Vergonhosas relações de trabalho na Petrobrás Peru


A FUP esteve no Peru, entre os dias 30 de abril e 03 de maio, para participar de várias atividades com a Federação dos Petroleiros Peruanos (Fenupetrol), dando seqüência ao trabalho desenvolvido pela Secretaria de Relações Internacionais e Setor Privado de buscar a integração entre os trabalhadores da América Latina e Caribe que atuam no setor petróleo e, mais especificamente, no Sistema Petrobrás. A visita ao Peru foi feita pela Secretaria de Saúde, Tecnologia e Meio Ambiente da FUP, que acompanhou a Fenupetrol em reuniões com a Petrobrás Energia Peru S.A. e as empresas prestadoras de serviço Skanka, Petrix e Ospet, cujos trabalhadores são os únicos que têm sindicato organizado.

As reuniões trataram basicamente das condições de trabalho e segurança nos campos de produção de petróleo em Talara e El Alto, na província peruana de Piura, onde a Petrobrás adquiriu os ativos de produção da Companhia Perez Companc (Pecon). A FUP também debateu com a Fenupetrol e os petroleiros locais a organização sindical que no Peru, diferentemente do Brasil, é feita por empresas e não por ramos de atividade.

Os dirigentes sindicais peruanos informaram que após a aquisição dos ativos da Pecon em Talara e El Alto, a Petrobrás precarizou ainda mais as condições e relações de trabalho, pois terceirizou todas as atividades, inclusive a operação dos poços de petróleo. A Petrobrás Peru conta apenas com 140 trabalhadores próprios, mantidos dos quadros da Pecon, que até hoje não têm representação sindical, nem acordo coletivo, apesar de usufruírem de condições econômicas e sociais totalmente diversas dos trabalhadores terceirizados.

Para alterar a situação de miséria e risco em que se encontram, os petroleiros começam a se organizar em sindicatos, apesar da resistência das empresas prestadoras de serviço. Na Skanka, Petrix e Ospet, as únicas que têm representação sindical, os trabalhadores estão há mais de quatro meses em negociação tentado garantir condições dignas de trabalho. Nas visitas e inspeções feitas pela FUP e Fenupetrol aos poços de produção de petróleo em Talara e El Alto operados pelas prestadoras de serviço da Petrobrás, o que se viu foi uma rotina de trabalho absurda e vergonhosa. Não há qualquer garantia de segurança ou sequer respeito à saúde e integridade física dos trabalhadores.

A Petrobrás, que lucra milhões com o barril a 120 dólares, explora os petroleiros peruanos, expondo-os a condições aviltantes de trabalho, em lugares remotos. Há trabalhadores que são submetidos a jornadas diárias de 16 horas de trabalho, levando duas horas para chegar às áreas de produção e outras duas horas para retornarem. Esses petroleiros permanecem por apenas quatro horas em casa com suas famílias!

Nos campos de Talara e El Alto, o local de trabalho é impróprio para a vida. Os poços ficam localizados em um deserto, com terreno arenoso e rochoso, vegetação escassa, sem vida animal. Não existe água. O vento é seco e com poeira, o sol escaldante. Há chuvas somente em janeiro e em fevereiro, onde tudo vira lama.

Para agravar a situação, são poucas e precárias as estruturas das instalações mantidas pelas empresas prestadoras de serviço, desde a alimentação aos banheiros. Outro ponto que surpreende é a péssima qualidade dos equipamentos de proteção individual: as luvas, óculos, botas e uniformes não são adequados e, além disso, não existe programa de proteção respiratória e auditiva. Os trabalhadores estão se contaminando com o petróleo nos campos e levando o produto para casa, onde as famílias é que lavam seus uniformes.

Não existe sequer preocupação com a construção de equipamentos de proteção coletiva. Não há cobertura para o sol, nem espaço de risco delimitado, o que poderia dar proteção aos trabalhadores e evitar o desgaste físico excessivo. Ou seja, o que as empresas locais entendem como condições de segurança e saúde, em nada protegem o trabalhador.

Apesar de todas as dificuldades e das condições sobre-humanas de trabalho, os petroleiros peruanos estão se organizando em sindicatos para mudar esta situação. Em contraposição, as empresas que prestam serviço para a Petrobrás passaram a perseguir os dirigentes sindicais e os trabalhadores associados. Assim como no Brasil, fica evidente a necessidade de primeirização das atividades essenciais. A FUP não medirá esforços para estimular o fortalecimento da organização sindical na região e continuará atuando com a Fenupetrol para exigir que a Petrobrás intervenha junto às prestadoras de serviço e garanta condições dignas de trabalho e segurança para os petroleiros peruanos, assim como o respeito à organização sindical local.

Os petroleiros de Talara e El Alto são vítimas das mesmas relações de trabalho que são praticadas no Brasil pela maioria das prestadoras de serviço da Petrobrás. A discriminação e a exploração do terceirizado no setor petróleo é a mesma, apesar das condições físicas diversas que existem no Peru. Mais do que nunca, é fundamental a solidariedade classista de todos os trabalhadores para fortalecer e apoiar esta luta.