Queda da distribuição de dividendos em relação ao governo anterior mobiliza ataques do mercado e seus operadores na mídia contra a Petrobrás, tentando apagar seu papel social
[Da Comunicação da FUP]
A mais recente ofensiva do mercado e seus operadores na mídia corporativa contra a Petrobrás ocorreu nos últimos dias, e ainda ocorre, por causa da proposta do Conselho de Administração da empresa para a distribuição de dividendos ordinários em 2023. Os anunciados R$ 72,4 bilhões, configuram o terceiro maior volume de dividendos distribuídos pela companhia na sua história e o segundo maior entre as petrolíferas do mundo.
Mas logo após a divulgação do valor, vimos, nas palavras do diretor técnico do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (Ineep), Mahatma Ramos, uma “reação desmedida e incompatível com os resultados positivos da Petrobrás”. O valor publicitado, ao estar abaixo dos obscenos mega dividendos distribuídos durante os governos anteriores, foi utilizado para criar uma suposta crise de governança na estatal, que incluiu a suposta interferência do presidente Lula.
Segundo Ramos, que analisou a polêmica em artigo publicado na revista Carta Capital, “parte dos stakeholders da companhia, minoritários em sua estrutura de governança, se revelaram insatisfeitos com a proposta de pagamento de dividendos recordes e mobilizaram todos seus instrumentos de pressão contra a governança da Petrobrás. Uma ação evidentemente política e interessada”.
Segundo o jornal Valor Econômico, a Petrobrás perdeu cerca de R$ 43 bilhões de valor de mercado entre os dias 07 e 12 de março. Esse foi o estopim para uma campanha de medo em relação ao futuro da empresa. Para o coordenador geral da FUP, Deyvid Bacelar, “a queda das ações e do valor de mercado da Petrobrás nos últimos dias é fruto de ataques especulativos” que tentam pressionar a gestão da estatal. Para Bacelar, “a gestão da Petrobrás não pode ficar refém do jogo do mercado financeiro, frustrado pelo não pagamento de dividendos extraordinários”.
A FUP e a Associação Nacional dos Petroleiros Acionistas Minoritários da Petrobras (Anapetro) já tinham detectado operações atípicas com ações da Petrobrás que provocaram forte oscilação na cotação dos papeis na Bolsa de Valores de São Paulo, chegando inclusive a protocolar uma denúncia na última sexta-feira.
Papel social
O tratamento da crise na mídia corporativa e a reação do mercado esquecem um fator central: a Petrobrás é uma estatal e como tal, tem um papel social. É importante investir para garantir a transição energética justa, e o futuro da empresa. A Petrobrás foi uma das que mais distribuiu lucros. E também uma das que menos investiu.
Para Ramos, “não há mais espaço para distribuição de mega dividendos, tampouco baixos investimentos. A Petrobrás foi a companhia que menos investiu ao longo de 2023 entre as sete majors que já divulgaram seus resultados. A Petrobras precisa recuperar seu protagonismo”.
Para Bacelar, a retomada dos investimentos é fundamental para o futuro da empresa: “A Petrobrás não é uma empresa privada, nem uma fábrica de dividendos. É uma empresa cujo acionista majoritário é o povo brasileiro, e por tanto, responde aos mais altos interesses nacionais. A Petrobrás tem que investir para garantir a auto suficiência de refino no Brasil, para garantir preços acessíveis de combustíveis e gás de cozinha para a população e para liderar a urgente transição energética. Esses especuladores têm que entender isso de uma vez por todas”.
Além de um lucro líquido de R$ 124,6 bilhões, o segundo maior da história da companhia, todos os indicadores operacionais da companhia foram positivos, conforme balanço da empresa divulgado na semana passada, após reunião do conselho de administração.
Para Bacelar, isso demonstra que “depois de enfrentar anos de desinvestimentos e descapitalização, com pagamentos recordes de dividendos, venda de ativos estratégicos e redução sistemática de seus investimentos, a Petrobrás se fortaleceu em 2023, retomando ciclo de crescimento e consolidando modelo de gestão do governo Lula”.
O que está em jogo, então, não é a saúde financeira da empresa, que se mostra saudável, e sim seu papel. O mercado quer continuar usufruindo da Petrobrás como uma mina de recursos fartos, sem investimento, e com venda de ativos. Mas esse projeto foi derrotado nas urnas, e é tempo de aplicar o projeto vencedor. O da Petrobrás que investe, o da estatal protagonista do desenvolvimento do país e liderança rumo à transição energética.