Mesa de abertura do IX Encontro Nacional de Petroleiras reuniu Eleonora Menicucci e Lucia Rincon para debater conjuntura atual e perspectivas para as mulheres em ano eleitoral
[Por Andreza Delgado, do Sindipetro-SP]
Na manhã desta quarta-feira (23), aconteceu o IX Encontro Nacional das Mulheres Petroleiras, promovido pela Federação Única de Petroleiros (FUP) e realizado pela segunda vez no formato digital por conta da pandemia de covid-19.
Mediado por Fafá Viana, diretora do Sindicato dos Petroleiros do Rio Grande do Norte (Sindipetro-RN) e da FUP, a análise de conjuntura na parte da manhã contou com a participação de Eleonora Menicucci, socióloga e ex-ministra da Secretaria de Políticas para as Mulheres Brasileiras, e Lucia Rincon, ativista, membro da Coordenação do Fórum Nacional do PCdoB para a Emancipação das Mulheres e ex-presidenta da União Brasileira de Mulheres (UBM).
Na conversa, foi pautado o quanto as mulheres são tratadas de maneira diferente em relação aos homens em diversos âmbitos de trabalho. A Petrobrás não é a exceção. Relatório feito pelo Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese) – subseção FUP, revelou nos últimos días que as mulheres, em todas as funções exercidas na Petrobrás, recebem menos do que os homens. Nos cargos de nível médio elas ganham, em média, 76% de uma remuneração masculina, exercendo a mesma atividade.
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Para Rincon, o costume está estritamente ligado à cultura que ainda é exercida no Brasil: “Na sociedade brasileira esse pensamento está na cabeça do governo, no parlamento, e aparece em particular quando falamos dos direitos sexuais reprodutivos”. De acordo com a ativista, essas forças que diminuem o papel da mulher têm avançado após o impeachment da ex-presidenta da república, Dilma Rousseff (PT). “Tivemos uma intervenção, a partir do governo de Michel Temer (MDB), de rasgar tudo o que foi conquistado, destruindo nossos direitos e políticas públicas, fazendo uma reforma que retira direitos dos setores sociais”, afirmou.
Ainda, segundo Rincon, durante a pandemia a situação das mulheres brasileiras, principalmente das negras, piorou: “Enquanto trabalhadoras, essa conjuntura [pandêmica] retira as mulheres do mercado de trabalho e tem-se uma taxa de desocupação de mulheres altíssima desde o ano de 2020”.
Estatísticas desanimadoras
A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), apontou que 462 mil mulheres perderam empregos formais no primeiro ano da pandemia. Durante o governo de Jair Bolsonaro (PL) foi extinta a Secretaria Especial de Políticas Publicas para as Mulheres, além de ter ocorrido o aumento da idade mínima para a aposentadoria e o aumento das restrições dos direitos da mulher em relação ao aborto.
Para evitar que as mulheres continuem sendo afetadas por cortes públicos de direitos, na visão de Rincon, a mobilização feminina é fundamental este ano nas eleições. “A participação feminina é de extrema importância para não sermos golpeadas por políticas que nos tiram os direitos, porque a atuação das mulheres nas eleições ainda é baixa”, afirmou.
A deputada federal e presidente do PT, Gleisi Hoffmann, também participou do encontro e mandou vídeo de apoio à luta das trabalhadoras petroleiras, reafirmando a necessidade da participação das mulheres nas eleições. “Neste momento, é de extrema importância a atuação feminina na campanha eleitoral porque precisamos enfrentar a destruição que está acontecendo”.
Apagamento histórico
Ex-ministra da Secretaria de Políticas para as Mulheres Brasileiras, Eleonora Meniucci afirma que, além dos cortes de direitos, as mulheres também passam por apagamento histórico. “Durante a ditadura militar, muitas fomos presas, torturadas, massacradas e exiladas, mas só os livros sobre os homens dessa época ganharam destaque. Contudo, desde esse período as mulheres brasileiras tiveram um protagonismo enorme, assim como em outros momentos históricos do Brasil, como durante as diretas já”, explica a socióloga.
Para ela, um dos maiores marcos da violência feminina na política recente brasileira, foi o impeachment de Rousseff. “Retirar a presidenta da cadeira, da forma como ocorreu, foi uma violência tão brutal quanto a que sofremos durante a ditadura militar”.
Entretanto, na visão da socióloga, nem tudo foi perdido, a força da luta das mulheres no Brasil resultou em vitórias como a criação da Lei Maria da Penha, Lei do Feminicídio, PEC das Trabalhadoras do Lar, entre outras. “Por isso, temos o compromisso de eleger mais mulheres para a Câmara, Senado e Executivo. Essas eleições são uma das mais importantes da nossa história”, findou.
Assista na íntegra: