Poço de Candeias: Há 80 anos, começava a indústria de petróleo no Brasil

Foto: Pedro Henrique Caldas/Sindipetro BA

Nesta terça, 14/12, os petroleiros da Bahia celebram os 80 anos do poço de Candeias, que deu início à exploração comercial de petróleo no Brasil e impulsionou a criação da Petrobrás

[Da imprensa do Sindipetro Bahia]

Em 14 de dezembro de 1941 jorrava do poço Candeias 1 (C-1), na Bahia, o tão cobiçado “ouro negro” dando inicio ao sonho da soberania nacional brasileira a partir da comercialização do petróleo. Para celebrar esse marco, o Sindipetro Bahia está realizando uma série de atividades esta semana (saiba mais aqui), que teve início com um grande ato no Trevo dos 50 (Candeias), na BA 522, entroncamento de Candeias para São Francisco do Conde.

Passados 80 anos, faz-se necessário lembrar o difícil começo desta saga, que exigiu muitos sacrifícios dos precursores de uma categoria que anos mais tarde se tornaria referência nacional de luta: os petroleiros. Na época, a região era coberta de mato alto e de extensas áreas de mangue. A sonda de perfuração era transportada em carros de boi e, com muita dificuldade, os trabalhadores abriam a mata a facão para chegar ao local onde a sonda seria instalada.

Foi a partir da Bahia, estado onde o Brasil e a Petrobrás nasceram, que o petróleo ganhou novos contornos e sua exploração e produção tornou-se realidade também para outros estados. A Bahia deu “régua e compasso” para que a indústria de petróleo pudesse florescer. Os pioneiros petroleiros da Bahia exportaram o seu conhecimento técnico para que futuramente fosse possível descobrir e explorar novos e importantes campos de petróleo Brasil afora, como a Bacia de Campos (RJ), os campos terrestres de Carnopólis (SE), o do Alto do Rodrigues (RN), São Mateus (ES), São Miguel (Al), Urucu (AM), Fazenda Belém (CE) e o Pré-Sal.

O Campo de Candeias, que pertencia ao Conselho Nacional de Petróleo, pois a Petrobrás ainda não havia sido criada, é a pedra fundamental do petróleo e deve ser sempre lembrado e festejado, não apenas pela Bahia, não apenas pelos petroleiros, mas pelo Brasil e pelo povo brasileiro, pois foi a partir da descoberta deste campo que um novo cenário começou a ser desenhado no Brasil.

Com a criação da Petrobrás, em 1953, e a constituição da chamada RPBA (Região de Produção de Petróleo da Bahia) hoje denominada UO-BA (Unidade Operacional da Bahia), outros campos de petróleo e gás passaram a ser explorados no recôncavo baiano.

Como é intrínseco à atividade, logo surgiu a necessidade de processar esse óleo e seus derivados. Assim, em 1950, foi criada a Refinaria Landulpho Alves (RLAM), no município de São Francisco do Conde, próximo à cidade de Candeias, onde o promissor campo de petróleo atuava a todo vapor produzindo, no seu auge, cerca de 10 mil barris de petróleo por dia.

O surgimento dessa nova riqueza incentivou, em 1953, a oficialização do monopólio estatal sobre a atividade petrolífera e a criação da empresa estatal “Petróleo Brasileiro S.A.”, mais conhecida como Petrobras É importante ressaltar que o estabelecimento do monopólio e a própria criação da estatal vieram juntos com uma forte campanha popular denominada o “Petróleo é Nosso”, que teve muita força em todo o Brasil, e principalmente na Bahia. Até 1965, a Bahia foi o único estado nacional a produzir petróleo.

Para dar vazão ao gás produzido nos campos terrestres do recôncavo baiano foi criada, em 1971, a Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados, a FAFEN (antiga Nitrofértil), localizada no Polo Petroquímico de Camaçari, que no ano de 1993 foi incorporada à Petrobás. A partir da Bahia, a produção de petróleo e gás em campos terrestres avançou Nordeste afora.

Tendo como ponto de partida a produção da UO-BA nasceu uma grande indústria ancorada na produção do petróleo e seus derivados explorados nos campos terrestres da Petrobrás.

Esse foi só o começo de uma grande história que levou à ampliação do Sistema Petrobrás à criação do Polo Petroquímico de Camaçari – o mais integrado do hemisfério Sul – e à aceleração do desenvolvimento econômico da Bahia e do Brasil.

Desmonte

Mas, infelizmente, a Bahia, estado onde surgiu o petróleo, foi o local escolhido pelo governo federal para dar início ao desmonte da Petrobrás e à venda de suas unidades a preços abaixo dos valores de mercado. E justamente o Campo de Candeias, berço da comercialização do petróleo no Brasil, foi vendido para a empresa 3R Petroleum. Mas não só ele, outros campos de exploração e produção de petróleo e gás, não só na Bahia, mas em outros estados do país, também foram vendidos.

A gestão da estatal deu início a uma autossabotagem, quebrando a cadeia de petróleo do Nordeste para justificar a venda e fechamento de suas unidades. Para isto, reduziu consideravelmente a capacidade instalada da Rlam, forçando o Brasil a importar gasolina, diesel e GLP, que poderiam ser produzidos no país.

Adotou o PPI –Preço de Paridade de Importação- levando os preços dos derivados de petróleo às alturas, transformou em commodities o preço do gás produzido por ela mesma, inviabilizando economicamente as suas próprias fábricas de fertilizantes, fechou a sede administrativa da empresa em Salvador e parou de investir nos seus campos terrestres de petróleo e gás, colocando-os à venda. Assim como estão à venda a Petrobras Biocombustível e as termelétricas (algumas já vendidas).

Porém, a atual gestão da Petrobrás não conseguiu apagar a história dessa grande empresa, forjada a partir da dedicação e luta dos petroleiros e petroleiras de todo o Brasil. A eles e a elas, dedicamos esta data “em que comemoramos os 80 anos da descoberta do Campo de petróleo de Candeias, na esperança de que dias melhores virão e que conseguiremos resgatar a Petrobrás que queremos: pública, integrada e a serviço da nação brasileira”.