em Porto Alegre

Emoção, memórias e debate político marcam primeiro dia do 10º Encontro Nacional de Mulheres Petroleiras da FUP

Iniciou na noite da sexta-feira (25), no auditório do Sindicato dos Bancários de POA, o 10º Encontro Nacional de Mulheres Petroleiras da FUP. Os primeiros momentos deram o tom emocional que marcou boa parte das primeiras atividades que este ano celebra os 10 anos de criação do Coletivo de Mulheres da FUP.

Na abertura, depois de dar boas-vindas a todas as petroleiras e convidadas, a presidenta do SINDIPETRO-RS, anfitrião do encontro, Miriam Cabreira, convidou todas a assistirem um vídeo com relatos de mulheres petroleiras da Refap, colocando suas percepções sobre ser mulher numa categoria esmagadoramente masculina, e quais as barreiras que precisaram ser superadas, em total consonância com o tema do encontro “Mulheres Rompendo Barreiras”. O sentimento geral foi de que as falas apresentadas no vídeo representavam o universo de petroleiras em todo o país.

“Tomamos uma coisa que sempre deveria ter sido nossa, o espaço da mulher no ambiente de trabalho”, “a nossa presença ali precisava de força, mas a gente tinha essa força e sabia como usar”, foram algumas das declarações das entrevistadas. No final, a presidenta do Sindicato, também no vídeo, destacou que a luta de todas é para que tenham mais mulheres nas lideranças dos sindicatos, na Petrobrás e em outros espaços. “Sejamos exemplos para nossas filhas para que elas saibam que elas podem ser o que quiserem e ocupar estes espaços de liderança e de decisão para que sociedade avance e seja mais igualitária”, colocou ela.

Na sequência, o Coordenador Geral da FUP, Deyvid Bacelar, saudou as participantes do encontro e destacou a história do Coletivo de Mulheres da FUP, que tem mostrado, na prática, o quanto as mulheres têm rompido barreiras dentro da Petrobrás, nos sindicatos e no mundo do trabalho.  “Temos motivos para nos orgulharmos das grandes conquistas, algumas visíveis outras imperceptíveis, mas as petroleiras nunca baixaram a cabeça e é importante que os companheiros petroleiros compreendam e somem nesta luta”, pontuou.

AS MULHERES SÃO COMO ÁGUA, QUANTO MAIS SE JUNTAM, MAIS FORÇA ADQUIREM”

A primeira mesa foi formada por representantes de diversos movimentos sociais, que têm sido parceiros dos petroleiros em muitas lutas. Elas trouxeram suas experiências através de uma palavra de incentivo e compartilhamento de experiências.

Patrícia Ferreira, integrante da Executiva Estadual da Marcha Mundial das Mulheres (MMM) no RS, falou sobre a importância da categoria petroleira para outros movimentos e frisou que a luta é para que o futuro seja feminino. “A Marcha tem uma história de proximidade com os movimentos sociais e os sindicatos e o SINDIPETRO-RS é um deles. Para nós, é muito importante estar aqui enaltecendo e desejando um grande evento, para que esse processo de ocupação pelas mulheres dos espaços sindicais e de trabalho sejam cada vez mais ampliados. Quando a gente conversa, a gente vai agregando forças. As mulheres são como água, quanto mais se juntam mais força adquirem”, finalizou.

“A JORNADA FEMININA FOI, É E SERÁ REVOLUCIONÁRIA”

Representando a Jornada Plurisindical Feminista, grupo que reúne mulheres de sindicatos de diversas categorias, Arlene da Silva Barcellos, falou das experiências da Jornada, que começou em março de 2020, a partir de um grupo que se reuniu para organizar o 8 de março, entre elas, dirigentes do SINDIPETRO-RS.  “A partir daí começamos um trabalho, primeiro virtual, em função da pandemia, e, depois, a Jornada prosseguiu porque nossa luta não é só no mês de março. Já realizamos mais de 30 atividades potencializadas por mulheres, que trataram de diferentes temas, como assédio moral, racismo, origem do patriarcado, iniciamos um ciclo de leituras feministas, entre outros. Desejo que esta experiência aconteça em outras cidades. Saúdo as mulheres que quando tudo era mato, tudo era pedra, abriram caminhos para que hoje a gente estivesse aqui, as mulheres que ousaram defender direitos, ocupar espaços, de decisão e espaços públicos”, acrescentou.

