Todos os presidentes da estatal foram demitidos ou pediram para sair por causa dos preços altos dos combustiveis. Bolsonaro critica os preços, mas não muda o PPI, política de preços criada pelo governo Temer, principal causa dos aumentos abusivos
[Da Comunicação da CUT]
O terceiro presidente da Petrobras nos três anos e meio do governo de Jair Bolsonaro (PL), José Mauro Ferreira Coelho, anunciou nesta segunda-feira (20) que renunciou ao cargo. Foi mais um que não resistiu as críticas pelos aumentos abusivos dos preços dos combustíveis que seguem a política da estatal que Bolsonaro manteve intacta, a chamada de Preço de Paridade de Importação (PPI) da Petrobras, a verdadeira responsável pela disparada dos preços da gasolina, diesel e gás de cozinha.
Por meio de comunicado, a Petrobras confirmou o pedido de demissão de Coelho e disse que a nomeação de um presidente interino será examinada pelo Conselho de Administração da companhia. (Veja nota no final).
Segundo a empresa, Coelho também deixa o cargo de membro do Conselho de Administração da estatal.
A saída do executivo ocorre após uma série de críticas feitas por Bolsonaro, que sempre recorre a factóides quando a estatal anuncia aumento nos preços dos combustíveis, como ocorreu na sexta-feira (17), para se eximir da responsabilidade pela escalada de preços.
Bolsonaro é sim responsável pelos preços altos porque ele manteve o PPI, que atrela os preços dos combustíveis no Brasil aos preços internacionais dos barris de petróleo, à cotação do dólar e inclui custos de importação. O PPI foi criado pelo governo ilegítimo de Michel Temer (MDB) e mantido por Bolsonaro sem nenhuma mudança.
Outro que atirou contra a Petrobras, assim como Bolsonaro mais preocupado com a eleição do que com a escalada dos preços, foi o presidente da Câmara, Arthur Lira (PL).
Após o anúncio dos novos valores da gasolina e do diesel, Bolsonaro defendeu a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar a Petrobras, seus diretores e conselheiros. “Nossa ideia é propor uma CPI para investigar a Petrobras, seus diretores e os membros do Conselho. Queremos saber se tem algo errado nessa conduta deles, porque não é possível se conceder um reajuste com o combustível lá em cima e com os lucros exorbitantes”, disse, em entrevista à Rádio 96 FM de Natal, na última sexta (17).
Segundo o chefe do Executivo, seus aliados no Congresso devem pedir a abertura do inquérito ainda nesta segunda-feira (20). A proposta ganhou apoio também entre políticos da oposição ao governo. “Conversei ontem com o líder da Câmara [deputado Ricardo Barros] para a gente abrir uma CPI segunda-feira. Vamos para dentro da Petrobras”, disse. “É inadmissível, com uma crise mundial, a Petrobras se gabar dos lucros que tem”, acrescentou.
Para a FUP, com toda essa encenação o governo Bolsonaro debocha da população: “O foco da gestão da Petrobras, no atual governo, é geração de caixa, com a venda de derivados a valores de PPI, garantindo altos lucros e dividendos recordes para acionistas. Do lado mais frágil está o trabalhador brasileiro que, há três anos, não tem reajuste real do salário mínimo”.
Dança das cadeiras
José Mauro Coelho, que pediu demissão nesta segunda, assumiu oficialmente a presidência da Petrobras em 14 de abril. Ele foi indicado ao cargo após desistência de Adriano Pires.
Roberto Castello Branco – de janeiro de 2019 a abril de 2021.
Joaquim Luna e Silva – de abril de 2021 a abril de 2022.
José Mauro Ferreira Coelho – de abril a junho de 2022.
Para substituir Luna, o governo Bolsonaro chegou a indicar um empresário do setor Adriano Pires, fundador do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE) que desistiu da indicação após vários questionamentos por querer manter o filho na CBIE.
A Lei 13.303/2016, conhecida como Lei das Estatais, impede que um executivo da empresa tenha parentes atuando no mercado para empreendimentos que possam ser considerados concorrentes.