Entre 2016 e 2022, a empresa registrou 915 denúncias de violências no trabalho. Nova gestão da estatal cria grupo de trabalho para enfrentar a questão
Entre os anos de 2016 e 2022, a Petrobrás recebeu, por meio do seu canal de denúncias, cerca de 915 registros de violências no trabalho e violência sexual nas unidades administrativas e operacionais da empresa. Diante do alto número de ocorrências, a Federação Única dos Petroleiros (FUP) propôs à nova gestão da Petrobrás a criação de dez Grupos de Trabalho (GTs) que debatam temas relacionados ao Acordo Coletivo de Trabalho da categoria petroleira, entre eles, questões de Segurança, Saúde e Meio Ambiente (SMS) e saúde mental dos trabalhadores.
No dia 11/05 foi realizada a primeira reunião do GT de SMS e Saúde Mental da Petrobrás. O Grupo teve a participação de representantes da empresa, da FUP e sindicatos filiados. A FUP apresentou as pautas mais urgentes da categoria, com atenção especial à saúde mental dos trabalhadores.
Entre 2016 e 2021, houve modificações consideráveis na política de SMS da Petrobrás, que causaram precarizações nas instalações, fato que contribuiu para aumentar a ocorrência de acidentes de trabalho nas unidades operacionais da empresa. Outro ponto importante abordado durante a reunião foram as denúncias de assédio moral e sexual e a mudança no padrão dos exames periódicos, que deixou de atender às necessidades etárias e de gênero dos funcionários.
“O descaso da gestão anterior da Petrobrás em relação à saúde mental dos trabalhadores causou o adoecimento de uma parcela significativa dos funcionários das áreas administrativas e, sobretudo, das unidades operacionais. Além disso, as transferências arbitrárias causadas pelo processo de privatização na área de refino, na região Nordeste, aumentaram os casos de depressão e transtornos mentais dos trabalhadores”, destaca Raimundo Teles, diretor da Secretaria de Saúde, Segurança, Tecnologia e Meio Ambiente (SMS) da FUP.
O ambiente de insegurança causado pela privatização de unidades da companhia é apontado como um gatilho para o adoecimento coletivo no local de trabalho. Milhares de trabalhadores foram transferidos para outras unidades, muitas vezes em outro estado, ou perderam seus empregos. “Foram mais de mil transferências só na Torre Pituba, prédio da Petrobrás, em Salvador. Além destas, houve transferências em outras unidades privatizadas, como na Remam e Rlam, observa Teles.
Ele explica que as transferências, uma das consequências do programa de desinvestimento da empresa nos últimos anos, causaram adoecimentos “quase epidêmicos” na categoria petroleira. “Essa movimentação vem desestruturando a vida de muitos trabalhadores e de suas famílias. E a culpa desse adoecimento coletivo é da gestão anterior da Petrobrás. Eles deterioraram o SMS da empresa”. Nos últimos cinco meses, ocorreram 16 eventos graves entre os trabalhadores da Petrobrás, com destaque para sete crises psicóticas agudas, três tentativas de suicídio e seis suicídios. Os números são assustadores”, afirma o sindicalista.
Comprometimento da empresa
Na primeira reunião do GT de SMS e Saúde Mental houve consenso entre as partes em relação à urgência em se investir em novas práticas de gestão da saúde dos funcionários da empresa como um todo.
A companhia está retomando o plantão psicológico de 24 horas para atender aos trabalhadores e pretende fazer reuniões periódicas com a FUP e sindicatos sobre essas questões. A FUP e seus sindicatos esperam que, por meio desta movimentação e desses encontros, sejam encontradas soluções para evitar o adoecimento coletivo e para acabar com as condições precárias de trabalho. “Esperamos não precisar fazer mais nenhum ‘minuto de silêncio’, principalmente em relação às vítimas de qualquer acidente de trabalho ou para homenagear trabalhadores que, no auge do desespero, acabaram tirando a própria vida. O suicídio é a ponta do iceberg”, finaliza o diretor de SMS da FUP.