Mais de 42 mil mortes

Genocídio de Israel em Gaza completa um ano com risco de guerra total

Genocídio promovido por Israel na Faixa de Gaza já dizimou mais de 14 mil crianças (Foto: IRNA)

Massacre contra o povo Palestino já vitimou mais de 42 mil pessoas, em sua maioria mulheres e crianças. Governo de Israel aposta na guerra total, com invasão do Líbano e ameaças ao Irã

[Por Marcelo Aguilar, da comunicação da FUP]

Completou um ano a fase mais radical e macabra do genocídio promovido pelo Estado de Israel, com os Estados Unidos como principal fiador, contra a população palestina na Faixa de Gaza. A ofensiva militar, iniciada após os ataques do Hamas e demais grupos da resistência Palestina que vitimaram mais de 1200 israelenses no dia 7 de outubro de 2023, rapidamente se converteu num castigo coletivo contra a população palestina.

Nesses 365 dias, o mundo assistiu, ao vivo, algumas das piores atrocidades que já foram testemunhadas pela humanidade ao longo de sua história. O exército de ocupação já assassinou mais de 42 mil pessoas segundo as cifras oficiais, dentre elas mais de 17 mil crianças. Especialistas apontam que o número seja muito maior, tal é o caso de um estudo publicado na revista científica The Lancet em julho deste ano, que estima que mais de 186 mil pessoas morreram durante a ofensiva.

População civil soterrada pelos incessantes e indiscriminados bombardeios, destruição quase total da infraestrutura na região, escolas, universidades, hospitais, nada sobrou, condenando a população local à fome e ao deslocamento permanente. A carnificina promovida por Israel está sendo julgada em Haia, na Corte Internacional de Justiça da ONU, após ação ajuizada pela África do Sul por genocídio. No dia 2 de outubro, Israel declarou “persona non grata” o Secretário geral das Nações Unidas, António Guterres.

Genocídio midiatizado

Poucas vezes tamanhas atrocidades foram expostas com tanta clareza frente aos olhos do mundo. As imagens de pessoas queimadas vivas em campos de refugiados, os corpos dilacerados pelos bombardeios, a celebração do horror por parte dos soldados israelenses, tudo foi transmitido ao vivo.

Apesar do cerco promovido por Israel, que não permite a entrada de correspondentes internacionais em Gaza, os jornalistas palestinos têm conseguido não só registrar a carnificina e a destruição quase total da infraestrutura, como também mostrar isso ao mundo. Desde 7 de outubro, segundo dados do Comitê para a Proteção de Jornalistas (CPJ), Israel assassinou pelo menos 128 jornalistas. O Ministério da Saúde de Gaza estima que foram 175.

É o período mais mortífero para profissionais da imprensa desde que a CPJ começou a realizar esse levantamento, em 1992. Para o presidente da Federação Árabe Palestina do Brasil (Fepal), Ualid Rabah, “Israel nunca escondeu sua verdadeira cara para a opinião pública capaz de enxergar”, mas a diferença é que “os próprios palestinos conseguiram televisionar seu próprio genocídio, e as organizações palestinas como a Fepal e diversas outras mundo afora conseguiram mostrar o genocídio e mais do que isso: conseguiram quebrar a narrativa sionista e ocidental ao meio, algo nunca tinha acontecido”.

Nesse sentido, a imprensa hegemônica brasileira, e sobretudo a Rede Globo, tem realizado uma cobertura escancaradamente tendenciosa, criticada pela ausência de vozes palestinas e a naturalização das ações criminosas de Israel. Para Rabah, não representa uma surpresa: “A imprensa hegemônica integra a construção de um projeto colonial de longo prazo, não é que apoia o sistema, ela é parte dele. Veículos hegemônicos como a Rede Globo, desde o primeiro dia defenderam a máxima ação bélica destrutiva, e contribuíram, através da propaganda de guerra, da grotesca desumanização do povo palestino e da midiatização do genocídio sob um único prisma, com a construção de uma opinião favorável ao extermínio”.

Embora exista uma robusta propaganda pró-israelense na mídia ocidental, amplos setores sociais estão se levantando em muitos lugares do mundo em defesa da causa palestina, e estão em mobilizações permanentes. Segundo Rabah, a luta dos comunicadores e dos militantes favoráveis à causa está conseguindo derrubar a narrativa sionista.

“Aquela história de que Israel é um estado normal como qualquer outro, que tem democracia, parlamento, esquerda e direita e instituições normais, que é a única democracia do Oriente Médio, que era uma hipocrisia que contaminava uma parcela do discurso cult das academias, uma parcela do discurso democrático e popular, e certos setores das auto proclamadas esquerdas caiu por terra. As pessoas não compram mais essa narrativa, como se fosse possível existir nazismo de esquerda, colonialismo de esquerda, supremacismo de esquerda, fascismo de esquerda, apartheid de esquerda”, afirma o presidente da Fepal.

A guerra total

“Tudo o que diz respeito à Palestina é uma guerra permanente. A ideia de guerra total não é uma novidade”, afirma Rabah. Ele se refere ao processo de colonização judaica da Palestina, iniciado no final do século XIX e que teve sua consolidação definitiva após a Segunda Guerra Mundial, com a limpeza étnica da Palestina, iniciada em 1948 e denominada Nakba, quando milícias terroristas sionistas expulsaram mais de 700 mil palestinos e arrasaram mais de 500 vilarejos.

“Os ingleses e os franceses impuseram uma guerra total de ocupação colonial já a partir do final da primeira guerra mundial. A guerra de conquista da Palestina foi uma guerra de extermínio imposta por estrangeiros eurojudeus com apoio dos ingleses e depois com o apoio dos Estados Unidos e através da maior limpeza étnica da história, com  a tomada de 78% do território entre 1947 e 1951 e com 88% da população morta ou expulsa, foi uma guerra de extermínio e não uma guerra árabe-israelense”, afirma.

Mas o certo é que Israel, liderado pelo ultradireitista Benjamin Netanyahu, e com um governo de coalizão recheado de sionistas radicais com discurso abertamente genocida e antipalestino, busca ampliar a guerra para outros países da região e isso aumenta o risco da deflagração de uma guerra total em escala regional. Nesse sentido, com o suposto objetivo de acabar com a milícia xiita muçulmana do Hezbollah, Israel realizou atentados terroristas ao explodir dispositivos de comunicação conhecidos como pagers em áreas civis, bombardeou o Líbano e invadiu por terra no início de outubro. Netanyahu ameaçou o povo libanês, ao afirmar: “Vocês têm uma oportunidade de salvar o Líbano antes que ele caia no abismo de uma longa guerra que levará à destruição e sofrimento como vemos em Gaza”.

As tensões também aumentaram com as ameaças realizadas por Israel ao Irã, e o ataque com mísseis realizado pelo país islamico contra Tel Aviv no começo de outubro. A situação tem gerado ampla preocupação internacional, dado o risco de uma escalada ainda maior da guerra na região, uma guerra que também tem desdobramentos no Iêmen, no Iraque e na Síria e pode ter ainda maior alcance mundial.