MRV financia contratação de Diego Costa, mas nega papel higiênico aos trabalhadores

No mesmo dia em que o atacante é apresentado no Atlético-MG, após viajar em avião de R$ 253 milhões do dono da MRV e mecenas do clube, Rubens Menin, funcionários da empresa mantém greve em Campinas (SP)

Por Guilherme Weimann, do Sindipetro Unificado-SP

São exatamente 600 quilômetros que separam a Cidade do Galo, como é conhecido o Centro de Treinamento do Clube Atlético Mineiro, localizado em Vespasiano, município mineiro vizinho à Belo Horizonte, e as obras do Villa Garden, um complexo de apartamentos na Vila Industrial, em Campinas, no interior de São Paulo.

Nesta quinta-feira (19), enquanto um novo reforço milionário está sendo apresentado no Galo – como o clube de futebol é carinhosamente chamado pela torcida –, aproximadamente 700 trabalhadores da construção civil mantém mobilizações de uma greve iniciada há 38 dias, respectivamente.

Temos muitas vezes que lavar copos descartáveis nas obras, já tivemos muitos casos de covid-19. Chega até a faltar papel higiênico

 

Mas o que esses dois eventos têm em comum? A resposta gira em torno da MRV, grupo econômico que viabilizou a contratação de Diego Costa, atacante sergipano naturalizado espanhol e com carreira de sucesso na Europa. Por outro lado, a autoproclamada “maior construtora da América Latina” tem travado uma queda de braço com seus trabalhadores.

“Temos muitas vezes que lavar copos descartáveis nas obras, já tivemos muitos casos de covid-19. Chega até a faltar papel higiênico”, relata o presidente do Sindicato da Construção Civil, Montagem e Mobiliário de Campinas e Região (Sinticom Campinas), Juscelino Souza Júnior.

Além da falta de materiais de higiene básica, a greve deflagrada no dia 13 de julho teve como motivação a escassez de equipamentos de proteção individual e o valor da participação nos lucros e resultados (PLR) oferecido pela empresa. “Estamos pedindo R$ 6 mil e a empresa ofereceu no máximo R$ 650,00”, informa o sindicalista.

Trabalhadores realizam manifestação durante greve que já dura 38 dias (Foto: Divulgação Sinticom)

Duas audiências foram realizadas no Tribunal Regional do Trabalho (TRT) e uma no Ministério Público do Trabalho (MPT). Nesta última, houve uma proposta de acordo, com o pagamento de um salário nominal para cada trabalhador, acolhido pela categoria, mas recusado pela empreiteira.

Enquanto a negociação não avança, cerca de 700 trabalhadores mantêm a paralisação em seis obras do Complexo Villa Garden e três obras no Complexo Colinas, ambas em Campinas; e uma obra no Residencial Ambrósio, em Santa Bárbara d’Oeste.

Dois pesos e duas medidas

Em abril deste ano, o Atlético-MG realizou um evento chamado Galo Business Day, no qual apresentou seus números financeiros, incluindo uma dívida de R$ 1,2 bilhão. Apenas em 2020, foram gastos R$ 253 milhões na aquisição de atletas, que se somaram a um elenco que custava, na ocasião, R$ 630 milhões.

Boa parte da dívida do clube foi adquirida com empréstimos do grupo conhecido como “4 R’s”: Rubens Menin, Rafael Menin, Ricardo Guimarães e Renato Salvador. Rubens Menin e seu filho, Rafael Menin, são donos de um conglomerado econômico que inclui, além da MRV Engenharia, as empresas Urba, Luggo, Banco Inter, a emissora de televisão CNN e a Rádio Itatiaia – que possui a maior audiência no estado de Minas Gerais. Já Ricardo Guimarães é dono do Grupo BMG e Renato Salvador é dono da Rede de Hospitais Mater Dei. Juntos, os quatro empresários emprestaram R$ 400 milhões ao clube e, com isso, têm ganhado cada vez mais influência nas decisões do clube.

Entretanto, o “vovô Menin”, como Rubens Menin é chamado por alguns torcedores, é o mais proeminente e popular dos “4 R’s”. Foi no seu jatinho particular, do modelo Bombardier Global 6000 e avaliado em R$ 253 milhões, que o atacante Diego Costa desembarcou na capital mineira na última terça-feira (19).

Apesar do sigilo dos valores envolvidos na negociação com o atleta, especulações apontam que o salário do jogador, com contrato válido até o final de 2022, deverá girar em torno de R$ 1,2 milhão por mês.

O valor de R$ 6 mil reais reivindicado como PLR pelos 700 trabalhadores poderia ser pago com 3,5 meses de salário do atacante.

Procurada, a MRV não se pronunciou até o fechamento desta reportagem.