Leilão do pré-sal hipoteca o futuro do país, diz Ildo Sauer

 

O professor Ildo Sauer, do Instituto de Energia da Universidade de São Paulo – USP, e ex-diretor da Petrobras, alertou o país, na sexta-feira (27), em entrevista ao jornal Hora do Povo, para a gravidade das decisões tomadas pelo governo Bolsonaro  em relação à privatização da Petrobras e à venda de campos de petróleo do pré-sal, no chamado megaleilão, programado para novembro deste ano.

“A privatização e o desmonte do setor energético é um crime contra o país e trará sequelas profundas e irreversíveis para o desenvolvimento do país”, disse Sauer. “E o pior é que eles vão desnacionalizar e não vão colocar nada no lugar de tudo isso que foi construído pelo Brasil nas últimas décadas”, acrescentou o professor.

Ele destacou que “é preciso uma mobilização das bases e uma aliança ampla na sociedade para fazermos o enfrentamento dessa situação”.

O ministro da Economia, Paulo Guedes, anunciou que vai realizar o chamado megaleilão de petróleo em novembro. O governo festeja a possibilidade de arrecadar cerca de R$ 100 bilhões com a venda dos campos da cessão onerosa (área do pré-sal contígua à que foi vendida à Petrobras e onde a estatal realizou todas as pesquisas para achar o petróleo).

O professor Sauer denuncia que esse valor é ínfimo perto da riqueza que está sendo entregue com o leilão. “O que está sendo vendida é uma área com reservas comprovadas que vão de 6 bilhões de barris, a 15 bilhões de barris”, diz ele. As estimativas da própria Agência Nacional do Petróleo – ANP, confirmam o que diz o professor. “O petróleo excedente da Cessão Onerosa é estimado entre 5 bilhões e 15 bilhões de barris de petróleo”, avalia o órgão.

O especialista calcula que o valor que está sendo cobrado por barril na venda da cessão onerosa está na casa do US$ 6 a US$ 7. Com um custo de produção de US$ 10, chegando a US$ 20 com os impostos e transferências, os vencedores do leilão vão ganhar seis, sete e até oito vezes mais do que isso, vendendo esse mesmo barril no mercado internacional a US$ 60 dólares.

Se trabalharmos com a avaliação mínima de 6 bilhões de barris, o ganho com a comercialização do óleo chegará a R$ 800 bilhões, podendo atingir até R$ 2 trilhões. Ou seja, o governo vai vender por R$ 100 bilhões o que vale, por baixo, R$ 900 bilhões. “Estão hipotecando o futuro do país a troco de migalhas”, advertiu Ildo Sauer.

O professor da USP diz ainda que a venda dos campos vem acompanhada da privatização da Petrobras aos pedaços. “A vertente mais entreguista, comandada pelo ministro Guedes, tem a intenção de privatizar tudo, e agora isso foi referendado também pelo presidente da República”, denunciou Sauer.

Ele alerta também para a alienação da Eletrobras, que já está em estado avançado de esquartejamento e desnacionalização. “Esses são patrimônios construídos pelo povo nos últimos sessenta anos e que estão sendo dilapidados”, afirmou. “Precisamos impedir que isso ocorra”, conclamou.

Ildo explica que uma medida aprovada pelo Supremo Tribunal Federal, autorizando a venda de subsidiárias através apenas da decisão de diretoria e do Conselho da Petrobras, vai provocar a destruição da estatal. Os ativos da empresa, segundo ele, “vão sendo passados para as subsidiárias e essas vão sendo vendidas, como fizeram com os gasodutos e a BR Distribuidora”.

“Como a Petrobras, em função da lei 9.478 de agosto de 1997, que é a lei do petróleo, criou a possibilidade da estatal criar várias subsidiárias, várias empresas ligadas à Petrobras. Então, para privatizar qualquer ativo hoje, basta que se transfira os oleodutos, os gasodutos, as refinarias, uma termoelétrica, ou os campos de petróleo, ou qualquer outro ativo para uma subsidiária e, então, se vende a subsidiária. Vai sobrar apenas o CNPJ e a sede da Petrobras”, denunciou.

“Com isso, destacou Ildo, o governo está preparando um grande feirão. Estão anunciando que vão vender tudo”, alertou. “O maior ativo de uma petroleira como a Petrobras, depois da capacitação tecnológica, de seus recursos humanos, é encontrar, explorar e desenvolver a produção de petróleo. São as reservas que ela tem. Empresas sem reservas, morrem. Porque as reservas exauridas terminam”, frisou Ildo.

“É isso o que vai acontecer com a Petrobras. É como cortar oxigênio dos seres vivos. O oxigênio de uma empresa de petróleo é a possibilidade de produzir o petróleo e encontrar novas reservas”, avaliou o especialista.

Ildo disse que a situação é grave e que é necessária uma grande mobilização da sociedade para barrar esse processo.

“Esse novo quadro institucional permite que, por decisão meramente administrativa no âmbito da empresa, ela possa simplesmente liquidar tudo o que tem de valor, se assim for a orientação e o desejo, já anunciado, pelo ministro Guedes, referendado pelo presidente da República que quer privatizar tudo”, observou.

“Essa decisão do governo Bolsoanro destrói a capacitação de recursos humanos conquistada pela Petrobras e fecha as portas para a conquista da soberania”, afirmou Ildo Sauer.

“A construção da soberania”, destacou, “é a forma concreta do povo, autonomamente, construir a sua existência, criar a estrutura material concreta de sua existência, com produção e bem estar, gerando dinheiro para investir na educação saúde, segurança, ciência e tecnologia, proteção ambiental e transição energética”. “Não podemos abrir mão de nossa soberania”, concluiu.

[Via Hora do Povo]