Nova gestão aumenta expectativa de construção de diálogo, cerceado durante a gestão do agora ex-presidente Roberto Castello Branco
Nesta segunda-feira (19), tomou posse a nova diretoria da Petrobrás, encabeçada pelo general Joaquim Silva e Luna. A nova gestão assume após polêmica envolvendo aumentos sucessivos dos preços dos combustíveis, e terá que lidar com grandes desafios, que incluem o combate à pandemia dentro das instalações da empresa. No seu discurso, Silva e Luna afirmou a necessidade de “fazer tudo isso conciliando interesses de consumidores e acionistas; valorizando os petroleiros; buscando reduzir volatilidade, sem desrespeitar a paridade internacional; perseguindo a redução da dívida; investindo em pesquisa e desenvolvimento; e contribuindo para a geração de previsibilidade ao planejamento econômico nacional”.
Pautas
A Federação Única dos Petroleiros (FUP) afirmou por meio do seu coordenador geral, Deyvid Bacelar, que tem vários temas a serem tratados com o novo presidente da empresa. Um deles é justamente a mudança na atual política de preços de paridade de importação (PPI). A FUP afirma que nesta política, com base no preço do barril de petróleo no mercado internacional, na variação cambial e nos custos de importação para reajustes dos preços dos derivados no mercado nacional, “quem paga a conta é o cidadão brasileiro, com aumentos sistemáticos nos preços do diesel, gasolina e gás de cozinha, por exemplo”.
Outro ponto central é o combate à covid-19 nas unidades da empresa. Os números de contágio são alarmantes. De acordo com o último Boletim de Monitoramento do Ministério de Minas e Energia (MME), publicado nesta segunda (19) de abril, mais de 6400 pessoas já foram contaminadas nas unidades da Petrobrás, e 23 trabalhadores faleceram. O quadro é gravíssimo, e a FUP não possui informações sobre trabalhadores terceirizados. A federação cobra da gestão maior transparência na divulgação das cifras e das informações relacionadas aos protocolos, assim como cobra participação junto à Estrutura Operacional de Resposta da empresa. Ainda em relação ao combate à covid 19, os petroleiros querem discutir com a empresa a postergação das paradas para manutenção das unidades da companhia, dentro dos prazos definidos em lei. Ditas paradas implicam grandes aglomerações de trabalhadores e vêm contribuindo fortemente para aumentar os casos de contaminação entre os petroleiros.
Foto: Imprensa FUP.
Reivindicação também relevante é a suspensão da venda da Refinaria Landulpho Alves (RLAM), na Bahia. “É um risco dar prosseguimento a esse processo de venda. Ele representa a entrega de um patrimônio público por um preço vil, que representa menos da metade de seu valor”, afirma Bacelar. Essa subprecificação motivou os petroleiros a entrarem com ação popular, na Justiça Federal da Bahia, assinada também pelos senadores Jaques Wagner (PT/BA), ex-governador da Bahia, e Otto Alencar (PSB/BA), que preside a Comissão de Assuntos Econômicos do Senado. Denúncias também foram feitas nos órgãos de controle como o Tribunal de Contas da União (TCU), a Controladoria Geral da União (CGU) e na Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Atualmente, o TCU analisa a suspensão de venda do ativo.
Bacelar defende a importância da retomada do investimento, atacada pela gestão anterior: “Nos últimos anos, o papel da Petrobrás está se restringindo à exploração e produção de petróleo, reduzindo drasticamente os investimentos em outras áreas, como pesquisa e desenvolvimento de novas fontes energéticas. Com foco, apenas, no pré-sal, retirou-se de outras áreas estratégicas e, agora, está prestes a diminuir pela metade sua atividade em um dos setores mais importantes da cadeia produtiva, o refino”.
A FUP tem como uma pauta prioritária também interromper a transferência da carteira de beneficiários da Assistência Multidisciplinar de Saúde (AMS) à Associação Petrobras de Saúde (APS), operadora de planos de saúde idealizada pelo ex-presidente Roberto Castello Branco, demitido em fevereiro, e por seu então gerente Executivo de Recursos Humanos, Cláudio da Costa, demitido após suspeitas de ter utilizado informações privilegiadas para especulação na bolsa. Além dessa questão, a federação quer discutir a interrupção imediata dos descontos abusivos da AMS que estão sendo impostos aos trabalhadores da ativa, aposentados e pensionistas, em um claro descumprimento do acordo coletivo de trabalho.
Diálogo
Em seu discurso, Silva e Luna valorizou os trabalhadores e trabalhadoras da Petrobrás. Após dizer que a força de trabalho era o “maior patrimônio da empresa”, completou: “A Petrobrás tem alma, corpo bem articulado e integrado, quadro de pessoal comprometido, engajado, vibrante, profissional, com sentimento de pertencimento à empresa; e que sempre se atualiza, posicionando-se na vanguarda do conhecimento”.
A FUP espera que essa sinalização tenha efeitos concretos na prática cotidiana. “A expectativa é de que a nova administração da Petrobrás esteja aberta à comunicação com os petroleiros. A nova gestão precisa dialogar mais com os trabalhadores e trabalhadoras e com o movimento sindical, estabelecendo um canal de entendimento e de soluções de conflitos”, aponta Bacelar.
O petroleiro afirma ainda que essa vontade de diálogo não é de hoje: “Em toda a história da nossa entidade, sempre buscamos construir, na prática, um canal de entendimento entre trabalhadores e gestores, não apenas no sentido de resolução de conflitos – que são inerentes à natureza das relações trabalhistas –, mas também para buscar o que é o melhor para a empresa que construímos diariamente, que é tão importante para a economia e o desenvolvimento do país”.