O Coletivo Nacional de Mulheres Petroleiras da FUP completa em 2022 dez anos de existência com avanços significativos na participação das mulheres nos fóruns deliberativos da categoria e nas estruturas sindicais, como constata a pesquisa realizada pela advogada e mestre em Sociologia Política, Mariana Velloso (veja aqui a entrevista com ela). O resultado se reflete nas negociações coletivas, com conquistas importantes que impactaram positivamente as mulheres, tanto no ambiente de trabalho, quanto na vida pessoal, apesar dos ataques das gestões ultraliberais que assumiram a Petrobrás após o golpe de 2016.
A participação feminina nas plenárias e congressos nacionais da FUP saltou de 5%, em 2010, para 19%, em 2021, chegando a alcançar 22% na Plenafup de 2019, a última realizada de forma presencial. O Coletivo também possibilitou a conquista histórica de oito vagas paras as mulheres na direção da FUP. Desde a sua fundação, em 1994, a principal entidade sindical da categoria nunca havia tido mais do que uma mulher em sua diretoria e, quando teve, na grande maioria das vezes, foi em cargo de suplência.
Coordenadora do Coletivo de Mulheres da FUP, a técnica de operação da Reduc, Andressa Delbons, ressalta a importância de não se sentir sozinha no combate ao machismo. “As mulheres são minoria na categoria e mais ainda nas entidades sindicais. O coletivo de mulheres tem essa função de ajudar na formação, acolher e fortalecer as mulheres petroleiras nesse ambiente dominado por homens”, destaca. Ela também chama a atenção para outras lutas que o Coletivo inspirou, como a implantação da Frente Petroleira LGBT, em 2019.
Diretora da FUP e do Sindipetro Caxias, Andressa e mais quatro petroleiras integram a Chapa 1, que disputa a eleição para o próximo mandato do sindicato. Ela sabe o quanto é difícil conquistar e manter a participação das mulheres nas direções sindicais. “O engajamento das mulheres nesses espaços de representação é fundamental para o avanço das pautas das mulheres trabalhadoras. Por isso, é um orgulho ver companheiras de luta assumindo espaços de liderança importantes como o CA da Petrobrás e a Coordenação do Sindipetro RS. É o reconhecimento do trabalho das mulheres nesse ambiente tão hostil”, afirma.
Com mulheres nas negociações, reivindicações avançam
Com a participação efetiva das mulheres nas negociações dos acordos coletivos de trabalho, conquistas importantes foram garantidas nos últimos anos, como o aumento do tempo da licença paternidade; a instalação de salas de aleitamento nas unidades; a ampliação do auxílio creche para homens; a adoção de uniforme feminino; a garantia de adequação de atividades das mulheres grávidas ou em período de aleitamento para que não sejam expostas a riscos nas áreas operacionais; a redução de jornada mesmo para as trabalhadoras de unidade operacional, mantendo o transporte. No Sistema Petrobras, foi ainda conquistado um espaço permanente de diálogo na comissão de diversidade da empresa e uma mesa específica de acompanhamento de acordo, o que se perdeu após o golpe em 2016.
No setor privado, onde historicamente os sindicatos têm mais dificuldade de avançar nas pautas, a participação de uma petroleira nas negociações vem também garantindo conquistas para as trabalhadoras. Técnica em química da Falcão Bauer, a diretora da FUP e do Sindipetro NF, Jancileide Rocha Morgado, participa desde 2017 das mesas de negociações e afirma que a representatividade foi um divisor de águas para fazer avançar as pautas das trabalhadoras. “Na Falcão Bauer, por exemplo, onde 80% das mulheres trabalham embarcadas, nós garantimos uma licença remunerada para todo o período de gravidez, dando segurança as mulheres para que fiquem em casa. Só mulher sabe o impacto disso nas nossas vidas”, ressalta.
Elas fazem história
O ano de 2022 começou com duas mulheres petroleiras eleitas para espaços que historicamente são ocupados por homens. Aos 37 anos, Miriam Cabreira, técnica de Operação da Refap, assumiu a Coordenação Geral do Sindipetro Rio Grande do Sul, fato até então inédito ao longo dos 58 anos de existência do sindicato. Ela tomou posse no dia 03 de fevereiro, logo após a categoria petroleira ter reeleito a geóloga Rosangela Buzanelli para o seu segundo mandato no Conselho de Administração da Petrobras. Assim como em 2020, Rosângela venceu a eleição em primeiro turno, com mais votos do que a soma dos demais candidatos. Todos homens.
A primeira presidenta do Sindipetro RS tem dez anos de militância sindical e é uma das oito mulheres que ocupam a direção da FUP. Antes dela, apenas outras duas mulheres alcançaram o posto máximo no comando de seus sindicatos.
A primeira foi a enfermeira Ester Bárbara, que coordenou o Sindipetro Espírito Santo entre 2007 e 2010, chegando também a participar da direção da FUP.
Em 2014, a socióloga Cibele Vieira, também fez história, ao ser eleita a primeira coordenadora mulher do Sindipetro Unificado de São Paulo, com mandato até 2017. Atualmente, Cibele é diretora de Administração e Finanças da FUP, cargo que sempre foi ocupado por homens.
Atuante na direção do Sindipetro Rio Grande do Norte desde 1991, a técnica em química, Fátima Viana, a Fafá, também fez história, ao abrir caminho para as mulheres petroleiras nas direções sindicais. Diretora da FUP e uma das fundadoras do Coletivo ela está confiante no avanço da participação feminina. “Há anos lutamos por participação e agora, mais do que nunca, temos que ocupar os espaços, inclusive na política, para estancar os retrocessos do governo Bolsonaro, reconquistar o que perdemos e avançar nas nossas pautas”, ressalta.
[Da imprensa da FUP]