“Não lembro quando foi a última vez que uma mulher recebeu aumento”, afirma petroleira

Foto: Sindipetro SP

Mulheres e homens debateram o machismo dentro e fora da Petrobrás em ato nesta manhã na Refinaria de Paulínia (Replan)

[Por Guilherme Weimann, da imprensa do Sindipetro SP]

Possivelmente, nenhuma outra atividade ligada ao 8 de março, Dia Internacional de Luta das Mulheres, reuniu uma porcentagem tão grande de homens. Isso porque, na Petrobrás, as mulheres representam apenas 16% do quadro de trabalhadores. Na Refinaria de Paulínia (Replan) – a maior do Sistema Petrobrás – a estimativa de operárias é ainda menor, já que as mulheres se concentram mais nas áreas administrativas.

Mas se o número de trabalhadoras mulheres na Petrobrás deveria aumentar, o predomínio de homens no ato desta quarta-feira (8), na Replan, não é um problema, muito pelo contrário. Essa é a opinião da diretora do Sindicato Unificado dos Petroleiros do Estado de São Paulo (SP) e da Federação Única dos Petroleiros (FUP), Cibele Vieira.

“Nós não vamos superar o machismo estrutural sem a participação de vocês, homens. Temos que enxergar o machismo não apenas como uma ação individual. É óbvio que cada um de vocês têm responsabilidade em romper comportamentos machistas, em apoiar as mulheres que estão no seus convívios, mas é importante atacarmos as estruturas”, opina Vieira.

E as estruturas, na Petrobrás, ainda estão longe de serem as ideais. A operadora da Replan desde 2002, Josiane Sanches, recorda algumas das dificuldades que passou dentro da unidade, apenas por ser mulher. “Quando eu entrei aqui, em 2002, eu tinha 21 anos. Só eu e a Laura trabalhávamos na Casa de Controle Local (CCL) e não tínhamos banheiro. Tínhamos que ir em um banheiro abandonado do Coque. Mais recentemente, a obra de revitalização do banheiro feminino durou dois anos, enquanto a do masculino foi concluída em poucos meses”, recorda Sanches.

A petroleira ainda denuncia não receber aumentos, que homens nas mesmas funções recebem periodicamente: “Eu já ouvi que não recebi aumento por mérito porque engravidei, porque eu era mulher. O que nós queremos é respeito, respeito pelo próximo. E equidade, queremos equidade, porque no meu setor somos seis mulheres e eu não lembro quando foi a última vez que nós recebemos aumento salarial”.

Mãe solo, a trabalhadora aponta a necessidade de cooperação dos homens para romper essa estrutura patriarcal: “Uma pensadora falou há algum tempo que homens têm medo de que as mulheres riam deles. Mas nós, mulheres, temos medo de sermos mortas. Hoje, eu acredito que as taxas de feminicídio têm aumentado porque não aceitamos mais a opressão. Eu sou mãe solo, e tento mostrar no dia a dia que ele não pode se achar melhor do que nenhuma mulher. Aqui, é importante vocês prestarem atenção quando uma companheira falar. Se você presta atenção quando um colega homem fala, por que não faz isso quando uma companheira mulher fala?”.

Atividades semelhantes estão ocorrendo em todas as bases da Petrobrás com atuação da FUP. Além disso, no período da tarde, as petroleiras se somarão aos atos unitários convocados pelos movimentos feministas.