“A produção de fertilizantes nitrogenados se insere na cadeia de valor do gás natural, sendo uma alternativa economicamente atrativa para sua monetização. A demanda do mercado brasileiro de fertilizantes é maior que a produção nacional. Além disso, o segmento encontra-se em expansão tanto no Brasil quanto no mundo. Com o crescimento populacional e o aumento de renda, espera-se aumento no consumo de alimentos, principalmente de proteína animal, que requer mais grãos para sua produção e, por consequência, maior uso de fertilizantes. No Brasil, entre 2003 e 2012, o consumo de fertilizantes passou de 22,8 milhões de toneladas para 29,6 milhões, o que configurou crescimento de 30% no período. De acordo com a previsão da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), entre 2010 e 2020, somente no Brasil, a produção de alimentos crescerá 40%.”
O trecho que você acabou de ler faz parte do comunicado “Fatos e Dados”, de 2 de janeiro de 2014 (http://www.petrobras.com.br/fatos-e-dados/entenda-por-que-investimos-em-fertilizantes.htm). O que mudou nesses cinco anos, o cenário brasileiro e mundial ou a visão estratégica Petrobrás? Por que, em 2014, investir em fábrica de fertilizantes nitrogenadas era “uma alternativa economicamente atrativa” e agora a companhia tenta se desfazer das Fafens?
No dia 13 de agosto o presidente da empresa, Roberto Castello Branco, participou de audiência pública na Comissão de Infraestrutura do Senado para falar sobre a privatização de refinarias e das fábricas de fertilizantes contidas no plano de desinvestimentos. Segundo Castello Branco, o protocolo de intenções com a empresa russa Acron, maior produtora de fertilizantes do mundo, será assinado até o final de agosto.
Em documento de março deste ano, o Dieese analisa que “os investimentos da Petrobrás têm sido fundamentais para o processo de desenvolvimento do país. Até o ano de 2014, a empresa era responsável por 13% dos investimentos produtivos no Brasil e contribuía com 6% do Produto Interno Bruto-PIB. O atual cenário de desaquecimento e retração econômica pode ser creditado, em parte, à desaceleração dos investimentos da Petrobrás. O investimento da empresa em fontes alternativas de energia e a participação estratégica na produção de fertilizantes vinham sendo absolutamente importantes na consolidação de um modelo de crescimento econômico com desenvolvimento e autonomia”.
Alimentos ficarão mais caros
As fábricas de fertilizantes continuam a ser um bom negócio, tanto que a maior empresa do planeta nesse ramo está interessada em adquirir o que a Petrobrás está jogando fora. E por que a gestão da empresa faria isso? A resposta tem duas vertentes: a primeira, garantir o máximo retorno possível de dividendos para os acionistas em curto prazo, ou seja, pegar a grana da venda, injetar no balanço e pagar os acionistas, não se importando se isso irá afetar o projeto de desenvolvimento do país ou causar o aumento no preço do alimento.
Ainda segundo o relatório do Dieese “podemos perceber que a saída da Petrobrás do setor, através da venda das unidades da Fafen, pode ser um fator a mais para a elevação do custo de produção dos fertilizantes nitrogenados, uma vez que a empresa que comprar esses ativos (Fafens) não terá o mesmo acesso à matéria-prima. A Petrobrás, sem dúvida, possui uma enorme vantagem comparativa na produção de fertilizantes nitrogenados, por ser a produtora da matéria-prima principal para a produção dos mesmos, que é o gás natural.
A decisão de pagar mais dividendos a “meia dúzia” de acionistas será sentida no bolso de toda a população na hora de ir ao supermercado.
[Via Sindipetro Unificado-SP | Texto: Norian Segatto]