Por Cibele Vieira, Coordenadora do Sindipetro Unificado do Estado de São Paulo
A Petrobrás continua sendo o principal foco da mídia, que agora passou a noticiar a queda do preço do barril de petróleo como se tivesse começado em janeiro.
No ano passado, os petroleiros fizeram a maior greve desde 95, como parte de uma campanha que envolveu vários movimentos sociais: “Defender a Petrobrás é Defender o Brasil”! Campanha que se opõe aos projetos de entrega do pré-sal ou da quebra do regime de partilha e às vendas de ativo da Petrobrás.
Os grandes atos de março, abril, agosto, setembro, outubro e a greve da categoria traziam a defesa da Petrobrás e do petróleo como um dos temas, mas os noticiários pouco abordaram este aspecto dos atos.
Transmitiram apenas as denúncias da Operação Lava-Jato e, de forma seletiva, escondendo a crise do setor petrolífero no mundo passando a idéia de que a culpa de tudo que ocorre com a Petrobrás é culpa do PT. Quando passava alguma coisa do Oriente Médio tratavam apenas da crise dos refugiados que, mesmo assim, foi pouco noticiada mediante a gravidade da situação, sem abordar os motivos dessa crise.
2016 começa como mundo à beira da 3° Guerra Mundial, talvez algo intermediário entre as guerras “tradicionais” e a guerra-fria. Com o preço do petróleo abaixo dos 30 dólares não há mais como esconder a crise e aos poucos fica evidente que a situação atual da Petrobrás pouco tem a ver com a corrupção dentro da empresa.
Investimentos em petróleo são planejamentos de longo prazo, portanto, o excesso de oferta atual é fruto de investimentos feitos quando a economia mundial estava aquecida. A produção de petróleo não é tão flexível quanto às flutuações do mercado financeiro e da atual economia. Leva-se um tempo para conseguir reduzi-la mesmo que se opte por isso.
O contrário também é verdadeiro: quando a economia mundial voltar a crescer, vai demorar para a oferta de petróleo subir. Mas não podemos esquecer que estamos falando de um bem estratégico, cuja importância não é apenas a obtenção de lucro, fato que a grande mídia ainda esquece de dizer.
Poucos sabem, mas com a quebra do lastro ouro nos anos 70, houve um acordo entre os EUA e a Arábia Saudita de só comercializar petróleo em dólar americano, os ‘petrodólares’. Portanto, além de ser essencial militarmente (para transportar soldados e bombas), na indústria (como energia), para o transporte (de pessoas e mercadorias), para aquecer as casas nos países frios e como matéria-prima para milhares de produtos; é o petróleo o que garante aos Estados Unidos a hegemonia da moeda internacional.
Não me arriscarei a dizer se os preços continuarão baixos ou subirão, mas é preciso ter em mente que além da disputa por mercado há interesses geopolíticos maiores do que quebrar a indústria do gás de xisto americana por trás da queda dos preços que beneficiam o próprio Estados Unidos.
Tenho a convicção de que alterar o marco regulatório, fazer leilão de novos campos ou vender qualquer ativo da Petrobrás em um período de incertezas e baixas no preço seria uma verdadeira burrice e prejudicaria muito o povo brasileiro.