Lawfare e fake news foram usados para romper pacto democrático, apontam especialistas

Na primeira mesa da IX Plenária Nacional da Federação Única dos Petroleiros (Plenafup), o jornalista Luis Nassif e a jurista Kenarik Boujikian debateram alternativas ao conservadorismo

Por Guilherme Weimann, do Sindipetro Unificado-SP

Nesta quinta-feira (12), começaram os debates da IX Plenária da Federação Única dos Petroleiros (Plenafup), encontro que reúne as principais lideranças da categoria e os sindicatos associados à federação em todo o país. No final da tarde, ocorreu a primeira mesa, denominada de “Fascismo e Democracia (a que queremos), que contou com a participação da jurista Kenarik Boujikian, da Associação Juízes para a Democracia (AJD), e do jornalista Luis Nassif, editor do GGN.

Boujikian chamou atenção para o rompimento do que chamou de “projeto Brasil”, que vinha sendo fortalecido desde a Constituição de 1988 e ganhou força durante os governos do Partido dos Trabalhadores (PT). “O impeachment foi o ato mais contundente de uma estratégia para romper o projeto do país que estava em curso. Nós vemos o rompimento dos patamares de convivência democrática”, opinou.

A desembargadora aposentada afirmou que um dos principais instrumentos utilizados nesse processo foi o lawfare, um termo que deriva de duas palavras da língua inglesa, law (lei) e warfare (guerra). “Até o Papa Francisco chamou atenção para o lawfare, que é um risco para a democracia. O lawfare consiste no uso indevido de procedimentos legais e judiciais, com o objetivo de minar processos políticos emergentes. É importante a gente ter em conta que, para garantir a qualidade institucional do Estado, nós precisamos detectar e pensar em fenômenos para neutralizar essa prática, que vem de uma atuação judicial imprópria, combinada com a multimídia”, sugeriu.

Essa atuação multimídia foi justamente o ponto mais destacado na explanação de Nassif. “A gente precisa parar de idealizar a opinião pública e a mídia como se fossem posturas regeneradoras da sociedade, não são. A opinião pública e a mídia vão por ondas. A mídia é, fundamentalmente, empresas comerciais com interesses econômicos específicos, e esses interesses que conduzem as ondas. Não existem princípios que seguram a peteca. Existe uma cartelização do mercado da mídia no Brasil que formou um discurso único”, apontou.

Para superar esse cenário, o jornalista apontou que é necessário resgatar princípios comuns e, principalmente, criar mecanismos para combater as fake news. “O grande desafio é focar em princípios comuns de defesa dos direitos, constatação das fake news econômicas, que são tão cruéis como as fake news da saúde, e recuperar o conceito de nação. Hoje, o papel do Estado é central. Criaram uma narrativa maluca que privatização é bom para tudo, para dor de dente, dor de barriga, para tudo. Nós temos uma grande luta pela frente que não está restrita ao Bolsonaro”, afirmou.

A Plenafup continua nesta sexta-feira (13), com a mesa “Transformações nas Relações de Trabalho e Representação Sindical”, com a participação do sociólogo Clemente Ganz Lúcio, ex-diretor do Dieese e a economista Marilane Teixeira, pesquisadora da Universidade de Campinas (Unicamp) e do Fórum Permanente em Defesa dos Direitos dos Trabalhadores Ameaçados pela Terceirização.

Confira aqui a programação completa.