, a missão central da empresa agora está em gerar e distribuir valor, com maior remuneração dos acionistas, aprofundando um modelo de empresa privada, em construção desde 2016. No PNG 2020-2024, a empresa esperava pagar US $34 bilhões em dividendos, cerca de 18% do total de riqueza gerada pela empresa no período. No PNG 2021-2025, subiu para US$ 35 bilhões em dividendos, cerca de 23% do valor que se esperava gerar. Agora, no PNG 2022-2026, o montante planejado de dividendos sobe para US$ 70 bilhões, cerca de 40% do valor a ser gerado pela empresa nos próximos 5 anos. Pela primeira vez, espera-se um volume de dividendos pagos maior que de investimentos. Além disso, nesse PNG a empresa promete realizar pagamentos trimestrais, no valor mínimo de US$ 4 bilhões/ano, se o preço do barril ficar acima de US$ 40 (hoje está em US$ 80)”, alerta o economista Cloviomar Cararine, responsável pela subseção do Dieese na FUP.
O economista e pesquisador do INEEP, José Sérgio Gabrielli, ex-presidente da Petrobrás, em análise preliminar sobre o Plano Estratégico da companhia, chama atenção para o fato de que qualquer novo governo que venha a assumir em 2023 esbarrará em um crescente problema de abastecimento doméstico de derivados, principalmente se a economia voltar a crescer, aumentado a demanda de combustíveis. “A saída da distribuição, tanto do gás natural como dos combustíveis líquidos, se mantém nesse plano que, apesar de melhorado em relação ao anterior, continua ainda fortemente concentrado em atender os interesses de curto prazo dos acionistas, desprezando outros públicos de interesses que constituem o universo das grandes empresas”, explica.
Leia no portal do INEEP a íntegra da avaliação de Gabrielli: Algumas notas preliminares sobre o novo Plano Estratégico da Petrobras 2022-2026