Política da Petrobrás levará país a dependência semelhante ao ciclo do café, afirma economista

 

O Brasil poderá retroceder séculos no âmbito econômico caso a política adotada pela direção da Petrobrás e pelo governo federal se consolide. Essa é a opinião do economista do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis Zé Eduardo Dutra (INEEP), Rodrigo Leão. A principal mudança, que se iniciou em 2015 ainda sob o governo Temer, foi priorizar a exportação de óleo cru ao invés de investir na produção de derivados e na cadeia produtiva nacional de petróleo.

“O problema mais grave dessa política é que você está atrelando seu ciclo de rentabilidade ao ciclo de preço internacional do barril de petróleo. Quando o petróleo bater US$ 100 o barril, você se beneficiará desse processo, mas quando ele cair a US$ 30 você está lascado. A gente vai voltar novamente ao que a gente viveu nos ciclos primários exportadores do Brasil, com a cana e o café”, opina Leão.

Em 2019, a produção brasileira de petróleo bateu recorde, ultrapassando pela primeira vez a marca de 1 bilhão de barris. De acordo com a Agência Nacional do Petróleo, Gás e Biocombustíveis (ANP), a produção aumentou 7,78% em relação ao ano anterior, com uma média de 2,79 milhões de barris ao dia. No mês de dezembro, o país também bateu o recorde de exportação da commodity, alcançando o valor de 8,72 toneladas.

Ainda de acordo com o economista, esse direcionamento da empresa é de alto risco, devido a incerteza de novas descobertas de reservas nos próximos anos. “Assim como aconteceu com o café, outros países vão começar a produzir petróleo, e ninguém garante que em 15 anos não possa ter uma outra descoberta que passe a competir com o pré-sal. É uma aposta de alto risco. Você tá jogando todas suas fichas num único segmento”, explica.

Em consequência dessa política que prioriza a exportação do produto primário, as refinarias da Petrobrás estão operando com cerca de 70% da capacidade. Isso porque está mais rentável para a empresa e seus acionistas exportarem petróleo cru. Com isso, entretanto, o Brasil é obrigado a importar os produtos derivados do petróleo (gasolina, diesel, gás natural, gás de cozinha) para suprir a demanda interna. E quem paga a conta é a população brasileira.

Em 2019, de acordo com a ANP, o preço da gasolina subiu 4,85% e foi vendida, em média, pelo valor de R$ 4,55 por litro nas bombas de combustíveis. Já o óleo diesel sofreu reajuste anual de 8,69% e chegou ao preço médio de R $3,75 nos postos. Já o gás de cozinha sofreu reajuste aproximado de 10%, atingindo uma média de R$ 73 por cada botijão. E esses preços podem aumentar ainda mais, caso se concretize o plano do governo Bolsonaro de privatizar 9 das 15 refinarias da Petrobrás nos próximos anos.

Greve dos petroleiros

Para tentar barrar estes retrocessos, os petroleiros deflagraram uma greve nacional no dia 1º de fevereiro. A principal reivindicação é contra o fechamento da Fábrica de Fertilizantes do Paraná (Fafen-PR), que causará a demissão de aproximadamente mil trabalhadores. De acordo com a Federação Única dos Petroleiros (FUP), a medida fere o Acordo Coletivo de Trabalho (ACT), que prevê a consulta aos sindicatos responsáveis antes de demissões em massa.

De 2013 a 2018, de acordo com a FUP, a redução de trabalhadores da Petrobrás foi a maior entre todas as petroleiras do mundo, com aproximadamente 270 mil demissões. No quadro de trabalhadores próprios, foram 23 mil demissões, por meio de Planos de Demissão Voluntária, sem reposição de vagas. Em relação aos terceirizados, foram 248 mil trabalhadores demitidos, o que representa uma redução de 68% o número de postos de trabalho.

[Sindipetro Unificado SP/Guilherme Weimann]