Falta coerência da gestão da Petrobrás e do governo federal diante da importância estratégica do mercado e da indústria nacionais de fertilizantes

A FUP avisou os gestores da Petrobrás da importância da soberania alimentar para o Brasil, desde que a empresa resolveu sair da área de fertilizantes nitrogenados. Alertou para o perigo da submissão ao mercado externo, já que a nossa segurança alimentar decorre de expressiva dependência do agronegócio brasileiro em relação aos fertilizantes. A FUP lutou, fez greve nacional contra o fechamento e venda das FAFENs e mobilizou parlamentares e poder judiciário, mas mesmo assim o governo atual resolveu acabar com as três FAFENs brasileiras, no final de 2019 e início de 2020 fechou a Fábrica de nitrogenados no Paraná e arrendou por um valor irrisório as outras duas situadas em Sergipe e na Bahia.

Agora, quase dois anos depois, o governo resolve gritar num desespero fingido ou despreparo já característico, que vivemos uma crise de fertilizantes e que a culpa é da crise energética vivida pelos países de quem compramos fertilizantes.

É neste momento que você precisa conhecer a história dos fertilizantes no Brasil. Leia: Privatizar fábricas de fertilizantes da Petrobras ameaça a soberania alimentar, por Gerson Luiz Castellano, Brasil de Fato, Curitiba (PR) em 08 de dezembro de 2017. E aproveite para se perguntar porque os gestores da Petrobrás, leia-se governo atual, não são obrigados a entender sobre insumo tão estratégico para o país.

Essas três fábricas juntas eram responsáveis pela produção de 30% dos fertilizantes usados no Brasil, ou seja, o país já não tinha soberania alimentar, precisava importar, mas agora, precisa importar muito mais. Essa situação não seria problema para o atual governo, se o preço do gás natural não tivesse aumentado muito no mundo todo. Não fosse isso, o governo Bolsonaro sempre iria preferir beneficiar o mercado internacional no lugar de investir na produção nacional (que além de gerar trabalho e renda para os brasileiros teria em suas mãos a garantia da qualidade dos insumos que produz.)

Sobre as empresas que estão tomando posse das unidades recém vendidas pela Petrobrás no Nordeste sabe-se que não têm expertise no processo petroquímico que é extremamente severo.  E ainda tem o caso da fábrica recém construída no Mato Grosso do Sul, a obra não foi concluída e por isso não produz. Um outro fator que nos faz questionar as reais intenções deste governo é a criação, em dezembro de 2020, de um grupo de estudos para analisar a importância estratégica do mercado e da indústria nacionais de fertilizantes. Afinal, onde está a coerência destas ações? Se a lógica é seguir rumo à independência internacional, porquê fecharam a fábrica no Paraná com a desculpa de que estaria dando prejuízo? A conclusão está entre duas alternativas possíveis, ou é má fé ou má gestão.

A única saída, a Federação Única dos Petroleiros já mostrou, o investimento tem que ser feito pela Petrobrás que é uma empresa estatal e tem como premissa o desenvolvimento social do Brasil e dos brasileiros.

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O que é soberania alimentar? A resposta pode ser curta como, significa não dependermos de outros países para produzirmos os alimentos que consumimos. Mas se quisermos pensar em tudo o que está implicado para a comida chegar aos nossos pratos, então, nosso ponto de partida são os fertilizantes. De que são feitos, para que servem e aonde são produzidos são talvez as primeiras perguntas que nos veem à cabeça, e as respostas são facilmente encontradas numa simples busca na internet: são feitos de ureia e amônia, usados e necessários ao desenvolvimento da agricultura e do agronegócio e são feitos nas fábricas de fertilizantes.