Por Deyvid Bacelar, coordenador-geral da Federação Única dos Petroleiros (FUP) e membro do Conselho de Desenvolvimento Econômico, Social e Sustentável (CDESS)
O setor de petróleo e gás natural, que representa cerca de 10% do PIB industrial brasileiro, vai continuar contribuindo firmemente para o crescimento econômico do país, geração de emprego e de renda. E mesmo em meio às iniciativas voltadas para a transição energética, a produção nacional de petróleo e gás seguirá crescendo ao longo dos próximos anos, segundo estimativas da Agência Nacional do Petróleo, Gás e Biocombustíveis (ANP). Deverá alcançar em torno de 5,2 milhões barris de óleo equivalente por dia em 2031, acima dos atuais 3,7 milhões de barris de petróleo por dia, que colocam o Brasil na posição de nono maior produtor de óleo do mundo e o primeiro da América Latina.
Porém, a segurança energética do Brasil a médio e longo prazo passa, necessariamente, pelo equilíbrio entre a produção de petróleo e gás natural e a reposição de suas reservas. E para que o país não corra o risco de romper esse equilibro estratégico é imprescindível a busca por alternativas exploratórias, em território brasileiro e no exterior, conforme mostram projeções da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) e da Empresa de Pesquisa Energética (EPE).
Segundo a ANP, a proporção entre as reservas provadas e a produção brasileira de petróleo e gás natural – conhecida como relação R/P – é de apenas 13 anos, considerando os números de 2023, quando a produção média foi de 3 milhões de barris/dia.
Já as estimativas da EPE, que constam do Plano Decenal de Expansão de Energia (PDE), indicam que a partir da década de 2030, a curva de produção de petróleo no Brasil atingirá seu pico e tenderá a entrar em declínio, mesmo com a entrada em produção de recursos ainda não descobertos.
Segundo a EPE, 94% da produção de petróleo projetada para esse período terá origem em Recursos Descobertos (RD). Diante desse cenário, e do fato de que o intervalo entre a descoberta de novas reservas e o início da produção pode levar até 10 anos, dependendo das características geológicas das jazidas, torna-se indispensável a realização de investimentos exploratórios especialmente em novas fronteiras. Ou seja, a busca de novas reservas se faz necessária para manter o nível de produção e reservas do país de modo a assegurar a segurança energética nacional.
Campanhas exploratórias da Petrobrás em bacias nacionais permanecem sendo fundamentais. Porém, aquisições em blocos exploratórios no exterior, como as recentemente anunciadas pela empresa no continente africano, também são importantes, tanto para a reposição de suas reservas quanto para consolidar uma nova e relevante posição da companhia no contexto internacional, em consonância com a retomada do protagonismo da diplomacia brasileira em direção ao Sul Global, particularmente em seu entorno estratégico.
Dados divulgados pela Petrobras reforçam ainda mais a necessidade de atenção à recomposição das reservas de petróleo e gás natural. Em 2023, as reservas provadas de petróleo, condensado e gás natural da empresa estatal foram estimadas em 10,9 bilhões de barris de óleo equivalente (boe). Com base nesses números e na produção da companhia, a relação entre reserva e produção (R/P) da Petrobrás, em 2023, é de aproximadamente 12,2 anos, o que significa que as reservas provadas seriam suficientes para sustentar a atual taxa de produção da empresa por pouco mais de uma década, como calculam pesquisadores do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep).
O Brasil ainda possui significativas fronteiras exploratórias, com destaque para a Margem Equatorial – que, no entanto, ainda enfrenta incertezas decorrentes de questões socioambientais – e a Bacia de Pelotas, cujas receitas serão essenciais para financiar investimentos em tecnologias indispensáveis à transição energética.
Aliados aos movimentos internos da Petrobrás, os investimentos da empresa no segmento de Exploração e Produção (E&P) no exterior refletem um reposicionamento estratégico da companhia no cenário atual e representa uma ruptura com as políticas da gestão anterior, uma vez que promove aumento dos investimentos em E&P no Brasil e no mercado internacional.
É nesse contexto que se colocam aquisições na participação de blocos exploratórios em regiões com elevado potencial, como a Bacia de Orange, na África do Sul, e em São Tomé e Príncipe, que registraram descobertas recentes. De modo geral, são regiões com características geológicas com relativa similaridade ao pré-sal brasileiro, onde a Petrobrás desenvolveu grande capacidade operacional.
A Petrobras divulgará o seu Plano Estratégico 2025-2029 no dia 21 de novembro de 2024. As expectativas são de que a exploração de novas fronteiras, como Margem Equatorial e a Bacia de Pelotas, estará entre as prioridades dos investimentos.
A Bacia de Pelotas, que apresenta relativa semelhança geológica com a Bacia do Rio Orange, atraiu grande interesse durante o 4º ciclo de oferta permanente realizado pela ANP em 2023. Dos 44 blocos leiloados, a Petrobras adquiriu 29, enquanto a Chevron ficou com os 15 restantes.
Francismar Ferreira, PhD em Geografia e pesquisador da área de Exploração e Produção do Ineep, observa que, entre 2002 e 2012, foi registrada a perfuração de cerca de 1055 poços pioneiros no Brasil, sendo 45,2% no mar e 54,8% em terra – um número elevado, que foi alavancado pelos investimentos exploratórios da Petrobras especialmente no Pré-sal.
Já na última década, as atividades exploratórias no Brasil sofreram redução acentuada, resultando em poucos avanços em novas fronteiras. Entre 2013 e 2023, foram perfurados apenas 288 poços pioneiros – redução de 72,7% em uma década. A queda no número de perfurações no mar foi de 85,1% e em terra, de 62,4%. Além disso, cerca de 53,4% dos poços perfurados nessa última década se concentraram em áreas classificadas pela ANP como maduras ou de elevado potencial na região do pré-sal. Outras áreas de fronteira, com exceção das bacias de Parnaíba, Amazonas e Solimões, apresentaram poucas ou nenhuma perfuração exploratória no mesmo período.