Na comparação global, o preço da gasolina brasileira está 15% acima da média praticada em 170 países, mesmo o país sendo autossuficiente na produção de petróleo e tendo um parque nacional de refino. Levantamento foi feito pelo site da consultoria Global Petrol Prices
[Da redação da CUT, com edição da FUP]
O Brasil é o nono colocado no ranking dos 15 principais produtores de petróleo do mundo e o segundo entre os que registram os maiores preços de gasolina – perde só para Noruega, onde a renda média mensal dos trabalhadores é mais de dez vezes superior a dos brasileiros.
Dados mais recentes do site Global Petrol Prices revelam que o Brasil ocupa posições bem distintas nas listas dos preços mais baratos e dos preços mais altos entre 170 nações pesquisadas. No grupo dos países com a gasolina mais cara no mundo, o Brasil ocupa a 53ª colocação, enquanto está na 118ª posição entre as gasolinas mais baratas. Na comparação global, o preço da gasolina brasileira está 15% acima da média.
A consultoria informa que países mais pobres, produtores de petróleo e exportadores costumam ter preços consideravelmente mais baixos, enquanto países mais ricos adotam preços mais altos. Na Europa, alguns países produtores, como a Noruega, adotam políticas de tributação elevada para combustíveis fósseis, para desestimular o consumo ou formar uma reserva de recursos públicos.
O preço da gasolina entre os 15 maiores produtores de petróleo do planeta
1. Estados Unidos – US$ 1,19 (62º valor mais barato no Global Petrol Prices)
2. Arábia Saudita – US$ 0,62 (20º valor mais barato no Global Petrol Prices)
3. Rússia – US$ 0,62 (22º valor mais barato no Global Petrol Prices)
4. Canadá – US$ 1,49 (111º valor mais barato no Global Petrol Prices)
5. Iraque – US$ 0,51 (12º valor mais barato no Global Petrol Prices)
6. China – US$ 1,47 (107º valor mais barato no Global Petrol Prices)
7. Emirados Árabes Unidos – US$ 0,99 (38º valor mais barato no Global Petrol Prices)
8. Irã – US$ 0,05 (3º valor mais barato no Global Petrol Prices)
9. Brasil – US$ 1,53 (118º valor mais barato no Global Petrol Prices)
10. Kuwait – US$ 0,34 (6º valor mais barato no Global Petrol Prices)
11. Noruega – US$ 2,42 (167º valor mais barato no Global Petrol Prices)
12. México – US$ 1,17 (61º valor mais barato no Global Petrol Prices)
13. Cazaquistão – US$ 0,46 (10º valor mais barato no Global Petrol Prices)
14. Catar – US$ 0,58 (17º valor mais barato no Global Petrol Prices)
15. Nigéria – US$ 0,41 (8º valor mais barato no Global Petrol Prices)
Segundo o site Trading Economics, para o brasileiro encher um tanque de 50 litros com gasolina, gastará R$ 358, ou US$ 76,50. É o equivalente a 14,26% da atual renda média mensal dos trabalhadores do país, esmagada pela inflação de dois dígitos e pelo desemprego e informalização do trabalho.
Na Noruega, o único entre os 15 maiores produtores de petróleo mundiais com a gasolina mais cara que a brasileira, a renda média mensal de um trabalhador é de US$ 5.728, ou mais que dez vezes a dos brasileiros. Mesmo pagando US$ 121 por 50 litros de gasolina, um norueguês compromete 2,11% de sua renda mensal.
No maior produtor de petróleo do mundo, os Estados Unidos, paga-se menos de US$ 1,20 pelo litro da gasolina e a renda mensal média é de US$ 3.523. Os mesmos 50 litros de gasolina têm custo médio nacional de US$ 59,5, ou menos de 1,7% da renda média.
O preço na bomba no Brasil está próximo ao de outras grandes economias emergentes, como a China, 13º maior produtor de petróleo, e a Índia: ao redor dos R$ 7,00 por litro. Quando o levantamento foi concluído, no último dia 11, o valor médio do litro do combustível calculado pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) era R$ 7,192, enquanto a média mundial estava em R$ 6,29.
Informações coletadas entre 1º e 13 de abril pela ValeCard, no entanto, revelam que o preço médio nacional da gasolina fechou a primeira quinzena de abril em R$ 7,498. É o maior já registrado desde janeiro de 2019, quando a empresa passou a monitorar preços em mais de 25 mil postos em todo o país. Em comparação com março, quando a Petrobras aplicou um mega reajuste e a média nacional passou para R$ 7,288, o valor subiu 2,9%. Em 12 meses, a gasolina já acumula alta de 30,7%.
Carestia é causada pelo PPI
Mesmo com os preços em patamar histórico, a Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom) mantém pressão sobre a Petrobrás. “Apesar da ligeira redução do câmbio e dos preços de referência da gasolina e do óleo diesel no mercado internacional, as defasagens mantiveram-se afastadas da paridade, inviabilizando as operações de importação”, afirma a entidade em nota divulgada na terça-feira (19).
A estimativa da Abicom é de defasagem média dos preços internos em 14% para o óleo diesel e 6% para a gasolina. Nos portos usados como parâmetro (Santos e Araucária), a defasagem do diesel é de 16% e da gasolina, de 8%. No porto de Aratu (BA), onde fica a Refinaria de Mataripe, privatizada pelo desgoverno Bolsonaro, a defasagem é de 8% no diesel e 4% na gasolina, pois a empresa aplica reajustes quase semanais aos preços.
Nos cálculos, a Abicom considera a cotação internacional do petróleo, os custos do frete marítimo e o câmbio. Parâmetros da Política de Preços Internacionais (PPI) da Petrobrás, adotada em outubro de 2016 por Petro Parente, o ministro do “apagão” de 2001, que o então interino Michel Temer nomeou para a presidência da Petrobrás apenas uma semana após o afastamento da presidenta legítima Dilma Rousseff.
Entenda porque Temer e Bolsonaro são culpados pelos altos preços dos combustíveis
À dolarização dos preços dos combustíveis se somou o desmonte da Petrobrás, cujas gestões vêm desde 2016 fatiando suas subsidiárias e as entregando em pregões nas bolsas de São Paulo e Nova York. Ao mesmo tempo, a gestão bolsonarista da empresa “reposicionou” os planos de expansão do parque de refinarias, paralisando obras e reduzindo a capacidade de refino das já existentes, para privatizá-las.
A expansão travada e a desmobilização do parque de refinarias da Petrobrás levaram o país a ter que importar 20% de sua demanda por derivados de petróleo. A maior parte vem da região do Golfo do México, que concentra grande parte da capacidade de refino dos Estados Unidos. E o trabalhador brasileiro que pague a conta.