“TRÊS PILARES ALICERÇAM O SER MULHER”

A representante do MST, Salete Carollo, Coordenadora Nacional de Gênero do Movimento reiterou o compromisso de as mulheres do MST estarem sempre junto nas lutas de todas. Destacou que romper barreiras é preciso desde o âmbito pessoal, familiar, nos espaços públicos e a consciência disso só se dá no coletivo, dentro de uma organização que vai forjando cada uma para romper essas barreiras individuais e coletivas, impostas pelo capital. Para ela, é importante as mulheres terem presente os três pilares que são alicerces que estruturam o ser mulher: pertencer a uma organização de classe e nesta organização se ver como uma trabalhadora; realizar encontros de formação de consciência de classe, e; ir à luta. “A luta existe para nos firmar na conquista dos direitos, para superar barreiras e nos unificar. Em qualquer parte, sempre temos grandes desafios”, finalizou ela.

“EXEMPLOS COMO O DAS PETROLEIRAS NOS FORTALECEM”

Falando pelo Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), Vanderleia Nicolini Chitto, do Coletivo de Gênero do MPA lembrou a importância das mulheres guerreiras do campo e da cidade, e frisou que o exemplo das petroleiras fortalecem as lutas das mulheres. “As trabalhadoras do campo também quebram muitas barreiras, vencem muitos obstáculos. Nestes últimos tempos tivemos que produzir para nós e para outras pessoas que necessitavam de alimentos”, disse. Vanderleia destacou que o Movimento também trabalha com formação e debates de diversos temas, como alimentação saudável, plantas medicinais, autocuidado, questão da violência contra as mulheres, que também ocorre no campo, são alguns dos temas tratados por elas.

“2023 É O MOMENTO DA NOSSA ESPERANÇA”

Maria Aparecida Castillos e Karine Nachtigall, representando o Movimento dos Atingidos por Barragens (MBA), falaram da importância das mulheres se unirem e reconhecerem a força que têm para resgatar outras mulheres. Lembraram a caminhada necessária, porque nem todas as mulheres são tão fortes, por isso, disseram, esses encontros são importantes. Lembraram o assassinato, em setembro, da líder do Movimento, Débora Morais, morta pelo companheiro. “Lutamos no bairro, na comunidade, nas periferias, estamos iniciando esta luta e estas experiências trazidas neste encontro são preciosas. Temos que construir junto 2023, o momento da nossa esperança e de conquistas positivas”, finalizaram.

“NÃO PODEMOS NATURALIZAR MOVIMENTOS GOLPISTAS”

Na segunda parte do encontro, a deputada Estadual Sofia Cavedon (PT/RS), Federal, Fernanda Melchiona (PSol/RS) e Maribel Costa Moreira, Agricultora e Pecuarista Familiar, fizeram uma análise de conjuntura.

Primeira a falar, a deputado Sofia Cavedon saudou a realização do encontro, destacando a importância das mulheres petroleiras terem espaços de debate numa categoria marcantemente masculina. Iniciou sua análise falando sobre os movimentos golpistas que vêm ocorrendo por bolsonaristas desde o resultado do segundo turno das eleições, que marcou a derrota de Bolsonaro, e frisou que estes movimentos não podem ser naturalizados. “São movimentos golpistas, que tentam balançar o sistema democrático, questionando a urna eletrônica, pedindo o impeachment dos ministros do STF. São falas golpistas que não podem ser banalizadas, nem tratadas como pouco sérias, mesmo que às vezes pareçam risíveis e grotescas”. A parlamentar lembra que há um movimento de ascensão da extrema direita, que não é isolado e ocorre no mundo todo. “Nossa democracia representativa ainda é muito frágil, oriunda do controle da lenta e gradual abertura da ditadura militar para manter o poder econômico, para controlar a economia brasileira, retirada de direitos trabalhistas, de previdência e de venda do patrimônio, da fragilização da vida e a capacidade crítica dos petroleiros neste período, sabendo que estão no centro desta disputa de riqueza, é fundamental”.

