Reportagem do jornal O Estado de São Paulo, publicada no dia 29 de julho, repercute estudo da FUP sobre desinvestimentos da Petrobrás na Bacia de Campos. O orçamento da empresa na região caiu de US$ 9 bilhões, em 2013, para US$ 3,46 bilhões, em 2018, e deve ficar em US$ 2,6 bilhões anuais de 2021 a 2025. Leia a íntegra:
Produção de petróleo na Bacia de Campos atinge menor patamar em 10 anos
[Reportagem de Fernanda Nunes, no Estadão | Foto: Agência Petrobras]
A Bacia de Campos, atualmente, a segunda maior região produtora de petróleo do Brasil, registrou em junho a menor produção média dos últimos dez anos, de acordo com dados divulgados pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) e compilados pela Federação Única dos Petroleiros (FUP), representante de empregados da estatal.
A produção média de petróleo da bacia foi de 719,37 mil barris por dia (bpd) no mês passado, 30 mil barris diários a menos do que o registrado em março deste ano, 749,35 mil bpd, o pior desempenho até então. Somados petróleo e gás natural, a produção média diária na região, em junho, foi de 805,9 mil barris de óleo equivalente (boe/d).
Entre as petroleiras, a Petrobras, maior operadora na bacia, foi a principal responsável por essa retração, segundo os dados da ANP. A produção da estatal, em junho, foi de 613,3 mil bpd, volume inferior aos 666,5 mil bpd registrados em março. Já as demais petrolíferas atingiram juntas, no mês, o maior volume de produção do ano, de 106,04 mil barris diários.
A produção da Petrobras na Bacia de Campos está caindo, sucessivamente, desde que grande parcela dos investimentos migrou para a Bacia de Santos, onde está a maior área descoberta do pré-sal. Os campos do pós-sal da Bacia de Campos estão em fase madura e dependem de investimento em recuperação para que voltem a ter a magnitude do passado.
A Petrobras, no entanto, concentrou esforços em alguns desses ativos. O principal deles é o campo de Marlim. Os demais foram inseridos em seu programa de desinvestimento e estão sendo repassados para petrolíferas de menor porte e com orçamentos mais enxutos.
A petrolífera produz, atualmente, na Bacia de Campos, 710 mil boe por dia, no pós-sal e pré-sal, o que representa 25% da produção nacional. No auge, a região já respondeu por 80% de todo volume de petróleo extraído no País. Por meio de sua assessoria de imprensa, a empresa afirma estar focada em ativos com potencial para gerar mais valor no médio e no longo prazos.
“Na região, essa realocação estratégica de investimentos já acumula cerca de US$ 3,7 bilhões obtidos com a venda de ativos, como 50% do campo de Tartaruga Verde e Espadarte, campo de Frade, Polo Pampo, Polo Enchova e Polo Pargo”, afirmou a companhia, em nota.
Sem os investimentos vultosos do passado e com menos ativos, a Petrobras reduziu sua presença na Bacia de Campos. Segundo estudo do economista Cloviomar Cararine, do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), subseção FUP, o orçamento da empresa na região passou de US$ 9 bilhões, em 2013, para US$ 3,46 bilhões, em 2018, e deve ficar em US$ 2,6 bilhões anuais de 2021 a 2025.
O Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep) calcula que PetroRio, Perenco, Trident Energy, BW e Dommo – que adquiriram áreas da Petrobras – vão investir juntas US$ 2,6 bilhões ao todo para produzir petróleo na região. Esse valor, no entanto, não se aproxima do investimento estatal do passado.
A Petrobras investiu na região, na última década, US$ 53 bilhões, para colocar em operação mais de 270 poços e novas plataformas. O desembolso anual, no entanto, passou a cair a partir de 2013.
Por meio de sua assessoria de imprensa, a estatal informou que vai instalar três novas plataformas nos próximos cinco anos, no campo de Marlim e no complexo integrado Parque da Baleias, ambos na Bacia de Campos. A empresa diz ainda que, de 2017 a 2019, adquiriu 14 blocos exploratórios, que ocupam uma área total de 12 mil km². Essa extensão equivale, segundo a empresa, à “praticamente uma nova Bacia de Campos”. A petrolífera admitiu, no entanto, que “a maioria dos prospectos promissores está localizada na camada pré-sal dessa bacia”.