Virgílio, Lampreia e a mídia esquálida contra a Venezuela no Mercosul


 

Esquálida é a alcunha dada pelo povo venezuelano à direita golpista em seu país. Homens e mulheres de fibra que elegeram, reelegeram e tem reafirmado o processo bolivariano. A palavra é certeira. Condensa a pequenez de um comportamento rasteiro, pusilânime, de alguém que não se identifica com a sua história, com a sua própria gente, um lumpem, sempre disposto  a servir ao estrangeiro ou a quem lhe pagar mais… A todos que tentam reduzir a nação a um entreposto comercial e fazer de seus filhos escravos, a pátria de Simón Bolívar os contempla do alto, orgulhosa: "esquálidos".

No Brasil, diante da tomada de consciência de parcelas crescentes da população sobre a disputa em curso e do papel político-ideológico dos meios de comunicação, vemos o escudo protetor da mídia cada vez mais convertido em peneira. Como modesta contribuição, vale a pena relembrar a última sessão da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado, que debateu sobre a entrada da Venezuela no Mercosul, bem como a desinformação e o apagão comunicacional que se seguiu nos meios mercantis. O silêncio foi uma comprovação retumbante do seu fracasso na audiência.

Assim, o jeito foi apelar para uma hipotética "perseguição" do governo Chávez, que ameaça com "regras" e "controle social" os "imparciais" canais de rádio e televisão venezuelanos, que após participarem do golpe pró-EUA continuaram com sua campanha contra a Constituição e o regime democrático.

Como é completamente insustentável a recusa à entrada da Venezuela no bloco – o país vizinho é o parceiro responsável pelo nosso maior superávit comercial, próximo aos US$ 5 bilhões (cinco bilhões de dólares!) -, demos e tucanos vêm tentando adiar a decisão, agredindo os interesses econômicos do Brasil e atentando contra a própria integração latino-americana.

Assim, plenamente identificados com a covardia e indigência moral dos seus convidados a fazer uso de impropérios no Senado, parlamentares do PSDB e do DEM trouxeram em seu socorro dois fascistas (anti)venezuelanos: o ex-prefeito de Chacao, Leopoldo López, o escriba Gustavo Tovar-Arroyo, trazendo ainda a tiracolo o ex-chanceler de FHC, Luiz Felipe Lampreia.

A trajetória genufletória de Lampreia é mais conhecida, defensor que é do "alinhamento automático" com os Estados Unidos, no estilo corda-enforcado,.. Claro, sempre em nome de uma maior aproximação… Por isso tem urticária com povos que insistem em palavras ultrapassadas como "independência e soberania", como os de Cuba, Bolívia, Equador, a quem qualifica, diplomaticamente, de "miseráveis". Daí se explica seu furor anti-nacional e sua determinação de colocar na mesa com os EUA até mesmo a entrega pura e simples da base militar brasileira de Alcântara, no Maranhão. Daí seu inconformismo com a altivez do presidente Lula.

Para não nos estendermos sobre a estatura moral e a determinação do desgoverno FHC, a quem serviu de forma tão abnegada e exemplar, vale lembrar o vexame de Celso Lafer que, quando ministro das Relações Exteriores, se rendeu a seguranças no aeroporto de Miami e retirou seus sapatos, abrindo mão da imunidade diplomática e do mínimo de decência como representante de um país soberano. Como Menem, faziam apologia das "relações carnais", disputando quem era o preferido.

Quanto aos aspirantes a demos e tucanos venezuelanos – estão em projeto ainda, porque têm ainda menos consistência eleitoral do que os daqui. Leopoldo López foi um dos maiores entusiastas do fracassado golpe de 11 de abril de 2002 contra o presidente Hugo Chávez, tendo comparecido lépido e faceiro à "posse" de Pedro Carmona Estanga, cuja administração não durou nem 48 horas. Desde cedo foi formatado na cartilha do Tio Sam, tendo inclusive saído dos EUA com um canudo universitário. Consultor de Planejamento da PDVSA entre 1996 e 1999, contribuiu para os desmandos, assaltos e dilapidações do patrimônio público que forçaram o governo Chávez a retomá-la para o povo venezuelano. Discípulo de Milton Friedman, foi professor de Economia na Universidade Católica Andrés Bello, onde os Chicago Boys fizeram – literalmente – escola, ditando suas fórmulas de entrega e privatização. Neoliberal e privatista até a medula, virou guru da ala juvenil do Partido Primero Justicia, patrocinado pela Fundação Nacional para a Democracia (NED), usada pelo Departamento de Estado norte-americano em suas "ações encobertas".

Ainda mais ridículo foi o convite feito ao "advogado, jornalista, escritor e ativista dos direitos humanos" Gustavo Tovar-Arroyo, autor de um livro em que ensalsa os protestos organizados por filhinhos de papai – a quem elevou ao patamar de "movimento estudantil" – contra os investimentos sociais do governo Chávez. As manifestações contaram com caudalosos e despretensiosos recursos do governo Bush, os mesmos que jorraram aos borbotões para os separatistas na Bolívia. A "obra" foi publicada pela editora do El Nacional, porta-voz da elite mais reacionária, entreguista e inculta do Continente, jornal que também é um dos instrumentos da SIP (Sociedade Interamericana de Imprensa), central de propaganda da CIA.

Para poupar o leitor do patamar moral e de contribuição intelectual de senadores do porte de um Collor de Melo, vamos focar apenas e tão somente no senador Arthur Virgílio, prócer do PSDB, que projetou sobre o governo venezuelano parte de sua insignificância, acusando-o de "bizarrice política". Disse que a parceria com a Venezuela não é assim tão fundamental, pois existem outras que ele próprio teria muito mais identidade – com o que temos de concordar, inteiramente. E, finalmente, concluiu: "Não consigo pensar em aliança melhor para o Brasil do que a que passa pelo eixo dos Estados Unidos… E Europa", emendou.

As recordações da Venezuela silenciam o eco da confissão tucana. Estive no país três vezes. Na primeira, em 1992, quando o então tenente-coronel Hugo Chávez liderou um levante contra o carniceiro Carlos Andrés Perez. Conversei então com o hoje ministro das Relações Exteriores, Nicolás Maduro, falei com gente já na clandestinidade e fotografei meninos orgulhosamente uniformizados, ostentando bandeira venezuelana e boina vermelha do batalhão dos paraquedistas aos pés da estátua do libertador Simón Bolívar,bem no centro de Caracas, com as famílias desafiando a repressão para manifestar a sua solidariedade e apoio ao intento – derrotado no campo militar. Na segunda, em 2004, durante o 2º Congresso Bolivariano dos Povos, quando o já presidente Hugo Chávez promulgou, após longo período de rico e intenso debate no parlamento, a Lei de Responsabilidade Social de Rádio e Televisão: "para frear o terrorismo midiático, que atropela liberdades, e começar a democratizar os meios de comunicação sequestrados por uma oligarquia que já apoiou golpes de Estado, fascismo e terrorismo". A terceira, em 2006, durante o Fórum Social Américas, onde já pude comprovar os inúmeros avanços proporcionados pela nova lei de comunicação, particularmente para a afirmação da cultura nacional, a elevação da auto-estima e um crescente pluralismo, oxigenando o debate e rompendo o tom monocórdico dos meios pró-esquálidos.

Excelentes dias, maravilhosas lembranças, injeção de ânimo e esperança para a batalha da Conferência Nacional de Comunicação, que nos aguarda a todos.