Dirigentes sindicais que atuaram no setor de fertilizantes, antes do desmonte imposto pela antiga gestão da Petrobrás, cobram que a estatal volte a assumir integralmente as fábricas da Bahia e de Sergipe que foram arrendadas. Sem condições de manter as unidades, a Unigel força o aumento da importação de fertilizantes nitrogenados, prejudica toda a cadeia produtiva de alimentos, dificulta a vida do agronegócio e ainda aterroriza os trabalhadores com um ambiente de insegurança.
Veja a íntegra do artigo:
Por Albérico Santos Queiroz Filho* e Santiago da Silva Santos**
No ano de 2019, sob o comando do governo Bolsonaro, a Petrobrás decidiu sair do setor de fertilizantes, estratégico e essencial para a soberania nacional. Com essa decisão no mês de fevereiro, foi iniciada a hibernação das duas unidades localizadas no nordeste brasileiro; uma em Sergipe e a outra no estado da Bahia, atingindo assim a vida de centenas de trabalhadores e os estados envolvidos.
Em uma negociação muito estranha e prejudicial, em novembro do mesmo ano, a Petrobrás fechou um contrato de arrendamento com a Unigel, empresa que até então não tinha grande representatividade e expertise na produção de fertilizantes nitrogenados. Estranhamente e de forma abrupta, em janeiro de 2020, dois meses após o arrendamento das plantas do nordeste pela Unigel, a Petrobrás decide hibernar (fechar) a única unidade que ainda restava em operação no setor no Brasil.
Diferente da opção que foi dada aos trabalhadores do Nordeste, a transferência para outras unidades operacionais do sistema Petrobrás, os trabalhadores da FAFEN PR (ANSA) foram demitidos sumariamente com o argumento de que eram de uma empresa subsidiária e a Petrobrás não poderia absorver sua mão de obra. Logo após o fechamento da empresa, os ex-trabalhadores demitidos começaram a ser convidados pela Unigel para trabalhar na partida das unidades do Nordeste, suprindo assim sua carência de mão de obra qualificada extremamente necessária para conseguir colocar suas unidades em operação. Muitos trabalhadores, em situação fragilizada por conta da repentina e traumática demissão, foram levados a aceitar propostas de emprego precárias e inferiores ao que tinham no estado do Paraná e ainda longe de suas famílias e laços construídos ao longo dos anos.
Pois bem, com tudo que precisava em mãos, plantas de alta complexidade e mãos de obra especializadas entregues de bandeja pela Petrobrás, a Unigel consegue de forma rápida colocar as unidades em operação plena. E, no ano de 2022, surfando na onda dos altos preços dos fertilizantes, provocados pela guerra entre Rússia e Ucrânia, tem lucros exorbitantes girando em torno de 1 bilhão de reais. Mas que aparentemente não foi o suficiente para satisfazer a alta gestão, que iniciou o ano de 2023 com a maior choradeira que o setor já pode presenciar; com forte lobby em Brasília e queixas quanto ao preço do gás, que com a queda da PPI ficou mais barato que no ano anterior, onde o lucro tirou sorrisos da alta gestão.
Como pudemos observar, a Unigel paralisou as duas fábricas de fertilizantes, tanto na Bahia quanto em Sergipe. Já vimos uma novela com enredo parecido quando a FAFEN-PR passou o ano inteiro sem produzir a mando da gestão bolsonarista e alegou que a unidade deu prejuízo. O que é óbvio, pois fábrica parada não dá lucro. E para a surpresa de ninguém, ela retomou a produção na Bahia e já há planos de voltar a produzir em Sergipe. Isso deixou mais do que claro que nunca foi pelo preço do gás, mas pela manutenção de uma margem de lucro maior.
A verdade é que como sempre o capital vai pedir socorro ao Estado, mas a ferramenta de sensibilização é perversa: parar as unidades, propor suspensão de contratos aos trabalhadores e usar isso para chantagear o Estado.
Precisamos deixar claro: o que de fato estão fazendo é criar um clima de terror e insegurança nas unidades. Usar trabalhadores como escudo de proteção para sensibilizar e pressionar o governo a socorrer a sanha capitalista pelo lucro irrestrito, é uma das atitudes mais covardes que a concentração de renda pode prover. Essa atitude é a que encontramos quando olhamos a iniciativa privada nos olhos.
Após passar um tempo sem produzir e com claros sinais de dificuldades financeiras, a Unigel não aponta saídas para manter suas obrigações em dia. Além de buscar negociação para evitar o vencimento de dívidas que ultrapassam um bilhão de reais, de buscar investidor para seus projetos de hidrogênio verde e de ter sua nota de crédito rebaixada, fica a preocupação: até quando a Unigel será capaz de pagar o arrendamento para a Petrobrás?
Temos várias perguntas, mas as essenciais são: quando vão devolver as unidades para a Petrobrás? Quando vão passar a tratar com dignidade os trabalhadores que vivem esse momento de angústia e incerteza? Quando vão assumir a incompetência em tratar o negócio de fertilizantes como estratégico para a nação, e não puramente um item de mercado? Sozinha, a Unigel força o aumento da importação de fertilizantes nitrogenados, prejudica toda a cadeia produtiva de alimentos, dificulta a vida do agronegócio e ainda aterroriza os trabalhadores com um ambiente de insegurança e imprevisibilidade. Um verdadeiro combo que reflete o desprezo da iniciativa privada com a realidade do Brasil, que precisa produzir.
A FUP compreende que que a melhor solução para o setor é a manutenção das Fafens sob o controle da estatal, para que jamais questões tão sensíveis à soberania nacional sejam usadas como ferramentas a serviço do mercado, colocando a produção agrícola em segundo plano e forçando a queda da produtividade nacional de alimentos para consumo humano. Queremos a Petrobrás sendo o que ela se propõe a ser: uma empresa integrada de energia do poço ao posto, mas também do poço ao prato da trabalhadora e do trabalhador do brasileiro.