Com participação de petroleiros e petroquímicos de todo o país, o encontro discutiu o futuro da Petrobrás e mudanças na política de preços dos combustíveis
[Da imprensa da FUP]
Em encontro na manhã desta terça-feira, 29, com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a FUP e seus sindicatos debateram a importância estratégica da Petrobrás para a reconstrução do país, a começar por mudanças estruturais na política de preços dos combustíveis. A reunião, realizada pela FUP no Rio de Janeiro, contou com a representação de todos os sindicatos da entidade, além de dirigentes da Associação Nacional dos Petroleiros Acionistas Minoritários da Petrobrás (Anapetro), conselheiros eleitos da Petros, petroquímicos da Confederação Nacional do Ramo Químico da CUT e lideranças sindicais da central, da IndustriALL Brasil e da CTB.
Durante o evento, o coordenador geral da FUP, Deyvid Bacelar, e o coordenador da Setorial Nacional de Energia e Recursos Minerais do PT, José Maria Rangel, entregaram a Lula o documento aprovado na IX Plenária Nacional da FUP, realizada em agosto de 2021, com propostas para redução dos preços dos combustíveis e reconstrução do Sistema Petrobrás. As deliberações têm como eixo a retomada do papel da empresa de indutora do desenvolvimento nacional, para que volte a atuar de forma integrada, do poço ao poste, garantindo energia a preços justos para os brasileiros. Também foi entregue ao ex-presidente documento dos petroquímicos sobre a importância da Petrobrás voltar a investir no setor de fertilizantes (veja a íntegra dos documentos no final da matéria).
Participaram do encontro a presidenta do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann, o ex-presidente da Petrobrás, José Sérgio Gabrielli, o ex-diretor de Exploração e Produção da empresa, Guilherme Estrella, o ex-coordenador da FUP, José Maria Rangel, o deputado federal Marcelo Freixo (PSB), o deputado estadual do Rio de Janeiro, André Ceciliano (PT) e o vereador Lindbergh Farias (PT).
Deyvid Bacelar enfatizou a importância que o setor petróleo tem para o debate nacional. “O problema do preço dos combustíveis não é da guerra entre a Rússia e a Ucrânia, não é do ICMS e sim de uma política de preços que desde 2016 sangra o povo brasileiro e que o governo Bolsonaro vem mantendo”, destacou. Ele ressaltou que o desmonte do Sistema Petrobrás é uma decisão de gestão e de governo e que a indicação do lobista Adriano Pires para a presidência da empresa não resolverá a crise dos combustíveis. “Na verdade, ele está chegando para acelerar a privatização da estatal e assumir o eventual desgaste pela crise no lugar do presidente Jair Bolsonaro”, afirmou o coordenador da FUP. “Precisamos retomar urgentemente o papel público da Petrobrás”, enfatizou.
O coordenador da Setorial Nacional de Energia e Recursos Minerais do PT, José Maria Rangel, afirmou que não adianta mudar o presidente da Petrobrás, se o projeto continuar sendo o de destruição da empresa e de subserviência do país. “Quando a gente tem um governo que acredita na capacidade de seu povo, a gente muda a conjuntura, por pior que seja”, destacou, lembrando que os governos do PT recuperaram a Petrobrás, a engenharia nacional e a indústria naval e que, com os investimentos estratégicos que recebeu, a estatal teve condições de descobrir o pré-sal, que é hoje a sua principal fonte de riqueza. “É possível, sim, fazer com que tenhamos combustíveis a preços justos, mas, não será com esse governo que está aí”, afirmou.
O ex-presidente da Petrobrás, José Sérgio Gabrielli, destacou que o mundo está mostrando que petróleo e gás não podem ser tratados como uma mercadoria qualquer. “Não há nenhuma grande nação do mundo que não tenha a segurança energética como elemento chave do seu projeto de nação. Os Estados Unidos, a Europa, a China fazem guerra para garantir sua soberania e sua segurança energética. Não há nenhuma nação grande que abandone sua segurança energética. Segurança energética significa não somente acesso às fontes de energia, mas a capacidade do povo ter acesso a elas, o que significa preço acessível”, afirmou.
Lula: A defesa da Petrobrás tem que ser uma luta nacional
Em sua fala, o ex-presidente Lula fez uma convocação para que a FUP e seus sindicatos reforcem o diálogo com a população sobre o valor da Petrobrás no dia a dia dos brasileiros e a sua importância para o país. “A (defesa da) Petrobrás tem que se transformar em uma briga nacional”, afirmou o ex-presidente, chamando os petroleiros a se engajarem em uma campanha nacional para explicar à população o sentido e a importância da soberania. “Para defender a Petrobrás, é preciso construir o discurso para que a pessoa que está cozinhando com lenha na calçada, porque não tem gás, perceba que essa briga é dela. Para que aquele cara que tem um carrinho que não pode mais colocar gasolina no tanque, ele tem que saber que essa luta é dele. O caminhoneiro que não pode mais encher o tanque de óleo diesel, ele tem que saber que essa luta é dele”, afirmou Lula.
Ele enfatizou que é preciso que a população conheça a verdadeira história da Petrobrás, com o reverso da narrativa de mentiras e distorções que foram massificadas pela mídia durante a operação Lava Jato. Lula afirmou que o povo precisa entender que é por causa da Petrobrás que “o petróleo é nosso de verdade e que, quando o petróleo é nosso, a gasolina é mais barata, o gás é mais barato, o diesel é mais barato, a nafta é mais barata”. O ex-presidente afirmou ainda que a Petrobrás tem que gerar lucro, mas esse lucro não pode ficar só nas mãos dos acionistas, “tem que ser repartido com o povo brasileiro”.
Dieese e Ineep reforçam necessidade de mudanças no rumo da Petrobrás
Durante o encontro da FUP com Lula, técnicos do Dieese e do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep) apresentaram dados relatando os impactos do desmonte do Sistema Petrobrás, que refletem diretamente na vida dos brasileiros, como é o caso das privatizações e da disparada do preço dos combustíveis. O economista do Dieese, Cloviomar Cararine, frisou que a disparada dos combustíveis está diretamente associada ao desmonte da Petrobrás, lembrando que desde que a gestão da empresa adotou a política de preço de paridade de importação (PPI), em 2016, o preço do GLP (gás de cozinha) nas refinarias já subiu 350%, enquanto o salário mínimo só teve 37% de reajuste desde então e a inflação acumulada (IPCA) é de 31%.
Os pesquisadores do Ineep, Henrique Jäger e Eduardo Costa Pinto, comparam os lucros líquidos e as margens de lucros da Petrobrás com as outras petroleiras mostrando que é sim possível uma redução linear dos preços dos derivados e ainda manter um bom resultado. Para Costa Pinto, o PPI é uma estratégia adotada para maximizar o lucro da Petrobrás e viabilizar a importação de derivados de petróleo por agentes privados. “Em 2021, a Petrobrás teve um lucro líquido de R$ 107 bilhões e uma margem de lucro de 27%, o dobro dos indicadores das petroleiras no mundo, que se fixaram na média de 8%”, disse, lembrando que os dividendos distribuídos aos acionistas no mesmo ano somaram R$ 101 bilhões.
Jäger lembrou que “o PPI não é política da Petrobrás e sim dos gestores que estão na Petrobrás. O que significa que novos gestores podem definir políticas diferentes e manter a lucratividade da empresa”. Ele ressaltou que o caixa da empresa tem que voltar a ser usado em investimentos, pois sem capacidade de investimentos há pouca margem de mudanças na política de preços.