A esperança venceu o fascismo: Boric é presidente do Chile

Foto: divulgação.

Com 55,87% dos votos, o candidato da aliança de esquerdas Apruebo Dignidad, Gabriel Boric, é o novo presidente do país

[ Da Comunicação da FUP]

O novo presidente do Chile é de esquerda. Gabriel Boric, candidato da coalizão surgida após os históricos protestos que começaram em 2019, venceu o ultradireitista José Antonio Kast, nostálgico da ditadura civil-militar liderada por Augusto Pinochet (1973-1990).

A eleição ocorreu em uma conjuntura política complexa, já que de forma simultânea está acontecendo a Constituinte, um processo liderado por forças de esquerda que tem como objetivo redigir uma nova Constituição, que substitua a atual, herdada da ditadura. Essa constituinte é resultado também dos protestos. No primeiro turno o vencedor foi Kast, defensor da ditadura, que prometia manter o modelo econômico neoliberal que implantou: o neoliberalismo. Além disso, Kast é contrário ao matrimônio igualitario e à legalização do aborto entre outras pautas relacionadas aos direitos humanos.

Kast e Bolsonaro: dois representantes do fascismo na América Latina. O primeiro perdeu no Chile, o segundo deverá perder no Brasil em 2022.

Parecia contraditório que após um amplo processo de luta popular no Chile, com resultados tão importantes como a Constituinte, o país escolhesse novamente um ultradireitista para governar o país e ainda alguém que defende o modelo econômico que os protestos tentaram barrar definitivamente. E era mesmo. Mas as forças de esquerda conseguiram virar o jogo, e irão governar o Chile até 2026. Boric ganhou de lavada nos bairros mais pobres, e venceu na juventude e nas mulheres. 

O novo presidente

Gabriel Boric é o presidente mais jovem já eleito na América Latina, com 35 anos. E não só. É também o presidente mais votado da história do Chile. Nascido e criado na cidade de Punta Arenas, na Patagônia Chilena, Boric foi à capital Santiago para estudar Direito na Universidade do Chile, e tem ligação histórica com o movimento estudantil. Foi presidente da Federação de Estudantes da Universidade do Chile (FECH) e uma das principais lideranças da revolta estudantil que começou em 2011. Em 2013 foi eleito deputado, onde permaneceu até os dias atuais. 

As comemorações da vitória da esquerda foram gigantes. Foto: Gabriel Campos.

O pai de Boric, tem relação histórica com o setor do petróleo. É engenheiro químico, e foi funcionário da estatal Empresa Nacional do Petróleo (ENAP) por 41 anos, onde chegou a ser gerente de Refino e Logística.

A Federação Única dos Petroleiros (FUP) saúda com emoção e esperança a vitória das forças de esquerda na eleição Chilena. Derrotar o fascismo é uma tarefa urgente, e o resultado desta eleição é um passo importante para continuar a luta e retomar um processo de mudança social na América Latina. A vitória no Chile se soma às vitórias na Argentina, Bolívia, Peru, e Honduras, e enche de esperanças e sonhos o futuro próximo. Quando Boric assumir definitivamente o cargo, em 2022, o Brasil estará disputando uma eleição importantíssima na luta contra a reação, que esperamos tenha o mesmo desfecho. 

Como o próprio Boric disse ontem, durante o primeiro discurso após a vitória, citando Salvador Allende: “Se abrirán las grandes alamedas por donde pase el hombre y la mujer libre para construir una sociedad mejor”.  Nas multitudinárias marchas que comemoraram a vitória da esquerda, o rosto de Víctor Jara estampava muitas bandeiras. O grande cantor e poeta chileno foi levado ao Estádio Nacional de Santiago, onde funcionou um centro de detenção e tortura da ditadura, teve suas mãos e língua cortadas e foi assassinado. Como homenagem e celebração, lembramos esta bela poesía do cantor inesquecível.

Aquí me quedo

Yo no quiero la Patria dividida
ni por siete cuchillos desangrada,
quiero la luz de Chile enarbolada
sobre la nueva casa construída.

Yo no quiero la Patria dividida
cabemos todos en la tierra mía
y que los que se creen prisioneros
se vayan lejos con su melodía.

Siempre los ricos fueron extranjeros
que se vayan a Miami con sus tías.
Yo no quiero la Patria dividida,
se vayan lejos con su melodía.

Yo no quiero la Patria dividida
cabemos todos en la tierra mía
yo me quedo a cantar con los obreros
en esta nueva historia y geografía.

Víctor Jara