“A Petrobrás diz que contrata serviços, não trabalhadores”, afirma coordenador da Conticom no Comperj.
A paralisação das atividades no Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), maior obra já realizada pela Petrobrás e parte do Programa de Aceleração do Acrescimento (PAC), demonstra mais uma vez que a expansão do mercado de construção está de longe de combinar com a ampliação dos direitos aos trabalhadores do setor.
Nesta quarta-feira (7), a adesão à greve que começou na última segunda (7) atingiu 10 mil operários e já envolve todos os ramos da construção dentro do empreendimento. Os operários exigem a equiparação salarial com quem executa as mesmas funções em outras empresas da região, a exclusão da coparticipação nos planos de saúde – os consórcios contratados pela Petrobrás cobram 25% do valor das consultas e exames – e garantia de passagem e de ida e volta para aqueles que não são do Estado.
Sem acordo, haverá uma audiência de conciliação nesta sexta-feira (11), no Tribunal Regional do Trabalho (TRT). Uma assembleia também está marcada para a próxima quarta-feira (16).
A arte de fugir da responsabilidade
A situação escancara ainda o problema provocado pela terceirização: os acordos fechados com a contratante direta, nesse caso, a Petrobrás, muitas vezes não são cumpridos pelas terceirizadas, que adotam também uma postura truculenta e não aceitam dialogar.
“O consórcio não quer negociar e a resposta do sindicato patronal foi a ação no TRT. Acredito que eles estão esperando para ver o que vai acontecer lá. Iremos aproveitar para cobrar uma postura da Petrobrás, que está envolvida nesse processo”, afirma o presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil e Mobiliário de São Gonçalo, Itaboraí e Região, Manoel Vaz.
O coordenador do Grupo de Trabalho da Montagem Industrial da Confederação Nacional dos Sindicatos de Trabalhadores nas Indústrias da Construção e da Madeira (Conticom), Amilton Santos, alerta, porém, que a postura da estatal não é nada animadora.
“A Petrobrás diz contrata serviço, não trabalhadores. Ou seja, eles não se envolvem nesse problema”, aponta.
Segundo ele, a alegação é que as terceirizadas poderiam reclamar de interferência e exigir o aditamento dos contratos.
Data-base – As terceirizadas ressaltam também que a data-base dos trabalhadores é em fevereiro e por isso não seria correto abrir qualquer negociação neste momento. Justificativa rechaçada pelos sindicato. “A gente não mede o valor da produção ano a ano e sim todo dia. A condição hoje é diferente do que era em fevereiro do ano passado, a conjuntura do mercado também. E é muita cara de pau deles dizerem isso porque a mesma empresa que paga R$ 1.800 para um montador de andaime no estaleiro paga aqui R$ 1.300 aqui”, comenta Vaz.