Reportagem da Revista Época repercute estudo da assessoria econômica da FUP que revela que, enquanto a gestão da Petrobrás exporta óleo cru e subutiliza a capacidade de produção das refinarias, o Brasil quase que dobrou os gastos com importações de óleos combustíveis. Os derivados de petróleo ocuparam a segunda posição no ranking de importações, perdendo somente para os fertilizantes.
A Petrobrás, que tem três fábricas de fertilizantes nitrogenados (Fafen), mantém a planta de Araucária, no Paraná, fechada há dois anos, e arrendou as unidades da Bahia e de Sergipe, que, juntas, poderiam ajudar a abastecer o mercado nacional.
No sábado, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva usou sua conta no Twitter para denunciar os efeitos danosos desta equação na vida do povo brasileiro.
Enquanto a Petrobrás tem 30% do seu refino ocioso, temos 400 empresas importando gasolina dos Estados Unidos, com preço internacional. Nós não precisamos disso. Gasolina aqui tem que ter o custo Brasil, não o custo Estados Unidos. Não é para ser dolarizada.
— Lula (@LulaOficial) January 29, 2022
Em entrevista à uma rádio do Pará, na sexta-feira, 28, Lula tornou a criticar a política de preços abusivos dos combustíveis e avisou que “assim esse país não pode ficar”. Leia aqui.
Íntegra da reportagem da Revista Época:
Levantamento da área econômica da Federação Única dos Petroleiros (FUP) com base nas estatísticas oficiais de comércio exterior revelou que no ano passado o Brasil aumentou a importação de derivados de petróleo e exportou mais óleo cru. As importações de derivados cresceram 82% em valor e somaram US$ 13,4 bilhões.
As importações de óleos combustíveis de petróleo ou minerais betuminosos, exceto óleos brutos, foram o segundo produto mais importado pelo Brasil em 2021, perdendo posição somente para fertilizantes. Segundo a FUP, o comportamento reflete o aumento nos preços internacionais e nas quantidades adquiridas.
Os dados da balança comercial de petróleo e óleos combustíveis, apurados pela Secretaria de Comércio Exterior (Secex), mostram que no ano passado o Brasil ampliou em 28% os volumes de derivados comprados no exterior. Foram adquiridos o equivalente a 22,2 milhões de toneladas.
O preço médio da tonelada subiu 42% em relação ao valor pago em 2020, atingindo US$ 605/t. A área econômica da FUP aponta que um dos motivos que explicam o forte incremento das compras de derivados é o Fator de Utilização do Refino das unidades da Petrobras.
“A paralisação nos últimos anos de investimentos em capacidade produtiva de refino, e a retomada do consumo interno decorrente da flexibilização das medidas de isolamento social obrigam o País a aumentar importações de derivados”, explicou a entidade.
A FUP calcula em 80% o fator médio de utilização do refino no ano passado. Ou seja, uma capacidade ociosa em torno de 20%.
“Parte dessas importações poderia estar sendo atendida pelas refinarias da Petrobras. Porém, a capacidade do Brasil de atender sua própria demanda está limitada desde 2014”, afirmou o coordenador da FUP, Deyvid Bacelar.
Além disso, a decisão da Petrobras de deslocar parte de sua produção de óleo bruto para o mercado externo em vez de refinar internamente abriu mais espaço para importações de derivados, destacou a FUP.
Exportação de petróleo
O Brasil gastou mais em compras de derivados, mas por outro lado aumentou os embarques de óleo bruto cru, informou a entidade. A exportação de óleo cru atingiu US$ 30,4 bilhões em 2021, 55,3% maiores que os US$ 19, 6 bilhões registrados no ano anterior, segundo estatísticas da Secex.
“Com isso, o óleo cru foi o terceiro produto mais vendido no mercado internacional em 2021, atrás somente do minério de ferro e da soja. O produto respondeu por 11% das exportações totais do Brasil”, informou a FUP.
Foram comercializadas 68 milhões de toneladas, a preço médio de US$ 450/t, 60% maior que no ano anterior. E em dezembro, isoladamente, foi o primeiro item de exportação. De acordo com a FUP, a tendência se mantém este ano.
Os resultados da balança comercial de janeiro deverão ser divulgados na semana que vem.