Mulheres na FUP: Pesquisa revela a importância das cotas para a redução das desigualdades de gênero

Painel do 9º Encontro Nacional de Mulheres Petroleiras discutiu resultados de pesquisa que investigou a participação das mulheres na direção da FUP

[Por Debora Junqueira, da Comunicação do Sindipetro/MG]

Na segunda mesa do IX Encontro Nacional de Mulheres Petroleiras, que aconteceu nessa quarta-feira, 23, a advogada e pesquisadora Mariana Velloso apresentou os principais pontos de sua dissertação de mestrado intitulada “Essa fala foi dela companheiro: o pé na porta e a participação das mulheres na Federação Única dos Petroleiros”, a respeito das mulheres petroleiras sindicalistas.

O painel teve a mediação da petroleira Miriam Cabreira, a primeira presidenta eleita do Sindipetro-RS. Ela frisou a importância de enxergar o diagnóstico sobre a discriminação de gênero para mudar essa realidade. “A gente não aguenta ser forte o tempo inteiro, não somos supermulheres. É muito importante esse debate de gênero na pauta do movimento sindical para avançarmos”, reforçou.

Mariana Velloso investigou a participação das mulheres na direção da FUP durante o mandato de 2017-2020, o primeiro a ter a aplicação de cota mínima para as trabalhadoras, garantindo oito vagas para as mulheres petroleiras na composição da entidade. Na pesquisa, foram ouvidos 12 diretores da FUP, sendo 8 homens e 4 mulheres.

Leia também: Pesquisa retrata a luta pela participação das mulheres na FUP

Ela destaca o fato de somente as cotas, uma reivindicação do coletivo de petroleiras da FUP, terem dado garantia de maior representatividade de mulheres entre todas as gestões da entidade. A pesquisadora relata que as cotas foram tratadas de uma maneira inédita e a participação das mulheres vista como um choque. A dissertação traz dados sobre as dificuldades das mulheres sindicalistas também estarem relacionados com resistências internas dentro da Federação.

Outro tópico abordado foi a diferenciação na divisão do trabalho doméstico entre as mulheres e os homens entrevistados, o que levantou o debate sobre a polarização do trabalho feminino e a opressão de classe e de raça. “Via de regra o homem continua com menos responsabilidade quanto aos serviços domésticos e a mulher de classe média contrata outra mulher para essas tarefas”, apontou a pesquisadora.

Também foi lembrado que as mulheres acabam assumindo a carga mental da organização do trabalho com o cuidado da família. O cansaço foi um dos problemas relatados pelas petroleiras militantes no estudo elaborado por Mariana. “Esse tema estava presente na fala de todas as diretoras, em maior ou menor medida. As viagens, os embates com a empresa, a rotina de mobilização com a categoria, até mesmo as dificuldades de relacionamento na federação… Todas essas são questões que estão presentes e trazem cansaço para a rotina de todo e toda dirigente sindical. Acontece que as mulheres lidam com um cansaço que vai além disso”, explica em entrevista disponível no site da FUP.

Ela destacou o esforço que as sindicalistas precisam fazer para viabilizar as pautas de gênero. A pesquisadora verificou que, muitas vezes, o apoio dos homens fica só no discurso. “Alguns homens dizem: tem essa pauta que eu vou apoiar -, mas a construção dela fica por conta das mulheres e elas não dão conta de carregar essa pauta sozinha. Se as pautas ficarem sempre no campo das mulheres, inviabiliza”, afirma.

As entrevistas feitas para a pesquisa mostraram que as sindicalistas são uma minoria em busca de espaço num ambiente masculino e com regras que sustentam a discriminação machista e causa danos às mulheres. “O simples fato de estar ali já configura um enfrentamento”. Sua opinião é a de que a percepção desse embate aumenta a dificuldade de trazer mais mulheres para o movimento sindical.