Às vésperas da data-base, em 1º de maio, os trabalhadores da construção em Rondônia deram uma amostra do que os patrões podem esperar. Na manhã desta segunda-feira (23), as assembléias nos canteiros de obras do Terminal Aquaviário de Barra do Riacho (TABR), em Aracruz, e da 8ª Usina da Vale, em Vitória, decidiram pela greve.
No caso do TABR, pela continuidade da paralisação, já que desde o último dia 29, a construção do complexo, sob responsabilidade da Mendes Júnior, contratada pela Petrobrás, foi suspensa por conta da demissão da comissão de trabalhadores e pela recusa da empresa em receber as reivindicações.
Por lá, a proposta de abono de somente metade dos dias parados (clique aqui para conhecer a pauta completa) não passou pelo crivo da base e agora o Sindicato dos Trabalhadores na Indústria da Construção Civil do Espírito Santo (Sintraconst-ES) volta à mesa de negociação com os empresários.
Já na capital capixaba, os operários recusaram 11% de reajuste salarial e R$ 300 na alimentação (leia mais abaixo).
A terceira assembleia prevista para acontecer, com os operários da mineradora Samarco, foi adiada para quarta (25) devido ao temporal no município de Anchieta que inviabilizou a mobilização.
Não, não, não
Conforme previsto, a primeira cartada dos patrões no TABR foi rechaçada. A decisão de elevar o salário em apenas 10% e oferecer R$ 250 no cartão alimentação recebeu um sonoro “não” da assembleia. Diante da recusa, o Sintraconst-ES convocou os empresários dos consórcios formados por Niplam, SMI, Metalúrgica União e MCE, responsáveis por tocar a obra, para negociar, enquanto os trabalhadores aguardavam. Porém, os novos valores discutidos no refeitório da Vale foram pouco generosos: 11% de aumento e R$ 300 no cartão.
Ao mesmo tempo em que o presidente do sindicato, Paulo Peres, o Carioca, anunciava no microfone o que os patrões estavam dispostos pagar a categoria gritava “não, não, não” e “15 e 400”, em referência a um aumento de 15% no holerite e mais R$ 400 no vale. Sem acordo com as empreiteiras, a greve tornou-se inevitável.
“Vamos agora chamar os empresários e esperamos que de hoje para amanhã tenhamos algo melhor”, aponta Carioca.
Índices – Os números indicados pelos trabalhadores levam em conta, principalmente, a convenção coletiva das usinas hidrelétricas de Rondônia, assinada no último dia 19, e que rendeu um aumento de 13%, e a elevação de 14,13% do salário mínimo neste ano.
Para o vice-presidente da Confederação dos Trabalhadores da Indústria da Construção e Madeira (Conticom), Luiz Queiroz, o fundamental nesse momento de campanha salarial é manter a mobilização e levar esse clima a outros canteiros. “É essencial pautarmos as mesmas discussões de uma obra para todas as empresas, porque só assim nós vamos avançar rumo a um contrato coletivo nacional e romper o atual estágio em que trabalhadores exercem as mesmas funções, mas recebem salários e benefícios diferentes por estarem ligados a empresas diferentes no mesmo local de trabalho”, pontuou.
Preocupação idêntica tem o secretário de Formação do Sintraconst, Erci Nicolau. “Associar a negociação em todas as empreiteiras e juntar os trabalhadores para realizar a pressão e a paralisação coletiva é fundamental para ampliarmos nossas conquistas. Por isso as empresas endurecem nesse período, porque querem a desmobilização e acreditam que poderão judicializar nosso movimento”, afirma, referindo-se aos processos e multas impostos pela Justiça do Trabalho. A própria greve na Mendes Júnior deve ser julgada nesta quarta-feira (25).
Predial também afia a faca – No início da noite, uma assembleia na sede do Sintraconst-ES deliberou estado de greve. Caso os empresários não aceitem o aumento de 20% dos salários, a garantia de aviso prévio indenizado, a participação nos resultados equivalente a um salário mínimo por ano e o pagamento de 100% das horas extras durante a semana e 150% aos sábados, domingos e feriados, até o dia 1º de maio, já sabem que as obras também nesse segmento serão suspensas. “O estado de greve é um ultimato e já comunicamos que se não atender vamos dar início ao movimento paredista”, afirmou Nicolau.
Bye, bye, pelegos
A segunda-feira de lutas fechou com chave de ouro diante da notícia da cassação do Sindicato dos Trabalhadores na Indústria da Construção Pesada do Espírito do Santo (Sindopem-Es). Há 15 anos, a entidade que representa os operários de grandes obras como rodovias, pontes, estádios e viadutos, enfrentava um processo na Justiça do Trabalho apontando sua ilegalidade.
A direção do Sindopem era uma aula de ataque à classe trabalhadora, com convenções que permitem banco de horas, ao invés de pagamento de horas extras, e contratos temporários. Situação que apenas reforço a luta histórica da CUT para que a organização sindical seja livre e autônoma. “É uma vitória dos trabalhadores contra uma organização criada para proteger as empresas”, concluiu Carioca.