Sindicalismo europeu pede socorro a brasileiros contra retrocessos da crise

 

 

 

Rede Brasil Atual

As reviravoltas provocadas pela crise econômica e financeira mundial iniciada em 2008 nos últimos 30 anos provocaram uma situação inusitada para a CUT: criada em 1983, na fase final da ditadura, e em meio às crises econômicas que assolaram o Brasil e os países do então chamado terceiro mundo, a central contou com todo tipo de apoio de sindicatos da Europa em seu difícil começo. Agora, consolidada como a maior central sindical do Brasil e da América Latina e a quinta maior do mundo, a entidade brasileira foi convocada para ajudar as parceiras europeias, que atravessam uma grave ameaça de retrocesso em meio a ataques das classes empresariais e de governos, que têm adotado fórmulas de austeridade que cortam salários na tentativa de reverter o quadro de déficit.

Segundo o secretário de Relações Internacionais da CUT, João Antonio Felício, por conta da crise econômica que castiga a maior parte dos países europeus, os índices de trabalhadores sindicalizados naquele continente baixaram para minguados 7% em algumas das nações mais afetadas, como Espanha e Grécia, dois dos países que sofrem com as mais altas taxas de desemprego, superando a casa de 50% entre os jovens.

Exceto pela situação do movimento sindical na Alemanha, aponta Felício, o quadro para os trabalhadores europeus tem se degradado tanto nos últimos anos a ponto de a classe empresarial conseguir brecar a realização de um congresso da Organização Internacional do Trabalho (OIT), órgão das Nações Unidas (ONU), por não concordar com uma lista que denominava quais os países europeus que não respeitam um dos direitos mais básicos do trabalhador: a greve.

“Estamos vivendo uma situação bastante atípica no mundo atualmente em relação ao trabalho e aos trabalhadores. A Europa, que sempre teve uma classe trabalhadora forte, sindicatos e centrais fortes que nos ajudou muito no início da CUT, agora vive uma situação de ataque profundo, O continente tem cerca de 85% de trabalhadores não sindicalizados e nos últimos anos não têm conseguido sequer repor perdas salarias com inflação, por exemplo”, afirma.

No auge do neoliberalismo comandado pela dama de ferro da Inglaterra, a então primeira-ministra Margaret Tchatcher (1979-1990), e Ronald Reagan, presidente dos Estados Unidos entre 1981 e 1989, mesmo com avanços das forças liberais, politicas e econômicas sobre os trabalhadores europeus, os índices de sindicalização e os ataques contra as conquistas históricas não avançaram. “Os ataques contra os trabalhadores têm partido não só por parte das empresários, mas também de governos. É a primeira vez que conseguem impedir um congresso da OIT por não concordar com uma lista que nomeava os países que desrespeitam o direito de greve”, aponta Felício.

Na auge do neoliberalismo, no Brasil e na maior parte dos países da América Latina, os países tentavam se recuperar de duas crises mundiais causadas por choques de escassez de petróleo, muitos recomeçavam frágeis democracias depois de décadas de ditadura e os conflitos entre trabalhadores eram tensos. Na sexta-feira (09) fez 24 anos que três metalúrgicos da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) em Volta Redonda (RJ) foram assassinados com golpes de baioneta nas costas por soldados do Exército. Nos anos 1990, os ataques contra os trabalhadores no Brasil também foram intensos durante o governo de Fernando Henrique Cardoso.

Agora, porém, a situação se inverteu. Nesta quarta-feira (14) a CUT e as outras centrais sindicais vão fazer manifestações em frente das embaixadas, consulados e representações diplomáticas da Espanha, Portugal, Grécia e Itália contra os ataques que os companheiros europeus estão enfrentando. Os atos vão acompanhar a greve geral organizada naqueles países.