Vidas ceifadas pela inconsequência de uma política de SMS que pune, em vez de prevenir

Enquanto as gerências da Petrobrás preferem punir as vítimas de acidentes, culpando os trabalhadores para se eximirem de suas responsabilidades, mais um trabalhador perde a vida de forma estúpida. José Altamir Ozorio, 63 anos, funcionário da empresa Cross & Freitas, responsável pelos serviços de corte de grama no TEDUT, Terminal da Transpetro em Osório (RS), foi vítima de um acidente fatal, no final da tarde de ontem (09/04), ao ser atingido pela caçamba do trator que operava. Segundo relatos de outros trabalhadores, ele sofreu um tombo, quando o trator passou sobre um desnível do terreno, e foi atropelado pela caçamba. José Altamir chegou a ser socorrido com fraturas, submetido a cirurgia, mas não resistiu e faleceu no início da noite.

Foi o segundo acidente fatal registrado em 2018. Nestes dois anos de gestão de Pedro Parente, 13 trabalhadores morreram em acidentes no Sistema Petrobrás, dos quais 10 eram terceirizados. No último dia 05, a FUP denunciou aos gestores de SMS os riscos que os trabalhadores vivem, em consequência da redução de efetivos e das condições precárias nas unidades operacionais. As denúncias foram feitas durante a primeira reunião da Comissão de SMS, quando as direções sindicais tornaram a criticar a política autoritária de punição, baseada em um sistema de consequências, que, na prática, só faz aumentar a subnotificação de acidentes.

Recentemente, houve um acidente na Repar, no Paraná, semelhante ao que tirou a vida do trabalhador do Tedut. A ocorrência não gerou lesões mais graves ao trabalhador e acabou sendo tratada como um mero incidente, o que não foi revisto pela empresa, nem após a intervenção do sindicato local. “Se este acidente tivesse sido registrado corretamente, o que geraria a constituição de uma comissão de investigação, composta por representantes do SMS, da Cipa e do sindicato, o que resultaria em recomendações de um plano de ação, com a devida abrangência, nós, provavelmente, não estaríamos chorando mais uma morte”, declara o secretário de Saúde, Meio Ambiente e Segurança da FUP, Alexandro Guilherme Jorge, que é também diretor do Sindipetro-PR/SC e acompanhou este caso de perto.

“Quantas vidas a mais serão ceifadas enquanto alguns gestores do Sistema Petrobrás defendem essa política que já se provou equivocada e não avançam numa construção mais democrática e com a participação efetiva daqueles que põem todos os dias suas vidas em risco em unidades industriais?”, questiona.

Os resultados da recente pesquisa de SMS e NR-20 feita pela FUP nas refinarias da Petrobrás comprovam que a empresa não investe na prevenção de acidentes e tão pouco zela pela saúde e segurança dos trabalhadores. Dos 1.180 petroleiros que responderam ao questionário, 94% afirmaram não se sentirem seguros com os efetivos reduzidos impostos recentemente pela empresa e apenas 170 disseram ter treinamento dos procedimentos de Segurança e Saúde no Trabalho com Inflamáveis e Combustíveis, como prevê a NR-20.

É para encobrir essa realidade, que os gestores transferem para os trabalhadores a responsabilidade pela ineficiência de uma política equivocada de SMS, cujo principal foco é atender aos indicadores da empresa a qualquer custo. O resultado tem sido a potencialização da subnotificação de acidentes, em função de um sistema de consequências que só faz aumentar o medo dos trabalhadores, principalmente os terceirizados.  “A não comunicação dos acidentes de menor gravidade resultam na não identificação e tratamento da base da pirâmide de acidentes, o que é básico para qualquer política de prevenção. Isso culmina em acidentes absurdos, como o que vitimou José Altamir”, explica o diretor da FUP.

“É ainda mais frustrante para nós que essa tragédia tenha ocorrido poucos dias depois da primeira reunião do ano da Comissão de SMS. Embora de maneira ainda preliminar, já identificamos aspectos que foram amplamente debatidos com a empresa e cujos alertas que fizemos se comprovaram com a morte de mais um trabalhador. Esperamos, sinceramente, que os discursos feitos pelos gestores na mesa de que priorizam a segurança dos trabalhadores acima de qualquer outro indicador se materialize em ações concretas com a maior brevidade possível, pois, do jeito que está, não podemos continuar. De nossa parte, envidaremos todos os esforços necessários”, ressalta Alex.

[FUP]