A segunda troca no comando da Petrobrás anunciada pelo presidente Jair Bolsonaro é mais um passo do governo para acelerar o desmonte da empresa. Lobista que há décadas serve aos interesses das multinacionais de petróleo, Adriano Pires, além de defender a política de preços de paridade de importação, já afirmou em diversas ocasiões que é a favor da privatização da Petrobrás.
“O indicado do Governo Federal vem para acelerar a privatização da estatal e assumir o eventual desgaste pela crise no lugar do presidente Jair Bolsonaro. Já estou esperando declarações como ‘os preços estão altos por causa dos altos salários da estatal’ ou ‘privatizar e usar o dinheiro como subsídio é a melhor saída para baixar os preços dos combustíveis”, declarou o coordenador geral da FUP, Deyvid Bacelar, avisando que os petroleiros vão responder à altura aos ataques que ele vier a fazer contra a Petrobrás. Ele lembra que a categoria aprovou em dezembro estado de greve e que irá reagir a qualquer tentativa de privatização da empresa.
A saída do general Silva e Luna ocorre em meio aos sucessivos aumentos dos preços dos combustíveis, enquanto o governo Bolsonaro tenta se esquivar do problema, fazendo mais uma troca no comando da Petrobrás, que em nada irá alterar a realidade do povo brasileiro, que continua sendo obrigado a pagar em dólar pelo botijão de gás, que ultrapassa os R$ 130,00, e pelo diesel e gasolina, cujo litro já é vendido a R$ 8 em diversas cidades.
Queridinho da mídia e do mercado, o futuro presidente da Petrobrás, Adriano Pires, não esconde a que virá. Em artigo publicado em outubro do ano passado no site Poder 360, intitulado “Solução final para preços dos combustíveis é privatizar a Petrobras”, ele afirma: “O fato é que, apesar da Petrobras perseguir nos últimos anos os preços praticados no mercado nacional, tanto os preços da gasolina quanto do óleo diesel estão consistentemente defasados dos preços do mercado internacional desde abril de 2021”.
Além de afirmar que os reajustes frequentes nos preços ainda não são suficientes para saciar a fome de lucro dos acionista, ele foi categório: “A solução definitiva só virá com a privatização da Petrobras. Enquanto a empresa for de economia mista, tendo o Estado como controlador, os seus benefícios corporativos e as práticas monopolistas serão mantidos –a favor da corporação e, muitas das vezes, contra os interesses do Brasil”.
Ineep: “Ao que tudo indica, PPI deve ser mantido”
Em entrevista à Rede Brasil Atual, o diretor-técnico do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep), William Nozaki, disse acreditar que, pela longa trajetória de Pires como lobista de empresas do setor de óleo e gás, o novo presidente da Petrobrás deva ser “mais pragmático do que ideológico”. Ele concorda que não haverá mudanças na política de Preço de Paridade de Importação (PPI), que vem rendendo lucros extraordinários aos acionistas da Petrobrás, enquanto os brasileiros sobrem com a alta dos combustíveis.
“O PPI tem sido um cemitério de presidentes da Petrobras. Problemas relacionados aos preços já derrubaram Pedro Parente, Roberto Castelo Branco e agora, Joaquim Silva e Luna”, disse Nozaki. “Mas, ao que tudo indica, o PPI deve ser mantido”, acrescentou.
Ele lembra que Silva e Luna chegou ao comando da Petrobras em abril do ano passado e, desde então, o preço médio nacional do litro da gasolina nos postos saltou de R$ 5,441 para R$ 7,21, aumento de 32,5%, de acordo com a Agência Nacional de Petróleo (ANP). Com alta ainda maior, de 56,1%, o diesel saltou de R$ 4,204 para R$ 6,564, nesse período.
“Pires defende que o aumento no preço dos combustíveis e do gás deve ser enfrentado com recursos públicos, sem a participação da iniciativa privada, utilizando parcela dos royalties e participações da Petrobras ou subsídios do Tesouro Nacional. Para ele, o bônus deve ser toda da iniciativa privada e o ônus deve ser todo do Poder Público”, afirmou Nozaki.
Em vez de mudar o PPI, Pires já defendeu a criação de um fundo de estabilização para desatrelar o preço dos combustíveis do mercado internacional. O Senado aprovou, no início do mês, o Projeto de Lei 1.472/21 que cria esse fundo. O texto agora aguarda votação na Câmara dos Deputados. No entanto, os senadores esvaziaram a proposta, ao retirarem a criação de um imposto sobre exportação de petróleo bruto.
Ou seja, por pressão das petrolíferas estrangeiras, esse fundo, se sair do papel, será custeado com recursos dos contribuintes. “A questão problemática, entretanto, é a fonte para o financiamento desses recursos. O projeto aprovado e a posição de Adriano Pires convergem na defesa da utilização de recursos públicos para resolver o problema criado por pressão das empresas privadas e internacionais”, disse o diretor do Ineep.
[Imprensa da FUP, com Rede Brasil Atual]