No dia 8 de março, o mundo comemora o Dia Internacional da Mulher. Atos políticos, manifestações, shows musicais e peças de teatro, passeatas, palestras, documentários, entrevistas, filmes e debates. São comemorações que acontecem de diversas maneiras para lembrar esse dia especial e que faz parte da agenda política e cultural dos movimentos sociais, das empresas e da sociedade com um todo. Porém, não devemos esquecer que essa data foi marcada sobretudo pela luta, e, muito embora tenha sido desencadeada pelas mulheres, diz respeito a luta de todos nós. Uma luta e uma conquista da humanidade, especialmente das mulheres. É assim que vemos o "Dia Internacional da Mulher".
No entanto, a luta que marcou o surgimento do Dia Internacional da Mulher não foi bem o que se pode chamar de comemoração como a mídia quer dar a entender. Na verdade, foi um enfrentamento de classes acirrado. Expressou, em ultima análise, o principal antagonismo existente na sociedade capitalista, ou seja, a luta de classes entre o trabalho e o capital como veremos a seguir.
No ano de 1857, na Fábrica Cotton, na cidade de Nova Yorque, EUA, 129 mulheres cruzaram os braços e iniciaram uma greve. As exigências das operárias têxteis eram a redução da jornada de trabalho de 16 para 10 horas diárias e melhores condições de trabalho. Além disso, recusavam-se a fiar o algodão plantado pelas mulheres negras do sul. As escravas da indústria em Nova Yorque, solidarizando-se com suas irmãs negras, escravas dos campos de algodão do sul. Era preciso dar um grito, um basta a tanta exploração e opressão!
As mulheres apresentam ao "capitão" da industria suas exigências. A resposta foi o silêncio dos patrões e, em seguida, a recusa de todas as suas reivindicações. As mulheres se reuniram em assembléia e tomaram uma decisão: "Se não nos ouvem com os teares parados, nos ouvirão com a fábrica ocupada". Assim, as 129 operárias fizeram a ocupação e exerceram o controle da produção da fábrica. Para os patrões uma ofensa mortal. Eles não admitiram tal gesto de rebeldia. Convocaram os subservientes chefes de policia com seus soldados para defender seus interesses. Como carrascos, os policiais obedecem e aplicaram toda a brutalidade e violência. "Se essas mulheres não querem trabalhar e nem sair da fábrica queimarão com ela", esbravejaram covardemente. Em seguida, lacraram todas as saídas e incendiaram a fábrica. As 129 operárias morreram carbonizadas dentro da fábrica. Nenhuma sobreviveu.
Mas, a luta não foi em vão. Em 1910, as herdeiras das bravas operárias da fábrica Cotton, reunidas na IIª Conferência de Mulheres Socialistas, em Copenhague, aprovaram a proposta de Clara Zetkin, uma comunista alemã, para que o Dia Internacional de Lutas pelos Direitos das Mulheres, fosse realizado no dia 8 de março, em homenagem às heroínas têxteis de Nova Yorque.
E, a partir daquela data, o dia 8 de março ficou consagrado como "Dia Internacional da Mulher", marcado para sempre pela luta das 129 mulheres operárias têxteis, assassinadas covardemente pelos patrões e policiais. No Brasil, o 8 de março passou a ser comemorado desde a década de 30. Nas fábricas, nas ruas, praças e muitas vezes nas prisões, ocorriam manifestações de homenagem à luta das mulheres.
Com a criação da Federação das Mulheres do Brasil, na década de 50, essas manifestações foram mais intensas. Em 1964, com o golpe de estado, o movimento de mulheres foi perseguido e a ação muito limitada. As comemorações, quando ocorriam, era na clandestinidade, aliás, como aconteceu com os demais movimentos populares. Apesar de tudo, a luta das mulheres continuou e foi decisiva na luta contra a ditadura militar no Brasil.
Com a retomada das mobilizações populares em 1975 e a decretação pela ONU, em 1976, da década das mulheres, o movimento rearticulou-se e o "Dia Internacional da Mulher", apesar da repressão da ditadura militar, voltou a ser comemorado publicamente, sempre com debates, seminários e atos públicos, promovidos pôr entidades de mulheres, sindicatos, partidos políticos e outras instituições.
A lição que se pode tirar da história do “8 de março”, e que as 129 mulheres de Nova Yorque nos proporcionaram, é que é preciso lutar contra a opressão independentemente do tempo em que esteja se vivendo, porque passados 152 anos do bárbaro assassinato das operárias têxteis, ainda hoje a mulher luta contra todas as formas de exploração, discriminação e violências. Viva o Dia Internacional da Mulher!