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A origem e o destino dos lucros da Petrobrás na gestão Bolsonaro

O DIEESE, Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos responde a uma série de questões sobre os lucros da Petrobrás Confira abaixo a sequência dos gráficos com apresentação de dados e respectiva explicação.

Para que serve uma empresa estatal como a Petrobrás na gestão Bolsonaro?

1. Nos 3 anos e meio de Bolsonaro, a Petrobrás gerou R$252,8 bilhões em lucro líquido e pagou R$258,7 de dividendos aos seus acionistas. Ou seja, a empresa pagou 102,3% do lucro em dividendos, usando parte das reservas de lucro que tinha acumulado em períodos anteriores. Desde total de dividendos, 43% foram para acionistas de fora do Brasil e outros 36,8% para a União (governo federal) e BNDES. Mas não foi sempre assim, de 2003 a 2013 a empresa sempre apresentou lucro e pagou dividendos, mas numa proporção bem menor, média de 34% do lucro;

2. Os lucros atuais resultam, principalmente, dos retornos dos investimentos feitos no pré-sal no período da gestão Lula (2003 a 2010). Outros fatores, listados pela própria empresa, estão relacionados a venda de ativos, redução de gastos com trabalhadores, aumento do preço do barril de petróleo e aumento dos preços de derivados no mercado interno que tanto penaliza a população brasileira;

Ao conduzir a empresa por esse caminho, coisa que nenhuma outra petroleira faz, o governo está canibalizando a Petrobrás, comprometendo seu futuro.

É bom lembrar – A Petrobrás de hoje é resultado das estratégias adotadas recentemente pela gestão da empresa, mas também reflexo de investimentos realizados no passado. Os resultados positivos de hoje são reflexo dos investimentos realizados no passado. Além disso, a produção de petróleo e gás natural não cresceu com governo Bolsonaro, e o aumento da dependência (cerca de 70% da produção total) em relação aos campos do pré-sal (descobertos pelos investimentos dos governos do PT) tem sido a salvação da Petrobrás.

Os lucros da Petrobrás de Bolsonaro

A Petrobrás no governo Bolsonaro acumula entre 2019 e 2T2022 um total de R$252,8 bilhões em lucro líquido. E, ao mesmo tempo, pagou R$258,7 bilhões em dividendos aos seus acionistas, representando 102,3% do lucro. Quem fica com esses recursos?

Para onde vão os lucros da Petrobrás?

Para onde vão os bilionários dividendos pagos pela Petrobrás de Bolsonaro (2019 a junho2022)?

  • 43% dos dividendos vão para acionistas estrangeiros, para fora do Brasil – R$111,2 bilhões
  • 36,8% para o acionista controlador, a União e BNDES – R$95,2 bilhões
  • 20,2% para acionistas brasileiros – R$52,2 bilhões

Mas, de onde vem esse lucro? Como a Petrobrás da gestão Bolsonaro conseguiu chegar a estes valores?

Histórico dos lucros e dividendos da Petrobrás

De onde vem o lucro da Petrobrás de Bolsonaro?

De maneira geral, os investimentos realizados nos governos anterioressão fundamentais para os resultados positivos em relação ao lucro.

Segundo a própria empresa, estão relacionados ainda em venda de ativos, redução de gastos com trabalhadores, aumento do preço do barril de petróleo e aumento dos preços de derivados no mercado interno.

A Petrobrás de Bolsonaro obtém lucro vendendo patrimônio, retirando direito dos trabalhadores, penalizando a população brasileira e colocando em risco o futuro da própria empresa.

Além disso, a atual política de dividendos incentiva a redução dos investimentos, uma vez que a empresa pode distribuir até 60% do Fluxo de Caixa Livre descontado o investimento. Assim, quanto menor o investimento maior o dividendo.

Outros fatores que ajudam a explicar o lucro da Petrobrás na gestão Bolsonaro

1. Investimentos – A Petrobrás de hoje é resultado das estratégias adotadas recentemente pela gestão da empresa, mas também reflexo de investimentos realizados no passado. Os resultados positivos de hoje são reflexo dos investimentos realizados entre os anos de 2003 a 2013;

2. Produção de petróleo – A produção de petróleo e gás natural não cresceu com governo Bolsonaro, mas a dependência da empresa em relação aos campos do pré-sal (descobertos pelos investimentos dos governos do PT) tem sido a salvação da Petrobrás;

3. Reservas provadas – Para piorar, a Petrobrás da gestão Bolsonaro vem reduzindo as reservas provadas da empresa. Em estratégia clara de retirar petróleo em ritmo maior que a capacidade de descoberta de novas reservas;

4. Venda de ativos – Somente no governo Bolsonaro, entre janeiro de 2019 e outubro de 2022 foram vendidos 63 ativos (67% dos ativos vendidos nos últimos 10 anos);

5. Preços dos combustíveis – O PPI (Preço de Paridade de Importação), penalizando a população brasileira, é um dos motivos para o aumento dos lucros;

6. Trabalhadores – A Petrobrás vem reduzindo o número e as despesas com seus trabalhadores, ao mesmo tempo que aumenta seus lucros.

