As pesquisas pretendem investigar também outras questões que estão relacionadas ao sofrimento psíquico que aflige os trabalhadores, como as privatizações, as transferências compulsórias e os ataques às condições de trabalho e à organização da categoria
[Por Alessandra Murteira, da imprensa da FUP]
Durante o Seminário de SMS da FUP, pesquisadores do Núcleo de Saúde do Trabalhador da Fiocruz e do Laboratório de Estudos sobre Saúde e Trabalho da Unicamp reforçaram a centralidade dos estudos que estão sendo realizados sobre saúde mental das trabalhadoras e dos trabalhadores da indústria de óleo e gás.
O evento, realizado nesta terça (30) e quarta-feira (31), no Rio de Janeiro, discutiu a estruturação de uma política nacional de Saúde, Meio Ambiente e Segurança da FUP e a uniformização das ações sindicais, tanto no que diz respeito às pautas corporativas da categoria petroleira, quanto à participação nas diversas comissões e fóruns coletivos que discutem políticas públicas voltadas para a saúde do trabalhador.
Em rodas de conversa com os dirigentes sindicais, as pesquisadoras da Fiocruz, Liliane Teixeira e Rita Mattos, relataram os estudos e projetos recentes da Rede Trabalhadores e Covid-19, que conta com parceria ativa da FUP e tem sido fundamental nas lutas e demandas da categoria petroleira por condições seguras de trabalho, principalmente, no período da pandemia.
Entre os novos projetos anunciados pelo grupo de pesquisa da Fiocruz estão a criação de um observatório sobre o impacto das doenças infecciosas no trabalho e o estudo sobre os efeitos dos sintomas pós-Covid, a chamada Covid Longa, nos trabalhadores offshore, cujo projeto piloto está sendo realizado em Macaé, com participação da FUP e do Sindipetro NF.
Os impactos da Covid Longa na saúde mental dos trabalhadores é um dos principais aspectos analisados pela pesquisa. Não por acaso, esse também é um dos focos dos estudos que estão sendo iniciados pela Unicamp e que foram abordados no seminário de SMS da FUP pelos pesquisadores Márcia Bandini, Sérgio De Lucca e Marília Cintra.
“Não somos mais as mesmas pessoas que éramos antes da pandemia. Somos hoje muito mais vulneráveis e precisamos estar vigilantes em relação a isso”, alertou De Lucca. Ele afirmou que é fundamental quebrar o estigma em torno da saúde mental, principalmente, no trabalho, chamando atenção para a complexidade dos diversos ambientes da indústria petrolífera, que têm um impacto violento sobre os trabalhadores.
Para romper o preconceito e enfrentar as subnotificações relacionadas aos sofrimentos psíquicos causados pelo trabalho, foi criada em março deste ano a Rede Margarida. A FUP é uma das 29 entidades que integram atualmente o coletivo, que “visa partilhar saberes e experiências, reconstruir laços de solidariedade entre as classes trabalhadoras e somar forças em prol de modos mais saudáveis”.
Os pesquisadores da Unicamp solicitaram a colaboração da FUP e de seus sindicatos nos projetos de pesquisa que estão sendo desenvolvidos para investigar o grave quadro de sofrimento mental que aflige os trabalhadores petroleiros, principalmente no Sistema Petrobrás, onde tem ocorrido diversos casos de assédios e tentativas de suicídios, muitas delas, infelizmente, consumadas.
Os estudos foram demandados a partir de uma parceria da Unicamp com o Ministério Público do Trabalho de Campinas, com o objetivo de desenvolver ações de prevenção de transtornos mentais relacionados ao trabalho, que fizeram explodir os adoecimentos, afastamentos e suicídios.
Além de investigar os impactos da pandemia da Covid-19 na saúde mental dos trabalhadores, a pesquisa pretende entender outras questões que podem estar relacionadas ao sofrimento psíquico que aflige os empregados do Sistema Petrobrás, como as privatizações, as transferências compulsórias e os ataques às condições de trabalho e à organização da categoria. “Queremos estender a pesquisa para os dirigentes sindicais, que também têm absorvido toda essa carga de sofrimento”, explicou Marília Cintra.
“Saúde do trabalhador é pauta classista”
Durante o seminário de SMS, dirigentes da FUP e dos sindicatos reforçaram a importância da reconstrução dos fóruns tripartites de saúde do trabalhador que foram desmontados pelo governo Bolsonaro, como a Comissão Nacional Permanente do Benzeno (CNPBz), e o resgate da participação dos petroleiros nos conselhos, comissões e conferências de saúde.
Um dos pontos mais enfatizados no seminário foi a priorização da saúde do trabalhador tanto nas pautas corporativas, quanto para além da categoria. Nesse sentido, foi comemorada a eleição de um delegado petroleiro (João Afonso Felchak/Sindipetro PR/SC) para a 17ª Conferência Nacional de Saúde, que será realizada entre 2 a 5 de julho, com participação de pelo menos outros três petroleiros como suplentes: Luciano Zanetti (Sindipetro PR/SC), Antônio Carlos Pereira (CNQ/Sindipetro NF) e Raimundo Teles, diretor de SMS da FUP.
“A saúde precisa ser priorizada por nossos sindicatos como uma pauta eminentemente classista. A saúde do trabalhador passa necessariamente pela defesa do SUS e pela atuação conjunta com outras entidades, ampliando a inserção dos sindicatos petroleiros junto aos conselhos municipais e estaduais de saúde, à Comissão Intersetorial e aos Centros de Referência de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora”, afirmou Raimundo.
Participação nas auditorias de SPIEs e nas CIPAs
Outras questões discutidas no seminário foram o fortalecimento das CIPAs, o resgate e ampliação da participação dos sindicatos nas comissões de prevenção e também de investigação de acidentes e a necessidade das representações sindicais atuarem de forma mais ativa nas auditorias de SPIE – Serviço Próprio de Inspeção de Equipamentos. Foi deliberada a realização no segundo semestre de um seminário nacional específico sobre esse tema.
Os dirigentes sindicais discutiram ainda propostas relacionadas à saúde e segurança dos trabalhadores para os Acordos Coletivos das empresas do Sistema Petrobrás e do setor privado.
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