De olho na eleição

Após “lucros exorbitantes”, Bolsonaro pode mudar preços dos combustíveis por oportunismo

Críticos do Preço de Paridade de Importação (PPI) enxergam uma manobra puramente eleitoreira do presidente, que já deveria ter abaixado os preços dos combustíveis há tempos

[Por Lucas Rocha, para Revista Fórum]

O presidente Jair Bolsonaro (PL) disse nesta segunda-feira (7) que pode promover mudanças na política de preços da Petrobras, uma reivindicação de sindicalistas e parlamentares de oposição desde o início do governo. Para quem levanta há tempos a bandeira contra o modelo de paridade com o dólar, Bolsonaro devia ter modificado a orientação da Petrobras e abaixado o preço dos combustíveis desde o início e age agora por puro oportunismo eleitoral.

Durante entrevista a uma emissora de rádio de Roraima, Bolsonaro admitiu que a política de preços vigente – estabelecida desde a gestão de Michel Temer (MDB) – está errada e, pela primeira vez, declarou que ela não pode seguir como está. Antes, o presidente evitava encarar de frente a questão e responsabilizava estados e municípios pelo preço da gasolina, do diesel e do gás de cozinha, em razão do imposto do ICMS. Bolsonaro afirmava que ele não tinha como fazer nada, mas parece que agora entendeu que deve mudar a política.

“Tem uma legislação errada feita lá atrás que você tem uma paridade com o preço internacional [dos combustíveis]. Ou seja, o petróleo, o que é tirado do petróleo, leva-se em conta o preço fora do Brasil. Isso não pode continuar acontecendo”, disse Bolsonaro durante a entrevista.

“O barril está em 120 dólares, a paridade do preço internacional é errada. Isso está sendo tratado mais uma vez hoje em reunião. Para achar uma solução e não ficar empurrando com a barriga. Se for repassar isso tudo, tem que dar aumento de 50%. Vamos falar em reunião hoje à tarde com o ministro da Economia e procurar uma solução”, acrescentou.

O senador Jean Paul Prates (PT-RN), líder da Minoria no Senado e da Frente Parlamentar da Energia, foi um dos que criticou Bolsonaro. O parlamentar enxergou oportunismo eleitoral e afirmou que essa mudança acontece somente após acionistas da Petrobras embolsarem lucros recordes.

“Mais uma evidência de que Bolsonaro está em completo desespero, ainda mais em ano eleitoral. O governo agora, de forma oportunista, parece admitir mudanças na fórmula de preços da Petrobrás”, disse Jean Paul em nota. “É impressionante como este governo é incompetente e irresponsável. Há anos, o PT denuncia a paridade de importação como culpada pelos altos preços pagos pela população no gás de cozinha e nos combustíveis. O governo esperou o stress máximo de uma guerra global para reconhecer finalmente que estava escorchando os brasileiros com preços de combustíveis que anulam a autossuficiência e a produção brasileira”, criticou o senador.

Jean Paul, que é o relator dos PLs dos Combustíveis, defende que o Congresso estabeleça um programa da estabilização do preço do petróleo e de derivados no Brasil e a ampliação do programa de vale-gás. Os avanços empreendidos pelo parlamentar no texto podem ter pressionado Bolsonaro a agir antes que um parlamentar do PT fizesse o que o governo já deveria ter feito.

“O Governo Bolsonaro lucrou enormemente com o preço dos combustíveis altos e dolarizados. E ainda recebeu dividendos recordes, de uma Petrobras que só lucrou em cima do sacrifício dos consumidores e do frete nacional. Bolsonaro quer enganar o povo brasileiro com esse falso arrependimento achando que, se vencer as eleições, vai voltar a lucrar e fazer seus poucos amigos mais felizes e ainda mais ricos!”, completou.

O dirigente sindical Deyvid Bacelar, coordenador-geral da Federação Única dos Petroleiros (FUP), também criticou a declaração do presidente, apontando que se Bolsonaro quisesse realmebnte mudar o PPI, já teria feito desde o início de seu mandato. “Mas o governo preferiu manter essa política que só serve para enriquecer acionista e empobrecer o trabalhador brasileiro, que amarga inflação de 10% ao ano, puxada principalmente pelos combustíveis”, afirmou.

“O tema que mais atinge a população brasileira é a disparada dos preços dos combustíveis por causa da política injusta do PPI adotada pelo ex-presidente Michel Temer e mantida com afinco por Bolsonaro. Apesar de ele dizer que não tem como interferir nos preços, as indicações na presidência da Petrobrás e no conselho de administração da empresa são feitas por Bolsonaro”, acrescentou.

Preço de combustíveis subiu cinco vezes mais que inflação no governo Bolsonaro, diz Dieese

O preço dos combustíveis explodiu no governo do presidente Jair Bolsonaro (PL), empurrado pela desastrosa política de Preço de Paridade de Importação (PPI) da Petrobras – adotada desde o governo Michel Temer (MDB). Diante da inércia do governo, coube ao Congresso, através de parlamentares de oposição, se mobilizar pra derrubar a PPI e criar o programa de amortização do preço dos combustíveis relatado por Jean Paul.

Segundo dados do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese), desde janeiro de 2019, início da gestão Bolsonaro, a gasolina teve um reajuste de 116% na refinaria. Isso representa cinco vezes a inflação, de 20,6% no período. No gás de cozinha, a alta foi de 100,1%, e no diesel, de 95,5%, de acordo com dados da Petrobras.

Os aumentos nas refinarias repercutem no bolso do consumidor. Segundo o Dieese, desde janeiro de 2019, o preço da gasolina subiu 52,8% nos postos de revenda, o diesel, 63,6%, e o GLP, 47,8%, muito acima também do reajuste do salário mínimo, de 21,4% no período. O levantamento foi feito com dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).