Empresa anunciou a distribuição de R$ 30,7 bilhões aos acionistas privados e apenas R$ 17,7 bilhões ao Estado brasileiro; preços dos combustíveis financiaram recursos
[Por Andreza de Oliveira e Guilherme Weimann, do Petróleo dos Brasileiros]
No início deste mês de maio, em divulgação do primeiro balanço trimestral do ano, a Petrobrás anunciou o terceiro maior lucro já registrado por uma empresa de capital aberto no Brasil, atingindo o patamar de R$ 44,5 bilhões. Apenas uma semana após a apresentação dos resultados, a companhia reajustou o diesel em suas refinarias em 8,87%.
Segundo o sociólogo e pesquisador do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep), Mahatma Ramos, o primeiro trimestre deste ano mostra as tendências e efeitos da política de preços da companhia. “Em comparação com o mesmo período do ano passado, houve uma expansão do volume comercializado, mas o resultado positivo é devido ao aumento dos preços dos derivados que reflete uma decisão da Petrobrás em manter o PPI [preço de paridade de importação]”, afirma.
O lucro líquido deste primeiro trimestre foi 36% maior do que o registrado no mesmo período do ano passado, e o que provocou esse aumento foi a elevação dos preços no mercado interno. “A Petrobrás aumentou o volume de vendas de derivados no mercado interno em 2%, mas o fator principal que explica o resultado recorde foi o crescimento dos preços dos derivados em 55% no primeiro trimestre deste ano em comparação ao primeiro semestre do ano passado. A principal explicação é o refino, que teve um peso muito grande no resultado e lucratividade da empresa”, explica.
De acordo com Ramos, a venda da Refinaria de Mataripe (RLAM), na Bahia, também teve um efeito no resultado somada à redução de ociosidade das refinarias da Petrobrás. Entretanto, o aumento da produção em suas unidades de refino não foi o suficiente para suprir o consumo interno e, por isso, as importações aumentaram.
Distribuição dos dividendos
Ultrapassando o lucro registrado no período, o valor dos dividendos que será pago é de R$ 48,4 bilhões. Atualmente, os acionistas privados controlam 63,4% do capital total da Petrobrás, enquanto o Estado brasileiro detém apenas 36,6%.
Por isso, acionistas brasileiros e estrangeiros, somados, embolsaram cerca de R$ 30,7 bilhões, enquanto o Estado (incluindo o BNDES) recebeu somente R$ 17,7 bilhões.
A título de comparação, o custo atualizado de construção da Neo Química Arena, do Corinthians, é de R$ 1,6 bilhão (em 2014, ano da inauguração, o valor era de R$ 985 milhões). Com isso, apenas os acionistas privados ganharão um valor equivalente a 19 estádios do time da Zona Leste de São Paulo – apenas referente ao primeiro trimestre deste ano.
Para Ramos, o bônus da atual política de preços é reservado aos acionistas, enquanto o ônus é socializado entre a população. “A atual política de preços da Petrobrás penaliza o consumidor brasileiro com o objetivo de garantir uma alta lucratividade e farta distribuição de dividendos no curto prazo, privilegiando os acionistas privados”, explica.
Projeções eleitorais
Petroleiro e diretor do Sindicato Unificado dos Petroleiros do Estado de São Paulo (Sindipetro-SP), Alexandre Castilho observa que, no atual governo, a estratégia da Petrobrás tem sido seguir com o PPI e altos lucros. “Apesar das declarações recentes do presidente sobre o incômodo dele com os aumentos dos preços, o governo não dá nenhum indício de que mudará a estratégia atual da estatal”, avalia.
Segundo o dirigente, a opção de oferecer à população acesso aos combustíveis com um preço que não seja equiparado ao mercado internacional virá apenas com uma mudança de governo. “Somente assim os preços poderão cair, ou seja, se um novo governante abrasileirar a política de preços’’, expõe.