Sofia também falou que neste sistema, as mulheres são, por excelência, ativos econômicos da transformação da riqueza. “As mulheres foram queimadas quando quiseram controlar um pouco sua vida, seu corpo. O capital se encarregou de controlar seus corpos e suas vidas, explorando elas com o trabalho gratuito, como mão de obra para ser explorada e como mercadoria de consumo. Posicionar as mulheres dentro dos espaços de trabalho, nos sindicatos, é protegê-las. Precisamos da compreensão dos próprios companheiros dentro dos sindicatos e dentro de casa”, finalizou.

PRISIONEIRAS DA FAMÍLIA E DO PRÓPRIO CORPO

A deputada Federal Fernanda Melchiona destacou que o sistema capitalista aprisionou as mulheres na família e no seu próprio corpo. Para ela, quando o capitalismo entra em crise, atacam os trabalhadores e para as mulheres é pior ainda, um processo que acontece no mundo todo. Há, segundo ela, a manutenção de uma agenda de economia com repressão para que a população não consiga lutar. Sobre a Petrobrás, destacou que o que aconteceu com a empresa foi escandaloso e significou a fome e o aumento do custo de vida de forma geral, com empobrecimento da população. Alertou que o processo continua em andamento. “Precisamos ir à raiz do problema, para reverter o que foi vendido e não ficar tecnicamente dependente. A categoria petroleira está no ponto central de um setor fundamental para reverter a crise econômica. É necessária uma luta orgânica para reverter esse processo com protagonismo dos trabalhadores”, disse ela.

Por fim, lembrou que a extrema direita continua se fortalecendo e para derrotá-la é necessária esta frente ampla, mas, mais ainda, a auto organização da classe trabalhadora e justiça sem perdão, com punição para a extrema direita fascista. “E as mulheres vão estar na linha de frente deste movimento”.

“SEM AS MULHERES, A LUTA FICA PELA METADE”

Última a falar, Maribel Costa Moreira, representante da Agricultura Familiar, representante da CTB e coordenadora da Marcha das Margaridas disse que sem as mulheres a luta fica pela metade, sem as mulheres não tem movimento sindical, sem a paridade não tem como existir federações. Por isso é importante o processo formativo político.

Ela falou sobre a Marcha das Margaridas, que acontecerá dias 15 e 16 de agosto de 2023, em Brasília, e lembrou que a Marcha não é só para as camponesas, mas para as trabalhadoras do campo e da cidade. “A Marcha, em 2023, será pela reconstrução da democracia e pelo bem viver. Quando nós mulheres ficamos juntas, somos volumosas”, disse ela, convidando desde já todas a participarem da Marcha das Margaridas.

Depois das falas, as participantes puderam fazer perguntas à mesa.

 

Neste sábado, o encontro continua com a seguinte programação:

Sábado 26/11

9h – Café da Manhã
10h – Mesa – Mulheres Rompendo Barreiras
12h – Intervalo
14h – Mesa – 10 anos do Coletivo Nacional de Mulheres Petroleiras – Conquistas e Desafios

17h – Intervalo – Lanche
19h – Evento Cultural – POA Mal-assombrada – Caminhada no centro histórico Porto Alegre com guia contando as “histórias não contadas” da cidade.

[Assessoria de Comunicação do Sindipetro RS | Fotos: Nara Roxo]