Após o ato realizado na porta do EDIBA (Edifício Sede da Petrobrás da Bahia), os delegados do XVII Confup assitem a primeira mesa desta sexta, 4, sobre Conjuntura política e econômica: articulação de forças sociais na reconstrução do projeto político e democrático com João Pedro Stédile, Guilherme Boulos e Renato Rabelo (PC do B).
A tônica que uniu as falas dos participantes da mesa foi a de que o governo golpista tem um projeto de destruição do país e de tudo que os governos dos trabalhadores construíram nos últimos ano. Apontam como saídas a unidade, o diálogo com o povo e a construção de uma Frente Democrática.
Boulos apresenta três desafios para esquerda
Para da Coordenação Nacional do MTST e Frente Povo Sem Medo, Guilherme Boulos, a esquerda brasileira precisa reconhecer que sofremos uma derrota histórica que se consumou com o golpe. “Em um ano o projeto Temer conseguiu impor profundos retrocessos no país, com base num programa de destruição nacional que não é apoiado só em colocar um presidente não eleito, mas aplicar uma agenda política de retrocessos”.
Boulos avalia que o grupo que está no poder coloca em jogo a destruição de três grandes pactos nacionais firmados. O mais recente o pacto Lulista que implementou um programa que representou o investimento em programas sociais e uma política de valorização dos salários dos trabalhadores. Outro pacto é a própria Constituição que foi duramente atacada, quando esse governo aprova uma medida de congelamento de gastos por 20 anos e cerceia a atuação dos próximos quatro presidentes que forem eleitos. E o último e mais antigo é o pacto Varguista que estabeleceu uma série de proteções aos trabalhadores e que agora foi atacado diretamente com a aprovação da Reforma Trabalhista.
“Foi implementado no Brasil um programa de desmonte nacional extremamente agressivo e que não cabe na democracia, porque não admite concessão e conciliação. Esse projeto de destruição vem junto com uma crise política profunda, que aprofundou o abismo entre o povo e a representação política” – afirma Boulos.
Do seu ponto de vista essa crise profunda de representatividade é perigosa caso seja canalizada por um caminho de direita e de antipolítica que é representada atualmente pelo Deputado Federal, Jair Bolsonaro, e o prefeito de São Paulo, Dória, símbolos do conservadorismo e do retrocesso.
Boulos questiona como será feita essa transição política que se a nova república faliu. E alerta que a burguesia já prepara sua saída e a esquerda ainda não. Como desafios aponta três caminhos.
“O primeiro desafio é a unidade valorizando aquilo que nos une. É evidente que temos diferenças, mas isso não pode bloquear a unidade. O segundo é construir um pacto com o povo, através do trabalho de base, escutando, acolhendo e falando a sua linguagem e em terceiro desafio a enfrentar é de rediscutir o nosso projeto para o país que deve se basear na revogação de todas as medidas tomadas pelo golpe. Esse é o único caminho que acredito para um projeto para o Brasil e para construir nossa resistência” – explica.
Rabelo: esquerda deve se rearticular
O ex-presidente do PCdoB, Renato Rabelo, que hoje preside a Fundação Maurício Grabois, fez sua explanação, com um chamamento às forças progressistas de esquerda a realizarem um grande pacto nacional para reconstrução do Estado e do projeto de desenvolvimento de caráter social e estruturante. Para ele, esse é o momento da esquerda se rearticular. “Há uma cisão entre os golpistas e o povo já compreendeu que foi enganado por eles”, lembrou.
“O povo precisa acreditar nas forças progressistas de esquerda”, destacou, frisando que “é primordial criar uma frente e um pacto político e social amplo, que tenha por base a restauração da democracia e a salvação nacional” para “retomar os direitos sociais e trabalhistas, derrubar as barreiras constitucionais que impedem o progresso social, reconstruir a política externa soberana, com reafirmação das parcerias estratégicas”.
Para Rabelo, o alicerce do novo projeto nacional de desenvolvimento deve ser a industrialização, a reestatização e o produtivismo. “Nenhum espaço ao rentismo”, frisou.
Stédile diz que nossa força é a mobilização popular
Assim como Boulos, João Pedro Stédile defende um projeto nacional para o País com a revogação de todas as reformas e medidas aprovadas pelo governo ilegítimo de Temer. Stédile, um “velho” companheiro de luta dos petroleiros, acredita que toda a análise de conjuntura dever ser coletiva – sozinho não é possível avançar. “A base da nossa análise é compreender como as classes se comportam no seu dia a dia, na política, na economia. Temos que ter capacidade de lidar com a divergência de ideias para construir um Programa para o País em favor do Povo”.
Para Stédile, o desmonte do Estado passa principalmente pelo assalto aos bens da natureza. E os petroleiros sabem bem disso, são vítimas do processo de privatização que tentam implantar na Petrobrás. A taxa de lucro do Petróleo é algo extraordinário, assim como a de todos os outros bens naturais. A água, por exemplo, tem uma taxa de lucro 700%.
“Esse grupo que está no poder tem pressa. Os capitalistas tem pressa para se recuperar da crise, e colocam todo peso em cima do trabalhador brasileiro. Temos que ajustar nosso foco, que não é mais o Fora Temer, e sim o capital financeiro – os bancos e os meios de comunicação, a rede globo. Eles sabem que é na crise que a esquerda cresce. O que nos salva é a dialética, é que toda ação gera uma contradição e é isso que nos mantém na luta. Eles estão divididos, companheiros. Nossa força é a mobilização popular para construção de um programa de esquerda não desenvolvimentista”.
Texto: Imprensa Sindipetro-NF, FUP e Sindipetro-ES
Fotos: Diego Villamarin