Histórico dos investimentos da Petrobrás (em US$ bilhões)

Histórico da produção de petróleo e gás natural da Petrobrás e a dependência do pré-sal

O que seria da Petrobrás de Bolsonaro sem o pré-sal?

A Petrobrás no governo Bolsonaro tem reduzido sua produção média diária de petróleo e gás natural. Entre janeiro de 2019 e setembro de 2022 a queda chegou a 5,8%. No governo Temer a produção caiu 0,7% e nos governos do PT (2003 a 2016) a produção aumentou 37%.

As vendas de campos produtores e redução dos investimentos explicam essa redução recente.

Por outro lado, os grandes volumes de investimentos, descoberta e capacidade de produção nos campos do pré-sal, realizado entre 2005 e 2014, tem salvado a Petrobrás de hoje.

Histórico do volume de reservas de petróleo e gás natural da Petrobrás – critério SEC

As reservas da Petrobrás estão em queda desde 2015. Por conta da queda do preço do barril de petróleo, as reservas foram recalculadas e vários campos perderam economicidade, por conta das vendas de ativos (campos em produção) e pelo aumento da produção sem reposição.

Além disso, as grandes reservas dos campos do pré-sal ainda não foram incorporadas como provadas pelo critério SEC.

A venda de ativos chega ao lucro da Petrobrás

Nos últimos 10 anos a Petrobrás vendeu 94 ativos (80 no Brasil e 14 no exterior), totalizando US$59,8 bilhões arrecadados

Somente no governo Bolsonaro, entre janeiro de 2019 e outubro de 2022 foram vendidos 63 ativos (67% do total até aqui)

Como resultado, além da privataria, estão condenando o futuro da empresa e no caminho contrário do que estão fazendo as concorrentes internacionais.

A política de preços dos combustíveis na Petrobrás de Bolsonaro

A política de preços de combustíveis praticada pela Petrobrás penaliza a população, mas aumenta consideravelmente o lucro da empresa

Entre 2003 e 2016 (até a implementação desse PPI) a gasolina, diesel e GLP subiram de preços nas refinarias bem abaixo do crescimento do salário mínimo e da inflação.

A partir de outubro de 2016, ainda no governo Temer/Pedro Parente, posteriormente intensificados no governo Bolsonaro, a Petrobrás passa a praticar uma nova política de preços para os derivados vendidos nas refinarias (o PPI Preço de Paridade de Importação). Assim, a empresa desconsidera a redução dos custos de produção de petróleo e de derivados e passa a utilizar como parâmetro o preço internacional, importado para o Brasil.

A partir de outubro de 2016 e intensificado por Bolsonaro em 2019, a variação dos preços nas refinarias da Petrobrás foram bem acima dos reajustes do salário mínimo e da inflação.

A redução do número de trabalhadores e o lucro da Petrobrás

A Petrobrás vem reduzindo o número e as despesas com seus trabalhadores, ao mesmo tempo que aumenta seus lucros

O Sistema Petrobrás chegou em 2021 com um total de 144,6 mil trabalhadores/as, sendo 45,5 mil próprios/as e 99,1 mil terceirizados/as. Antes, no período de 2003 a 2013, apresentou crescimento contínuo no número de trabalhadores no Sistema Petrobrás, tanto próprios/as (em 36 mil) quanto terceirizados/as (em 329 mil).

Desde a operação lava-jato e as mudanças na gestão da empresa pós golpe de 2016, vem apresentando queda forte no número de trabalhadores/as.

Os empregos gerados pela Petrobrás, seja próprios ou terceirizados, são de qualidade, geram renda e novos empregos numa imensa cadeia de fornecedores, espalhados por todo o país.

Para pensar

A Petrobrás não foi criada pelo povo brasileiro para apenas dar lucro. Seu papel é importantíssimo e deveria fornecer um produto essencial e estratégico à população e às empresas brasileiras, seja em quantidade suficiente e em preços acessíveis.

Atualmente, está espoliando o país para pagar dividendos aos acionistas estrangeiros e comprometendo nossa soberania energética futura.

É preciso retomar a Petrobrás, resgatar seu papel estratégico e proporcionar um futuro sustentável.

 

Por Cloviomar Cararine, economista do DIEESE subseção FUP